Muito já se falou
sobre os vários tipos de inteligência, mas todos esquecem de procurar entender
as diversas formas de burrice, mesmo sendo elas absurdamente constantes em
nossas vidas.
Para começar, é bom
frisar que a burrice é alheia à formação educacional das pessoas. Muitos
letrados, com vários e vários diplomas, mantém intacta sua burrice. Além disso,
a burrice pode não ser simplesmente um pecado, mas uma característica até
justificável, já que os ditos “intelectuais” menosprezam aqueles que não
entendem certas formas de expressão. Por exemplo, há gente que faz pose para
falar sobre os chamados filmes de arte, normalmente feitos por cineastas
iranianos, alemães ou do leste europeu. O único detalhe é que estes filmes
normalmente são chatos demais, servindo mais como soníferos do que como
diversão ou fonte de reflexão. Duvido que alguém durma em filmes do Steven
Seagal ou outro brutamente do mais puro cinema hollywoodiano, por exemplo.
Todo mundo, por
ignorância e não por burrice, considera que burro é aquele sujeito que não
aprende nada e só fala besteiras. Concordo que existe uma multidão de pessoas
assim, que entendo sofrerem de burrice congênita, mas limitar a burrice a esta
forma de expressão seria também uma forma de burrice.
Uma das formas mais
interessantes de burrice é a burrice emocional. Esta burrice se manifesta
quando uma situação nos foge ao controle. É difícil sabermos o que falar quando
temos que consolar pessoas que perderam entes queridos. Aí vem aqueles dizeres
do tipo “foi melhor assim” ou “ele descansou”. Aí
eu pergunto, melhor para quem e/ou descansou do quê? Mas, esta não é a única
forma de verificarmos a burrice emocional. Em outros momentos “de crise”,
geralmente fazemos a coisa errada, principalmente se o pânico nos assola. Já vi
gente fazer juras e promessas estranhíssimas durante assaltos ou em elevadores
enguiçados, por exemplo, perdendo total medo do ridículo. Para ilustrar tais
momentos, eu tenho uma amiga que estava fazendo as unhas dos pés num salão de
beleza que, repentinamente, foi assaltado. Os assaltantes roubaram apenas o
caixa do salão e rapidamente foram embora e, mesmo que nada lhe fosse roubado,
ela saiu de lá, sem os sapatos, correndo feito uma louca pelo meio da rua sem
nem tirar os algodões que estavam entre seus dedos. Com medo de novo assalto e
vergonha pela cena protagonizada, ela nunca mais voltou ao salão para buscar
seus calçados.
Outra forma de
burrice é a comportamental, que se manifesta naquelas pessoas que não sabem se
comportar em sociedade de forma normal, agradável. Aqueles assolados por esta
forma de burrice fazem piadas fora de hora, sendo sempre inconvenientes, são
mal-humorados, chatos e detestados por todo mundo e acham que estão certos
sendo assim. Estas pessoas ainda afirmam que “quem gostar de mim terá
que me aceitar como eu sou”. Só que pouca gente aceita isto. Já vi casais
deixando de ser convidados a festas ou reuniões de amigos por conta de um dos
dois ser extremamente chato ou desagradável. Se ser assim não é burrice, então…
Também existe a
burrice sentimental ou afetiva, muito presente nos momentos mais desejados de
nossas vidas. Quem nunca ficou sem saber o que dizer à pessoa amada em momentos
mais picantes ou até delicados, por exemplo? É aquela máxima, “se não
sabe o que falar, não fale nada!”. Eu mesmo passei por uma situação dessas.
Uma vez, ao encontrar uma pretensa namorada num shopping center em nosso
primeiro e único encontro, senti um forte cheiro de maçã verde. Eu detesto
perfumes desse tipo, e, pensando ser o cheiro (fedor) oriundo de uma perfumaria
que tinha ao lado, reclamei, dizendo que detestava aquele cheiro enjoativo. Só
não imaginei que fosse ela que estivesse usando aquele maldito perfume. Poucas
vezes vi alguém ficar tão sem jeito como aquela moça, que também não sabia o
que me dizer, além de “sou eu quem está usando o perfume”. Foi
horrível! Não havia nada que eu pudesse argumentar para resolver aquele absurdo
mal-estar. Também tem as pessoas que não sabem lidar com seus sentimentos e têm
medo de amar e sofrer por conta disso. Deixar que este medo destrua de modo tão
desastroso uma relação é, no mínimo, estupidez. Neste caso, não há argumento
que possa vencer tais obstáculos.
Podemos ainda
perceber a burrice política, até porque estamos vivendo um desses momentos.
Nossa presidente e alguns de nossos governadores e prefeitos estão vivendo o
máximo de suas burrices, dando declarações desastrosas e não sabendo lidar com
a situação presente. Nunca imaginaram que os brasileiros superassem sua burrice
cívica e política e passassem a cobrar por decência, moralidade e honestidade
na condução da coisa pública. Não sei como estes políticos sairão dessa
situação, nem se ainda é possível saírem dela, mas o fato é que não somos mais
burros diante de tanta safadeza por aí.
Nos dias de hoje,
temos ainda a burrice tecnológica, da qual sou exemplar portador. Quando a
necessidade aperta, até que consigo aprender as novas tecnologias, mas peno um
bocado. Tecnologia não me fascina, na verdade, ela me amedronta. Sou da antiga,
que lia os livros em espécie, e não em e-books. Penso que inventam coisas só
para, de propósito, dificultar minha vida, pois adoto o lema de que não devemos
mexer em time que está ganhando. Por mim ainda teria toca-fitas em meu carro
(que aboli apenas há dois anos e mesmo assim porque enguiçou!) e usaria walkman
em minhas caminhadas. Quando usei um aparelho de DVD pela primeira vez,
acabando o filme, fiquei intrigado tentando descobrir como rebobinava o disco.
Aliás, sinto saudades do vinil e do relógio de algibeira, com a correntinha
pendurada e tudo. Pode parecer mentira, mas meu sonho de consumo é um
gramofone! Tenho um amigo fanático por tecnologias de ponta e que tem um carro
que até fala com ele, bastando apertar um botão no volante para fazer ligações
telefônicas ou trocar a música que estiver tocando, por exemplo. Parece até o
carro do Speed Racer! Eu tenho até medo de entrar neste carro e ele me
considerar um mau passageiro e me arremessar aos ares pelo banco ejetável! É,
eu tenho muito que me atualizar!
Temos ainda muitas
outras formas de burrice, como a burrice pessoal, que é quando,
lamentavelmente, não nos aceitamos como somos. Posso não ter sido inteligente o
bastante ou burro o suficiente para conseguir perceber todos os tipos e formas
de burrice, até porque, como humanos, conseguimos sempre nos superar em
originalidade e novas tendências comportamentais. Percebo assim que atualmente
vivemos num mundo cada vez mais exigente, que nos impõe reflexão e presença de
espírito a todo instante. Temos que aprender, mesmo contrariando nossas vontades
e convicções, a superar nossos limites e enfrentar o novo a todo minuto. Há
cada vez menos espaço ou momento para a burrice, seja ela qual for. Hoje em
dia, até para sermos burros, temos que ser inteligentes.
Por: Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De
formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por
necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e
sociológicos. Ama o questionamento.
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