Todos sabem que em
tempos medievais, ler a Bíblia era crime grave. Crime que penalizava raros,
pois só os que conheciam latim, tinham acesso ao livro; e esses eram quase
todos sacerdotes, por isso, estavam livres de castigo.
Do assunto e muito
mais, conta Mário Martins, em livro do Instituto de Cultura Portuguesa.
Mas, em tempos
quase contemporâneos, na primeira metade do século XX, ainda o acesso ao livro,
estava interdito à maioria dos portugueses.
Meu pai
asseverava, que em menino, escutara a sacerdotes: que quem tivesse Bíblia, de
capas pretas e folhas vermelhas, sem aprovação eclesiástica, devia queimar.
Eram falsas, Mas as católicas, as que tinham aprovação eclesiástica, eram
raras, e ninguém as recomendava, pelo menos abertamente.
Numa manhã de
domingo, minha bisavó Júlia, ouvindo dizer a católicos entendidos e a padres,
que as Bíblias protestantes deviam ser queimadas, meteu dois volumes, ricamente
ilustrados, editados pela Empresa Editora de Bíblia Sagrada Ilustrada – 1893,
numa saca de pano, e encaminhou-se para a sacristia da paróquia, para falar com
o abade.
O padre procurou a
autorização eclesiástica e não a encontrando, disparou:
- É
falsa….Queimar é pena!… deixe ficar comigo.
Minha bisavó era
simples, mas não parva. Meteu os volumes na saquita e retorquiu, erguendo os
ombros:
- Se servem
para o Sr. Abade, também servem para mim!
Chegou-me, agora à
memória, episódio curioso, ocorrido comigo:
Quando tinha vinte
anos, era amigo de pastor evangélico, que insistia para participar nas aulas
dominicais.
Fui, e foram bem
proveitosas. Cresci espiritualmente. Nas aulas sempre recomendava o uso de
Bíblias não anotadas, portanto evangélicas.
Certa ocasião,
convidou-me para almoçar em sua casa. Enquanto a esposa preparava a refeição,
mostrou-me o escritório.
Visionei as
estantes e descobri a Bíblia das Paulistas. Não me contive:
- Recomenda
não consultar a Bíblia católica, porque são anotadas, e afinal aqui está uma!…
Surpreendido pela
descoberta, esclareceu-me:
- Tenho
Bíblias católicas, porque são de grande utilidade: além de esclarecerem
passagens obscuras, situa-nos geograficamente. Consulto-As assiduamente.
Fiquei a saber,
que são úteis para os pastores, mas não para os fiéis!
Há seitas, que
para poderem defender pontos de vista, mudam, nas suas edições, a pontuação, e
usam traduções incorrectas. Por isso, ao adquirir uma Bíblia, não católica,
deve-se verificar se foi editada pela Sociedade Bíblica.
Nas últimas
décadas, a Igreja, anda empenhada na divulgação da Bíblia e tudo tem feito para
que os crentes façam leituras diárias, pelo menos do Evangelho.
E ainda bem que
assim é, pois é pena, que a ignorância do Seu contudo, leve intelectuais e
figuras publicas a proferirem erros crassos, quando falam de cristianismo.
Blogue
luso-brasileiro: “PAZ”
Por: Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de
1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto
Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário
diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira
Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã,
argentina, canadiana e USA, e foi redactor do jornal: “NG”.
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