Uma janela para rua

Final de tarde ou amanhecer. Não importa. Mas o valor que tem estas duas aberturas para o mundo e para a vida, não tem preço. Das duas podemos ver o mundo, o tempo, as pessoas e a vida passarem. Ou desfilarem. Não importa. Mesmo. Nem se for a passos apressados ou lentos. Com pressa de chegar ou medo de ir. Basta que saibamos olhar e ver o que realmente nos é mostrado. Não aquilo que queremos ver. Porque é natural que tenhamos medo ou não tenhamos vontade de ver o que é real. Ou seria ilusão de ótica. De lembranças do passado ou esperanças do futuro. Difícil dizer. Porque as imagens se misturam em simples colagens. Não importa quem as gere. Mas elas vêm. E assim com chegam, também vão. Sem pressa nas duas situações. Se for no amanhecer poderemos perguntar o que poderá a vida trazer. Se for ao final do dia, onde deixou o que prometeu. O mais certo de tudo, entretanto, é que jamais vamos conseguir entender. Ou compreender. Por exemplo, de onde é mais fácil de ver. Da sacada. Da janela. A sacada é maior. 
Tem mais brisa. Mais sol ou mais luar. Da janela se tem a impressão que se pode fecha-la e prender o que nos interessa lá dentro. Na sacada podemos sentar e ficar curtindo o passar. Da janela só podemos emoldurar o ver. Mas e se fechando os olhos conseguirmos juntar ou colocar uma janela na sacada? E ficando ali de olhos cerrados, deixando que nossa vida desfile em nossa imaginação. Como seria bom se pudéssemos dar um fim diferente em nossos filmes. Se pelo menos tivéssemos a chance de mudar alguns capítulos. Ou até mesmo de desprezar alguns e não tê-los vivido? Poderia quem sabe ser a solução para frustrações. Mas depois iríamos descobrir que a vida ficaria sem graça. Porque em todas as histórias de ficção como na vida, existem também os vilões e mocinhos. E sem eles a nossa ficaria sem sentido de ser. Teríamos perdido a grande motivação da vida. Caminhar, andar, correr, cair, levantar. 

Aceitar os erros dos outros antes de concordar com os nossos. Mas antes, assumir os nossos antes de nominar os alheios. Esquecer as perguntas dos porquês e fazer a em que. Do porque falharam conosco, mas onde e em que nos falhamos. Uma sacada, uma janela, não importa. Desde que possamos ver a nova estação, sentir a brisa do silêncio, a voz do perfume, a paz dos sentidos. E saber que dela poderemos ver de novo a vida. Como nunca antes. Por inteira e completa.

Por: Antônio Jorge Rettenmaier, cronista, escritor e palestrante. Esta crônica está em mais de noventa jornais impressos e eletrônicos no Brasil e exterior.

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