Por: Antônio Augusto de Queiroz
“O índice de renovação está sempre associado ao
ambiente político. Quando o ambiente é de crise, com escândalos, como o atual,
a renovação aumenta. Quando o ambiente é de relativa estabilidade, o desejo de
mudança diminui”, explica colunista
As eleições para a Câmara dos
Deputados, objeto de desejo dos partidos políticos, devem ser das mais
concorridas e com um índice de renovação superior à média histórica, pelas
razões a seguir.
Em primeiro lugar, porque os
partidos, interessados nos recursos do fundo partidário e na ampliação da
propaganda eleitoral gratuita, ambos calculados com base no desempenho para a
Câmara, têm priorizado o recrutamento de quadros e lideranças com o objetivo de
aumentar suas bancadas de deputados federais.
Em segundo lugar, porque as
manifestações de junho e julho de 2013 demonstraram a insatisfação com a atual
representação política, especialmente com a Câmara, cuja imagem está muito
negativa, tanto pelos escândalos de corrupção, quanto pela absolvição do
deputado presidiário Natan Donadon (ex-PMDB-RO), além do fraco desempenho no
atendimento da agenda que motivou os protestos.
Em terceiro lugar, porque muitos
dos atuais parlamentares devem desistir da tentativa de reeleição, seja pela
desilusão com o Parlamento, seja pelos elevados custos de campanha, de imagem e
desgastes no exercício do mandato.
A média de desistência, nas
últimas seis eleições (1990 a 2010), ficou em torno de 19%, segundo
levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Isso
significa que, dos 513 deputados, 97, em média, desistiram da reeleição, seja
por desencanto com o Parlamento, por simples inviabilidade de renovação do
mandato, seja para concorrer a outros cargos.
Em quarto lugar porque o índice
de renovação está sempre associado ao ambiente político. Quando o ambiente é de
crise, com escândalos, como o atual, a renovação aumenta. Quando o ambiente é
de relativa estabilidade, o desejo de mudança diminui. A seguir uma
tabela com o histórico de reeleição nas últimas seis eleições para a Câmara dos
Deputados.
Histórico de
renovação na Câmara dos Deputados
1990 a 2010
Ano da eleição
|
Composição da Câmara no ano da
eleição
|
Nº de candidatos
à reeleição
|
Índice de recandidatura
|
Nº de reeleitos
|
Índice de reeleição¹
|
Nº de novos
|
Índice de renovação²
|
1990
|
495*
|
368
|
74,34%
|
189
|
51,35%
|
306
|
61,82%
|
1994
|
503**
|
397
|
78,92%
|
230
|
57,93%
|
273
|
54,28%
|
1998
|
513
|
443
|
86,35%
|
288
|
65,01%
|
225
|
43,86%
|
2002
|
513
|
416
|
81,09%
|
283
|
68,02%
|
230
|
44,83%
|
2006
|
513
|
442
|
86,16%
|
267
|
60,41%
|
246
|
47,95%
|
2010
|
513
|
407
|
79,33%
|
286
|
70,76%
|
227
|
44,25%
|
*A transformação dos
territórios do Amapá e Roraima em Estado aumentou em oito deputados a
composição da Câmara que, na Legislatura de 1991-1995 passou de 495 para 503
deputados.
** Na Legislatura 1995-1999
passou de 503 para 513 deputados, em razão de lei complementar que aumentou a
bancada de São Paulo de 60 para 70 deputados.
¹ O índice de reeleição da
Câmara considera apenas os deputados no exercício do mandato que são
candidatos à reeleição.
² O índice de renovação é
calculado na composição total da Câmara.
|
Fonte: Diap
– Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
Apesar das vantagens comparativas
dos candidatos à reeleição em relação aos candidatos que não estão no exercício
do cargo, a renovação tem sido elevada, mesmo para os padrões brasileiros. Na
maioria dos países, a renovação, em média, é inferior a 10%, especialmente nos
países em que se pratica o voto distrital.
O candidato à reeleição, além do
nome e do número já conhecidos e de uma relação de serviços prestados às suas
bases eleitorais, tem a seu favor cabos eleitorais fidelizados — muitos dos
quais contratados nos gabinetes — e a estrutura fornecida pelos legislativos
para o exercício do mandato.
Entre as vantagens, podemos
apontar: a) as emendas individuais, cujo valor anual supera R$ 10 milhões de
reais; b) a quota entre R$ 30 e R$ 38 mil reais por mês para despesas diversas
do mandato, como passagens áreas, telefonia e material de expediente,
consultoria, hospedagem, impressão de material, combustível, locação de
veículos e aluguéis de escritórios políticos etc; c) verba de R$ 78 mil
mensais para a contratação de pessoal no gabinete e no Estado de origem e
d) poder, prestigio e acesso aos veículos de comunicação.
No pleito de 2014, apesar da
dificuldade de reeleição ser geral, inclusive pelos estratosféricos custos de
campanha, alguns segmentos terão mais dificuldades, caso não haja um
engajamento efetivo dos representados. Entre estes segmentos, destacamos os
parlamentares da bancada sindical, que têm priorizado a defesa dos interesses
dos trabalhadores, servidores e aposentados e pensionistas, mas não têm sido
correspondidos em termos de apoio nos pleitos eleitorais.
A grande renovação, entretanto,
não significa que a mudança seja qualitativa. Isso reforça a necessidade de o
eleitor, desde já, começar a analisar os perfis e trajetória pessoal, profissional
e política dos potenciais candidatos, para que a renovação não seja apenas
quantitativa, mas, principalmente, qualitativa.
Por: Antônio Augusto de Queiroz, Via:
Congresso em Foco
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