Empresário
mossoroense Edvaldo Fagundes é tratado como um novo "Marcos Valério"
nesse esquema
A
nova edição da revista IstoÉ traz reportagem especial com o Rio Grande do
Norte. De novo, o estado ganha projeção nacional por denúncia quanto ao
submundo de seus políticos.
O
assunto é o já conhecido “Caixa 2 do Democratas”, focalizado em primeira mão no
ano passado pelo jornalista Daniel Lemos.
Na
reportagem aparecem a governadora Rosalba Ciarlini (DEM), senador José Agripino
(DEM), chefe de Gabinete Civil do Estado Carlos Augusto Rosado (DEM) e até o
empresário Edvaldo Fagundes, como integrantes de um poderoso esquema ilegal.
Ele, a propósito, tratado como o “Marco Valério” Potiguar, numa alusão ao
operador do “mensalão”.
Leia abaixo, matéria assinada por Josie Jeronimo:
Pequenino
em área territorial, o Rio Grande do Norte empata em arrecadação tributária com
o Maranhão, Estado seis vezes maior. Mas, apesar da abundância de receitas
vindas do turismo e da indústria, a administração do governo potiguar está em
posição de xeque. Sem dinheiro para pagar nem mesmo os salários do
funcionalismo, a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) responde processo de
impeachment e permanece no cargo por força de liminar. Sua situação pode se
deteriorar ainda mais nos próximos dias.
O
Ministério Público Federal desarquivou investigação iniciada no Rio Grande do
Norte que envolve a cúpula do DEM na denúncia de um intrincado esquema de caixa
2. Todo o modus operandi das transações financeiras à margem
da prestação de contas eleitorais foi registrado em escutas telefônicas feitas
durante a campanha de 2006, às quais ISTOÉ teve acesso. A partir do monitoramento
das conversas de Francisco Galbi Saldanha, contador da legenda, figurões da
política nacional como o presidente do DEM, senador José Agripino, e Rosalba
foram flagrados.
A voz
inconfundível de José Agripino surge inconteste em uma das conversas interceptadas.
Ele pergunta ao interlocutor se a parcela de R$ 20 mil – em um total de R$ 60
mil prometidos a determinado aliado – foi repassada. A sequência das ligações
revela que não era uma transição convencional. Segundo a investigação do MP,
contas pessoais de assessores da campanha eram utilizadas para receber e
transferir depósitos não declarados de doadores. Uma das escutas mostra que até
mesmo Galbi reclamava de ser usado para as transações. Ele se queixa:“Fizeram
uma coisa que eu até não concordei, depositaram na minha conta”.
Galbi
continua sendo homem de confiança do partido no Estado. Ele ocupa cargo de
secretário-adjunto da Casa Civil do governo. Em 2006, o contador foi colocado
sob grampo pela Polícia Civil, pois era suspeito de um crime de homicídio. O
faz-tudo nunca foi processado pela morte de ninguém, mas uma série de
interlocutores gravados a partir de seu telefone detalharam o esquema de caixa
2 de campanha informando número de contas bancárias de pessoas físicas e
relatando formas de emitir notas frias para justificar gastos eleitorais.
Nas
gravações que envolvem Rosalba, o marido da governadora, Carlos Augusto, liga
para Galbi e informa que usará de outra pessoa para receber doação para a
mulher, então candidata ao Senado. “Esse dinheiro é apenas para passar na conta
dele. Quando entrar, aí a gente vê como é que sai para voltar para Rosalba.” O
advogado da governadora, Felipe Cortez, evita entrar na discussão sobre o
conteúdo das escutas e não questiona a culpa de sua cliente. Ele questiona a
legalidade dos grampos. “Os grampos por si só não provam nada. O caixa 2 não
existiu. As conversas tratavam de assuntos financeiros, não necessariamente de
caixa 2”, diz o advogado de Rosalba.
Procurado
por ISTOÉ, o senador José Agripino não nega que a voz gravada seja dele. No
entanto, o presidente do DEM afirma que as conversas não provam crime
eleitoral. “O único registro de conversas do senador José Agripino refere-se à
concessão de doação legal do partido para a campanha de dois deputados
estaduais do RN”, argumenta.
No
Rio Grande do Norte, José Agripino é admirado e temido por seu talento em
captar recursos eleitorais. Até mesmo os adversários pensam duas vezes antes de
enfrentar o senador com palavras. Mas o poderio econômico do presidente do DEM
também está na mira das investigações sobre o abastecimento das campanhas do
partido. A Polícia Federal apura denúncia de favorecimento ao governo em
contratos milionários com a Empresa Industrial Técnica (EIT), firma da qual
José Agripino foi sócio cotista até agosto de 2008.
Nas
eleições de 2010, o senador recebeu R$ 550 mil de doação da empreiteira.
Empresa privada, a EIT é o terceiro maior destino de recursos do Estado nas
mãos de Rosalba. Perde apenas para a folha de pagamento e para crédito
consignado. Só este ano foram R$ 153,7 milhões em empenhos do governo, das
secretarias de Infraestrutura, Estradas e Rodagem e Meio Ambiente. Na crise de
pagamento de fornecedores do governo Rosalba, que atingiu o salário dos
servidores e os gastos com a Saúde, a população foi às ruas questionar o porquê
de o governo afirmar que não tinha dinheiro para as despesas básicas, mas
gastava milhões nas obras do Contorno de Mossoró, empreendimento tocado pela
EIT.
De acordo
com a investigação do MPF, recursos do governo do Estado saíam dos cofres
públicos para empresas que financiam campanhas do DEM por meio de um esquema de
concessão de incentivos fiscais e sonegação de tributo, que contava com
empresas de fachada e firmas em nome de laranjas. O esquema de caixa 2 tem,
segundo o MP, seu “homem da mala”. O autor do drible ao fisco é o empresário
Edvaldo Fagundes, que a partir do pequeno estabelecimento “Sucata do Edvaldo”
construiu, em duas décadas, patrimônio bilionário. No rastreamento financeiro
da Receita Federal, a PF identificou fraude de sonegação estimada em R$ 430
milhões.
O
empresário é acusado de não pagar tributos, mas investe pesado na campanha do
partido. Nas eleições de 2012, Edvaldo Fagundes não só vestiu a camisa do
partido como pintou um de seus helicópteros com o número da sigla. A aeronave
ficou à disposição da candidata Cláudia Regina (DEM), pupila do senador José
Agripino.
Empresas
de Edvaldo, que a Polícia Federal descobriu serem de fachada, doaram
oficialmente mais de R$ 400 mil à campanha da candidata do DEM. Mas
investigação do Ministério Público apontou que pelo menos outros R$ 2 milhões
deixaram as contas de Edvaldo rumo ao comitê financeiro da legenda por meio de
caixa 2.
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