Não é tijolo que
educa. Escolas podem ser reformadas e ampliadas, quadras poliesportivas construídas,
computadores de última geração instalados, e ainda assim a qualidade de ensino
continuar sofrível porque a chave para a boa educação está no professor. Por: Tom Coelho
Ser professor neste
país já foi símbolo de status. Contudo, pesquisa realizada em 2009, pela
Fundação Carlos Chagas, encomendada pela Fundação Victor Civita, apontou que
apenas 2% dos universitários escolhem o magistério como primeira opção de
carreira. Pior, os que o fazem estão entre os 30% de estudantes com pior
desempenho escolar que usam a licenciatura e a pedagogia como mera porta de
entrada para o nível superior, haja vista serem cursos pouco disputados.
Em contrapartida,
na Finlândia, meca do ensino no mundo, para abraçar a carreira de docência o
candidato deve estar entre os 20% melhores alunos. Em Cingapura, outra
referência, apenas os 30% melhores são aceitos. A lição é simples: o caminho
está em selecionar os professores com maior potencial, valorizá-los e extrair o
máximo deles.
Neste debate, o
salário sempre surge como um dogma. O detalhe é que estudos diversos, inclusive
do exterior, desmistificam esta assertiva, comprovando a inexistência de uma
correlação direta entre salários maiores e melhor qualidade de ensino. Mas é
fato que a questão salarial exige que o profissional acumule vários empregos,
tendo menos tempo para capacitação e preparação de aulas. E não se pode
negligenciar que a remuneração é um forte atrativo. Afinal, um professor da
rede pública, em São Paulo, atinge ganhos mensais da ordem de R$ 4.000,00,
incluindo bônus por desempenho, após anos de exercício da profissão, o que
representa apenas 15% da bagatela que juízes, e agora também parte do
legislativo, recebe. É para fugir do magistério.
Contudo, o maior
problema do corpo docente não é o salário, e sim o despreparo, a falta de
vocação e interesse em lecionar, e o descrédito da categoria profissional. O
Estado brasileiro fez uma opção míope pela quantidade em lugar da qualidade.
Assim, valem as estatísticas de redução do analfabetismo, ainda que se formem
analfabetos funcionais. Vale perseguir a meta de 30% de estudantes com nível
superior, ainda que formados em universidades de fundo de quintal, que vendem
diplomas a baciada, em suaves prestações mensais. Neste contexto, ensino vira
negócio e, aluno, cliente.
Na Finlândia, o
nível de mestrado é pré-requisito para lecionar, exceção feita à pré-escola. No
Brasil, apenas 2% dos docentes no 8º ano do ensino fundamental são mestres. Na
busca pela quantidade, não é possível formar adequadamente os profissionais
mediante uma capacitação que transcenda o conhecimento técnico. Tal qual uma
residência médica, o professor precisa de respaldo empírico em sua formação.
A valorização do
professor é instrumento essencial para a melhoria da qualidade da educação. É
preciso resgatar a autoridade do docente, inseri-lo em um processo de
desenvolvimento contínuo, motivar os educadores a trabalharem por metas e
ensiná-los a inspirar os educandos. Alunos de professores ruins aprendem mal,
aprendem menos e reproduzem o circulo vicioso que já conhecemos.
Por: Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com
artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes –
Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz,
2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e
profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras.
Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.
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