Esmola, orgulho, preconceito!

Durante um trote, no meu terceiro ano de faculdade, uma cena inusitada ocorreu: um mendigo se aproximou dos veteranos e pediu que ele os pintasse para ele pedir dinheiro. Aparentemente os calouros estavam recebendo muito mais dinheiro que ele.
O que faz com que as pessoas sejam mais generosas com um calouro — que certamente tem posses, ainda que parcas — que usará aquele dinheiro para bebidas, do que com um mendigo?                   Por: Luiz Guilherme Pereira

Há várias abordagens para a questão da esmola. Alguns são da turma: “não dê esmola, dê emprego”, outros adaptam o mote para “não dê esmola, dê comida”, outros ainda gabam-se: “ele pediu dinheiro para pinga, pelo menos foi honesto, então eu dei”.

Vejo esta postura como orgulhosa e manipuladora. Eu, que tenho dinheiro, somente por tê-lo posso decidir o que o outro pode ou não fazer. Este homem está pedindo dinheiro, mas usará para beber: não darei; este outro pediu especificamente para beber: darei. Colocamo-nos como juízes dos mais pobres e, portanto, não damos realmente, não somos generosos.

É mister parar de tratar o pobre como categoria sociológica e tratá-lo como “outro”; no linguajar cristão: como “próximo”. Por que ele não arranja um emprego? Para que ele quer dinheiro? Por que pede dinheiro e não comida? Não nos interessa. Não fomos feitos juízes da consciência alheia. Ou damos ou não damos. Faríamos melhor se conversássemos com essas pobres almas, perguntando em que mais poderíamos ajudá-las.

Um homem sempre dava algum dinheiro e um ou dois cigarros a um mendigo na porta de uma igreja. Um outro homem viu o mendigo a fumar e ralhou que ele usava o dinheiro para fumar. O primeiro homem interveio dizendo ter sido ele a dar o cigarro. Porque o cara é pobre ele não tem direito a alguns prazeres? Deveria contentar-se em sobreviver?


Ao tomar grandes escalas, essa postura gera o nosso estado babá: o homem não pode dispor de todo seu salário, ou gastará tudo em pinga, e não saberá poupar; confisquemos, quer dizer, poupemos parte disso como Fundo de Garantia, confisquemos (ops!), separemos outra parte para as aposentadorias, juntemos o dinheiro de todos para oferecer serviços ineficientes “gratuitamente”.

Ora, devemos respeitar a liberdade e a consciência. Se queremos dar algo, demos, sem perguntar destino: aquilo não é mais nosso uma vez dado. Não suponhamos o pior dos outros gerando assim políticas que destrói a sociedade com desconfianças e ineficiências. E tiremos nosso orgulho do caminho, deixemos a pretensão de querer saber o que é melhor para além de nós e da nossa família. Nisso florescerão a generosidade, a ordem e a confiança que estão presentes nas sociedades sãs.

Artigo publicado no site Revista Vila Nova


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