As 13 colônias do Norte
tiveram; pode-se bem dizer; a dita da desgraça. Sua experiência histórica
mostrou a tremenda importância de não nascer importante. Porque no norte da
América não tinha ouro; nem prata; nem civilizações indígenas com densas
concentrações de população já organizada para o trabalho; nem solos tropicais
de fertilidade fabulosa na faixa costeira que os peregrinos ingleses
colonizaram. A natureza tinha-se mostrado avara; e também a história: faltavam
metais e mão-de-obra escrava para arrancar metais do ventre da terra. Foi uma
sorte. No resto; desde Maryland até Nova Escócia; passando pela Nova
Inglaterra; as colônias do Norte produziam; em virtude do clima e pelas
características dos solos; exatamente o mesmo que a agricultura britânica; ou
seja; não ofereciam à metrópole uma produção complementar. Muito diferente
era a situação das Ant(lhas e das colôniás ibéricas de terra firme. Das terras
tropicais brotavam o açúcar; o algodão; o anil; a terebintina; uma pe-quena
ilha do Caribe era mais importante para a Inglaterra; do ponto de vista
econômico; do que as 13 colônias matrizes dos Estados Unidos.
Essas circunstâncias explicam a
ascensão e a consolidação dos Estados Unidos como um sistema economicamente
autônomo; que não drenava para fora a riqueza gerada em seu seio. Eram muito
frouxos os laços que atavam a colônia à metrópole; em Barbados ou
Jamaica; em compensação; só se reinvestiam os capitais indispensáveis para
repor os escravos na medida em que se iam gastando. Não foram fatores raciais;
como se vê; os que decidiram o desenvolvimento de uns e o subdesenvolvimento
de outros; as ilhas britânicas das Antilhas não tinham nada de espanholas nem
portuguesas. A verdade é que a insignificância econômica· das 13 colônias
permitiu a precoce diversificação de suas manufaturas. A industrialização
norte-americana contou; desde antes da independência; com estímulos e
proteções oficiais. A Inglaterra mostrava-se tolerante; ao mesmo tempo que
proibia estritamente que suas ilhas antilhanas fabricassem até mesmo um
alfinete.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra
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