Lei é lei: infringir-las botava seu nome na boca do leão

   Por: João Oliveira
A Europa do século XIV adotou uma prática para denúncias contra pessoas que fugiam às regras estabelecidas pela moral da época: aqueles que praticavam atos que infringiam a conduta e as regras impostas pela Igreja e acatadas pelo Estado, através de seus reis, deveriam ser investigados e punidos.

As mais diferentes denúncias eram colocadas por escrito nas bocas dos leões, esculturas de mármore ou metais nobres espalhadas pelas ruas das cidades como símbolo de poder e força. Os mais diferentes tipos de denúncias ocorriam, como:“Fulano, que reside na casa n° 08 da Rua Oliveira é sodomista”“Ciclano, filho de beltrano, está proclamando a má fé e heresia”. As investigações poderiam acarretar em sentenças de prisão e morte.

Uma destas denúncias, feita na boca do Leão, quase levou Leonardo Da Vinci à morte por execução quando tinha 24 anos de idade. Ele ficou preso por dois meses até que o tribunal, por falta de provas, foi obrigado a libertar o criador da Mona Lisa, mas após isto, ele ficou dois anos em clausura por vergonha ou desgosto.

A frase associada a esta prática e que intimidava as pessoas era: “Você quer que seu nome vá parar na boca do leão?”. Um modo de atemorizar os vizinhos, os conhecidos, os desafetos e controlar o comportamento em sociedade para manter uma ordem estipulada, uma vez que ninguém queria ter seu nome investigado em uma denúncia feita “na boca do leão”.

Qualquer pessoa podia denunciar, bastava apenas apontar a pessoa acusada e seu desvio à norma e moralidade vigentes em um pedaço de papel escrito, inserindo-o na boca de um dos leões espalhados nas praças públicas. Muitas mortes decorreram em função de delatores que faziam os mais diversos tipos de acusações.

Imagine se esta prática fosse importada para o Brasil, à época da instalação da corte portuguesa, se tal prática também fosse instalada, seria de forma um pouco diferente. Nas praças poderiam ser dispostas várias estátuas de sapos com a boca aberta – já que o sapo têm a boca grande e mais denúncias caberiam ali. Desta forma, as pessoas poderiam denunciar aqueles que tinham comportamentos diferentes dos estipulados pela corte e pela Igreja e, conhecendo um pouco da mentalidade do nosso amado povo, o resultado seria igualmente diverso de seu precursor do leste.

Podemos imaginar que tal intento não seria um sucesso como na Europa, pois todo tipo de denúncia poderia surgir em prol da supervalorização de si mesmo e em detrimento dos desafetos. Vizinhos e pessoas em disputa, poderiam colocar os mais absurdos na “boca do sapo”: “Fulano tomou banho fora do horário”“Ciclano fez uma oração diferente”“Beltrano não foi trabalhar hoje”. O Estado teria mais problemas para se preocupar do que de fato precisava. As denúncias, na maioria das vezes seriam infundadas, isto iria demandar pessoas para investigações que, em nada poderiam resultar. Logo, a “boca do sapo” seria destituída.

Contudo, conhecemos um ditado popular: “Vou colocar seu nome na boca do sapo”. O que isso significa nos dias atuais? Que uma pessoa não satisfeita com a ação ou inação de outra deseja retirá-la de seu caminho e acredita que através da difamação do nome de tal pessoa terá sucesso pessoal. Dizem que até que feitiçarias podem ser feitas costurando o nome da pessoa dentro da 
boca de um sapo cururu.

Na vida particular como no ambiente corporativo, a difamação acerca de uma pessoa, ou a famosa fofoca, apenas cria condições para a perda de tempo com a criação e a produtividade, promovendo a falta de confiança e um clima desfavorável para a edificação das boas ideias e seu compartilhar.

Talvez fosse preciso, nos dias atuais, criar uma nova metáfora que alinhe a confiança, o crescimento e o trabalho em equipe. Uma gestão por confiança requer cooperação, um desejo de conhecer e compreender o outro. Algumas habilidades como: comprometimento, confidencialidade e cumplicidade.

Vamos criar um leão forte para nos auxiliar hoje! Um leão dos elogios e das qualidades, que possa elevar todos do corpo funcional. Um leão que funcione como uma ferramenta para a elevação da confiança e do comprometimento. Se o leão é o símbolo da força, o rei dos animais, por que não usá-lo então para a edificação da confiança?

A confiança é a base para que tenhamos ambientes propícios à produção e ao crescimento. Então, podemos dizer que: colocar o nome na boca do leão, não significa invasão da privacidade alheia ou quebra de um sigilo individual, mas o estabelecimento de um vínculo de confiança para que haja crescimento através do comprometimento entre pessoas que desejam deixar sua marca no mundo com seu trabalho.

Por: João Oliveira é psicólogo (CRP 05-32031) e professor universitário com mestrado em Cognição e Linguagem pela UENF-RJ, também tem formação em Publicidade e é diretor de Cursos do ISEC – Instituto de Psicologia Ser e Crescer com sede no Rio de Janeiro. – E-mail para correspondência: oliveirapsi@gmail.com . Autor do Livro: “Saiba Quem Está á Sua Frente” pela WAK-Editora.



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