A escola!

   Por: Ricardo Hirata Ferreira
É na escola real que ocorre o encontro da confusão e da paixão. Ela é o lugar de relações ricas e também pobres. É o espaço da dialética e da fenomenologia. A escola tenta sobreviver em meio a tantas contradições e tantas vozes que se juntam e se chocam. Ordens de cima e ordens de baixo que querem arrumar uma desordem social, mental e existencial. A escola é ainda (e não sei como) o lugar de conhecimentos, de falas soltas, perdidas, repetitivas e angustiadas.

O seu movimento é lento, rápido porém muitas vezes vazio, ela anda em círculos viciosos, caminha em campos movediços e por horas fica atolada sem saber o que fazer… Retrocede e se perde em inúmeras tentativas de tentar acertar. Recebe comandos de forças alienígenas que acreditam ou fingem acreditar que entendem de educação. Uma educação vista de fora, analisada com luvas estéreis e pensada para um mundo ridiculamente minúsculo em termos de imaginação.

É o lugar dos loucos e/ou dos doentes: da mania de querer controlar os indivíduos democraticamente. A escola está confusa, quer ser ao mesmo tempo: escola, presídio, depósito de gente, hospital psiquiátrico, abrigo e empresa. O governo quer sucatéa-la e entregá-la ao primeiro que estiver passando por aí, pois é considerada um fardo para as elites. O mercado exige que dela saiam dóceis trabalhadores que tenham o perfil de escravos capazes de fazer crediários e consumir passivamente o que seja vendido.


Os problemas são inúmeros e pouco enfrentados, aliás são mascarados, deixados de lado, porque a alienação é geral. O governo quer se perpetuar no poder; os teóricos da educação querem importar teorias e viver em seus castelos; os supervisores querem relatórios; os diretores precisam dirigir (comandar) sem saber a direção que o navio deve tomar; os professores carecem de formação, porque os que deviam dar formação dão mais é informação, adoecem porque são obrigados a ser: psicólogos, assistentes sociais, pai, mãe, generais, agentes de segurança e operários mal remunerados; os pais parecem lavar as mãos quanto a educação de seus filhos, ou muitas vezes nem existem; e finalmente uma boa parcela dos alunos está na transição da barbárie para civilização, ressaltando que uma contém a outra.

A escola é um tesouro perdido. Nela ainda existem pedras preciosas que querem brilhar, mas são pontuais e solitárias. Elas precisam ser garimpadas porque estão escondidas sob densas camadas… O brilho delas precisa ser muito forte para alcançar a superfície. Na escola também existem pérolas perdidas no mar da ignorância. As jóias são cada vez mais raras e pouco resistentes, são frágeis e quebradiças. É este lugar muito falado (usado como discurso) e pouco conhecido que pede socorro, mas seus gritos parecem ser em vão. Afinal pedir socorro para quem? Todos querem o tesouro, mas este tesouro parece não ter mais valor quando a identidade e a dignidade são dia após dia, anos após anos, décadas após décadas violentadas e esfaceladas.

Por: Ricardo Hirata Ferreira é doutor em Geografia Humana, FFLCH, USP.

Postar um comentário

0 Comentários