Eles vestem tênis
de marcas famosas, bonés, camisas de times de futebol e têm telefones celulares
e outros aparelhos eletrônicos modernos, a tal ponto que, de tão integrados à
vida urbana, os índios de hoje em nada lembram as figuras estilizadas em livros
escolares.
Apesar disso, as
comunidades indígenas que vivem em áreas demarcadas pelo governo preservam seus
costumes, tradições e identidade. Mais do que isso, elas resistem ao avanço de
obras de infraestrutura no país, ao mesmo tempo em que buscam melhorias, como saúde,
educação e saneamento.
Projetos de
construção das usinas hidrelétricas de Belo Monte (Pará),
e de Teles Pires (Mato
Grosso), por exemplo, enfrentaram a pressão de ambientalistas e grupos
indígenas que habitam as regiões.
Recentemente,
conflitos semelhantes ocorreram na área urbana é Renato Salatiel a das cidades
de Rio
de Janeiro e São
Paulo.
No Rio de Janeiro,
a decisão do governo estadual de demolir o prédio onde funcionava o Museu do
Índio, ao lado do Estádio do Maracanã, mobilizou centenas de manifestantes. O
governo quer construir no local um estacionamento para a Copa de 2014. O
problema é que o imóvel é ocupado, desde 2006, por cerca de 60 índios de
diversas etnias, que batizaram as ruínas de “Aldeia Maracanã”. O caso deve
agora ser decidido na Justiça.
Em São Paulo, índios da aldeia guarani Tenondé Porã, localizada em
Parelheiros, zona sul, lutam contra as obras de ampliação de uma ferrovia,
cujos trilhos irão passar por suas terras. A aldeia possui 26 hectares onde vivem
1.100 índios há 30 anos.
A duplicação da
ferrovia ajudará a escoar os produtos do porto de Santos, o maior da América do
Sul, e, ao mesmo tempo, diminuir o número de caminhões no trânsito paulista.
Por outro lado, reduzirá ainda mais o espaço dos índios guaranis, que mantém
tradições como a caça. A tribo negocia um acordo com o governo e a empresa
responsável pela ferrovia. Eles querem, como contrapartida, uma cooperativa
para vender produtos artesanais, além de outras melhorias na aldeia.
Colonização
A maior parte das
sociedades indígenas que vivia no Brasil foi dizimada no processo de
colonização, pela força de armas, doenças ou políticas de aculturação.
Estima-se que, à época do descobrimento, até 5 milhões de índios habitavam o
país. Eles falavam 1.300 línguas diferentes, restando apenas 180.
Hoje, vivem no
país cerca de 800 mil índios (0,4% da população), segundo dados do Censo 2010.
Eles habitam 683 terras demarcadas, algumas delas em zonas urbanas. Mais da metade
dessas comunidades localiza-se nas regiões Norte e Centro-oeste, principalmente
na área da Amazônia Legal.
Segundo a Funai,
há ainda relatos de 77 tribos indígenas isoladas no país, que não tiveram
contato com o homem branco, sendo 30 deles confirmados.
Nas últimas
décadas, houve avanços nas políticas voltadas aos povos indígenas, como o
Estatuto do Índio, de 1973, e o reconhecimento na Constituição de 1988, cujo
Artigo 231 diz: "São reconhecidos aos índios sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens."
Porém, eles se
envolvem em frequentes conflitos – sobretudo nas áreas rurais – com fazendeiros,
pecuaristas e empresários que cobiçam suas terras pelos recursos naturais e
minérios. É o caso, por exemplo, da terra indígena Raposa Serra do Sol, em
Roraima, onde vivem 19 mil índios. O território é alvo de disputa com
fazendeiros e garimpeiros.
Outro elemento que
contribui para o gradual desaparecimento das tradições é o próprio processo de
globalização. De acordo com uma pesquisa do Instituto Datafolha, realizada em
julho de 2012, os índios brasileiros possuem bens como TVs (63%), geladeiras
(51%) e celulares (36%), além de terem o sonho de cursar uma universidade.
Essas questões
suscitam debates como a identidade cultural dos povos indígenas, o respeito a
minorias étnicas e os conflitos entre progresso e preservação do legado
cultural e étnico brasileiro.
Por: José Renato
Salatiel
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