Por: Fernando Gabeira
Mais de 400 mil pessoas morreram desde o início do conflito em 2003, em
bombardeios, incêndios e outras ações bárbaras que violentam mulheres, velhos e
crianças nesse rincão africano. Para piorar o conflito, o desequilíbrio
ecológico amplia a seca, e os rebeldes de Darfur disputam comida e água a balas
Meninos esquálidos,
uma terra amarela, tendas e árvores ressecadas. Esse é o retrato que conhecemos
do povo de Darfur, mas o campo de refugiados que vem captando a atenção do
planeta é apenas o epicentro do drama. Mais de 400 mil pessoas já morreram
desde 2003, início do atual conflito, e cerca de 2,5 milhões abandonaram essa
província sudanesa, com 6,5 milhões de habitantes, espalhados numa extensão
equivalente à da França. Só para o Chade, país de fronteira, já se dirigiram
200 mil desabrigados.
O conflito é basicamente interno e envolve as
principais tribos que compõem Darfur, a disputa tem contornos ampliados pela
crise ecológica. O deserto de Saara avança por áreas de cultivo e reduz
dramaticamente o acesso à água. A luta por espaço vital é a primeira dimensão
contemporânea da tragédia. A segunda pode ter nuanças econômicas: Darfur está
situada no oeste do maior país da África, o Sudão, que tem petróleo em grande quantidade,
a ponto de ser comparado com a Arábia Saudita (clique e veja o quadro). Além disso,
possui gás natural, urânio e cobre. É um território cobiçado, onde os chineses
já estão presentes explorando 60% do petróleo e interessados em outros
minérios.
A superfície
arenosa oferece o cenário para cenas de horror, em que milícias montadas a
cavalo e camelo põem fogo em vilarejos e templos, confiscam gado e matam
crianças e velhos. As mulheres que sobrevivem se tornam prisioneiras e
denunciam a organizações como o Human Rights Watch que vivem sob exploração
sexual, submetidas a estupros diários. além do mais, milicianos usam facões e machados para mutilar pessoas inocentes.
A região tem rios,
montanhas e também algumas cidades, como Nyala. Um camponês chamado Awad perdeu
sua casa e plantação e internou-se com a mulher num campo de refugiados. Todos
os dias, ele caminha até a cidade em busca de emprego. "A maioria fica nos
abrigos porque já está muito velha e cansada para seguir lutando", revela.
O país já passou
por outras guerras civis, uma delas opondo o norte muçulmano ao sul cristão e
animista. Darfur, em árabe, significa terra dos fur, uma das tribos da região.
As outras são os masalits e os zaghawas. Há quatro anos, sentindo-se
abandonados pelo governo, dois grupos distintos, o Justiça e Liberdade e o
Exército de Libertação do Sudão, se lançaram na luta armada contra o poderio de
Cartum, a capital sudanesa.
Os rebeldes afirmam
que o governo central privilegia as tribos árabes e empobrece as outras. Muitos
pensam que a guerra em Darfur é entre muçulmanos e não-muçulmanos, como houve
no passado. Agora, a maioria é muçulmana, e o distúrbio pretende questionar o
poder dos árabes também na cúpula do governo.
Instalado o
conflito, o Exército atacou a região. O modelo bélico era lançar bombas do alto
e deixar que, no solo, as milícias destruíssem os adversários. Essas milícias
são os janjaweeds, guerreiros muçulmanos recrutados nas tribos árabes. Segundo
vítimas, eles usam fardas do Exército sudanês. Como estão sempre montados,
ganharam esse nome, que significa cavaleiros em árabe.
Já houve uma
tentativa de paz numa conferência em Abuja, na Nigéria. Tudo parecia resolvido,
e um dos líderes do Exército de Libertação do Sudão, Minni Minnawi, chegou a
assinar o documento de trégua, mas os outros setores do seu grupo se recusaram
a apoiá-lo.
Por: Fernando Gabeira
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