Policia Civil completa 62 dias de greve, violência assusta no RN

Nesses 62 dias da greve da Polícia Civil, o Rio Grande do Norte já contabiliza 183 homicídios, uma média de três por dia, contando a partir do dia 6 de agosto até esta segunda-feira (7), sem que as investigações sejam encaminhadas. Apesar da paralisação, as delegacias têm feito a abertura dos inquéritos, mas todos esses crimes não estão sendo investigados, porque não há equipes, de agentes e escrivães, à disposição dos delegados de Polícia Civil. O número de homicídios é do setor de Estatística da Secretaria de Segurança e Defesa Social (Sesed) que, por meio do Instituto Técnico-Científico de Polícia do Rio Grande do Norte (Itep-RN), publica diariamente os dados no seu site. 
 Por: Felipe Galdino
Ainda segundo os boletins, 2013 já conta com 1.084 assassinatos. Só neste último final de semana foram 16 mortes. Ontem, ocorreram mais duas mortes, uma delas dentro de uma escola municipal em José da Penha, zona Oeste do Estado. Os policiais civis já têm o maior movimento de greve de sua história. Hoje é o 62º dia de paralisações sem um acordo com o Governo do Estado. E não há nenhuma sinalização de que os dois lados se entendam, o que pode piorar ainda mais a situação da violência potiguar.

Ontem o Sindicato dos Policiais Civis e Servidores da Segurança Pública do RN (Sinpol-RN) voltou à Governadoria para tentar mais uma rodada de negociações com a governadora Rosalba Ciarlini. Na semana passada, o Governo sinalizou que iria conversar com os sindicalistas, mas isso não aconteceu. Quem “ganha” com isso é a violência. “Hoje são 61 dias de greve e não houve mais contato por parte do Governo e estamos esperando isso. São 61 dias de greve e, sem investigações, o crime aumentando em todo o Estado”, afirmou ontem pela manhã o presidente do Sinpol, Djair Oliveira.

O sindicalista lembrou ainda que a greve mais longa até então havia acontecido em 2010, quando os policiais civis cruzaram os braços por 57 dias. O mais grave, como disse Oliveira, é o fato de as investigações brecarem com a paralisação dos agentes. Nesses 62 dias de paralisação, os locais de homicídios estão sendo vistos pelas equipes das delegacias de plantão, que colhem as primeiras informações e posteriormente encaminham os casos às DPs distritais. Contudo, quando chegam aos respectivos delegados, os inquéritos param.

Normalmente, com os policiais civis trabalhando, já tem sido difícil a conclusão do inquérito. De acordo com órgãos fiscalizadores da segurança pública estadual, em torno de 95% dos homicídios não são desvendados, por falta de provas técnicas. SUm levantamento recente feito pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos comprovou isso. Em 2012, dos 444 homicídios ocorridos só em Natal, somente 22 foram elucidados, um percentual de 4,95% do total. em equipe de investigação, a situação piora.

A delegada Ana Cláudia Saraiva, presidente da Associação de Delegados de Polícia Civil do RN (Adepol-RN) confirma a importância dos agentes para o prosseguimento dos inquéritos, que em dias de greve até são instaurados, mas não há andamento na investigação.

“Gostaríamos que o Governo desse prosseguimento às negociações com os policiais civis porque o trabalho deles é de suma importância. Há um prejuízo para as investigações porque os delegados encaminham à justiça os inquéritos com o réu preso [casos de flagrante], mas nos demais casos [em que não se tem o culpado] as investigações ficam paradas”, explicou a delegada.

A reportagem também entrou em contato com o Ministério Público do RN para falar com o promotor criminal Leonardo Cartaxo sobre como a falta de policiais civis interfere nas investigações e operações do órgão. Porém, por meio da assessoria de imprensa, ele informou que “não tem interesse em falar sobre o assunto”. Nenhum outro promotor foi indicado para falar com a reportagem. A TN também tentou ouvir o titular da Degepol, Ricardo Sérgio, mas não obteve resposta. 

Fonte: Tribuna do Norte


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