História de sertanejo: nasci, cresci e sobrevivi

         Foto: Ilustrativa
Nas circunstâncias atuais o senhor a quem estamos a argumentar sobre sua heroica trajetória de vida, é um sujeito a quem nos prezamos e temos o devido respeito por sua pessoa, significa ser um indivíduo de boa índole, honesto e de bom agrado, que goza de uma boa  aposentadoria e dos bens que possui, tudo fruto do acúmulo de uma longa vida de trabalho, nesta cidade de Mossoró-RN. Queima seu glorioso e precioso tempo na varanda de sua casa de praia junto com seus filhos e netos que todo final de semana vão visitar o papai/vovô, segundo o próprio, que podemos chamar pela alcunha de Zé Pequeno  fala “não sou rico mais vivo bem, não tive a sorte de nascer em família importante mais sobrevivi comendo pelas beiradas”.

Pois bem, em sua casa de taipa na comunidade mais conhecida como “Coconhas”  ao longe com vista panorâmica da serra de João do Vale e do creca, não sabemos ao certo  se essa localidade pertencia ou pertence a Campo Grande/Janduís ou Caraúbas-RN, mais sabemos que a região está encravada no semi-árido Nordestino terra seca de rachar no período de estiagem sem fim.  João Pequeno levantava ás 4:00 horas da manhã, a primeira tarefa do dia era carregar água da cacimba funda, que é (poço relativamente profundo cavado pela população local no assoalho seco de um rio ou próximo da beira de um córrego que fica minando água o suficiente que possa abastecer  as famílias do vilarejo)  O Galão (duas latas de querosene 18 de litros, duas corda e um pau forte) assim, com essa estrutura falha o sujeito carregava no ombro  dando várias caminhadas por dia, imagine para um garoto de apenas 9 anos de idade é um peso exagerado sem sombra de dúvida, é importante salientar que a necessidade e a dificuldade de não ter o precioso líquido na porta, água encanada, o obrigava a tomar tal atitude, se assim não fizesse era pêa na certa, o castigo mais comum da época década de 1940.

Além de ter que encher os potes de água todos os dias no galão, o garoto teria ainda que cortar a lenha do fogo para a mãe preparar a comida do almoço e jantar, sendo que ainda  no período chuvoso teria que ajudar o pai na roça ex: cortar a terra com a capinadeira, plantar, capinar, colher etc. Estudar! Nem pensar, o que importava era  o trabalho caseiro na  produção dos alimentos, pegar nos livros é coisa de gente rica.

O trabalho nesse tempo era basicamente de forma rudimentar de maneira que não havia nenhuma pespectiva de crescimento econômico para os menos abastardo, mudança de vida pra viver que nem gente da cidade era praticamente impossível para quela gente. A vida era dura e é uma só, trabalhar é o que importa. Além de João Pequeno a família tinha mais 6 irmãos menores, que o velho pai assim que encontrou uma mulher nova e sassaricada, desavergonhada do lugar, logo mudou-se com a dita cuja, e foi embora para nunca mais voltar, safadeza sempre existiu.


A meninada, todos pequeno como relatado, ficamos todos com a mãe sem praticamente nada, sem o chefe de família um pilar se quebrou e se já era ruim ficou pior, a falta de orientação do pai que se foi nos desorientou por completo, a produção de alimento caiu em consequência a família passou a ter sérias dificuldades, a fome e o desespero tomou  conta de nós.

Para João Pequeno até então com talvez 10-11 anos, não haveria muito  que fazer  a não ser, caminhar, trilhar, novos caminhos, cortar chão, ir embora, tentar de alguma forma procurar recursos aonde tiver se possível tentar ajuda em outro lugar, o choro da criançada naquela casa de taipa no meio do nada era terrível.

E assim foi feito, o menino destemido e aconselhado pelos os mais velhos da terra deram rumo, e seguiu estrada afora, sem lenço sem documento, no rumo da venta como diz a história de quem nada tem, só com a coragem e a vontade de viver. 

De tanto bater porteira das fazendas donde passava e de muito NÃO quando pedia guarida, morada etc. O menino magro e alto aparentando mais da idade que tinha mesmo assim não encontrava apoio, já que naquele tempo os proprietários de terras que eram os ricos de então, precisavam de homens fortes de músculos grande e que aguentasse o tranco (trabalho forçado) com experiência de trabalho e aquele menino só tinha meia idade pra a exigência de então. João Pequeno, aparentemente sofrível de tanto passar fome e sede e apresentando cansaço sobre o sol ardente no semi-árido Nordestino pensou até em voltar pra casa “mais não, tenho que continuar Vê o que pra casa de mãe? Pensou.

Certo momento chega na terra prometida digo, indicada por moradores de outrora. José Viana homem rico e próspero bastante conhecido pelas bandas dos Sertões do alto Oeste Potiguar terra seca mais o açude estava cheio e tinha fartura, no Sítio plantação a perder de  vista, todo tipo de fruta por detraz da parede do açude tinha por lá assim, partir para a Fazenda, casa  grande, já tinham me falado que aquele rico homem era bondoso, gostava de gente que queria trabalhar, acolhia os que por lá aportavam em busca de trabalho, muita terra produtiva, sempre tinha o que fazer nas cercanias daquelas terras desse afortunado homem, sabia que era homem de bom coração mesmo sem ainda ter conhecido um dos poucos que existia  pelas aquelas bandas pois, sabíamos que os seus vizinhos de terra eram mals falados, eram sujeitos rudes “Coronéis” mandatário que acoitavam pistoleiros de toda qualidade gente ruins  que vinham de toda a região  e que também esses fazendeiros se aproveitavam do trabalho desses fulanos e dos pobres trabalhadores inocentes que chegavam a procura de alimentos, mais seu Viana não era assim não o rico e bondoso fazendeiro tinha algo de bom, mais humano  “logo pensei, é aquí que eu vou ficar”.

Portanto, cheguei, chamei, me apresentei, diante de seu Viana. O mesmo com olhar fixo e desconfiado “confiando” ou não na minha capacidade ou  me achando incapaz talvez de assumir um trabalho árduo que era na fazenda, João Viana tentava ler meus pensamentos, ver meu futuro, sujeito experiente que era não errava uma. Por ter herdado a fazenda do seu pai a muito já lhe dava com peões brabos, com seu olhar arregalado entendia, sabia perfeitamente separar o bem do mal quero dizer o elemento que prestava e o que não prestava assim, fiquei fui aceito, sobrevivi naquelas terras,  de um tudo fazia um pouco, cuidando do gado e depois das plantações de arroz as vezes trabalhava de dia e de noite fui ganhando confiança do dono, sair, do nada ao capataz da fazenda, fui homem de confiança do patrão e com o passar do tempo passei a comandar mais de 80 homens (trabalhadores braçais) no período da colheita,  fazia pagamentos e tudo mais que desejassem .  permaneci durante 24 anos com seu Viana, só sair de lá após sua morte quando outro mandão apresentou-se por dono (O Genro).

De novo, segui meu extinto com a mão atrás e a outra também atrás, tomei rumo da “cidade grande” a procura de uma nova vida em busca da sorte,  não mais sozinho como antes agora, com 34-35 anos e esposa e quatro filhos, não podia fazer como meu velho pai fez, aconteça o que acontecer com minha família sempre estarei enfim, até hoje não tenho do que me queixar  esses meninos (as) só me trouxeram alegria, O resto conto depois.

Escrito por: Iram de Oliveira, Profº de Geografia

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