No dia 13 de dezembro de 2003, há exatos dez anos, chegava ao fim a era Saddam Hussein no Iraque, um dos regimes mais violentos do Oriente Médio.
Saddam foi encontrado por soldados norte-americanos em um buraco perto
de Tikrit, sua cidade natal, na chamada “Operação Amanhecer Vermelho”.
Preso sem resistência, Saddam foi julgado, condenado e enforcado
três anos depois, em 2006. Dez anos depois do fim de seu regime, o país
ainda não venceu a violência e a instabilidade política.
O ditador
Nascido em uma família humilde, Saddam cresceu sem a presença do pai,
morto quando ele ainda não tinha nascido. Filiou-se ao partido Baath
ainda jovem, por influência do tio, um oficial do exército iraquiano e
defensor da unidade árabe. Em 1968, participou do golpe de Estado do
partido, derrubando o governo vigente.
Eleito presidente em
1979, comandou o país em duas guerras, nacionalizou o petróleo e liderou
a perseguição aos xiitas, colocando os sunitas,
minoria da população islâmica, no poder. Conhecido pela frieza, chegou a
mandar matar dois genros, além de ser acusado de usar armas químicas
contra os inimigos.
O Iraque hoje
Devido ao histórico de violência, o Baath, antigo partido de Saddam, foi banido. Mas nem a morte do ditador ou a retirada total das tropas norte-americanas,
em 2011, pôs fim à instabilidade política no país. Para especialistas,
os sunitas ainda não aceitam um governo de maioria xiita, grupo antes
perseguido por Saddam.
O atual governo é comandado pelo
primeiro-ministro xiita Nouri Al Maliki, no cargo desde 2006. Em 2014,
ele encerra seu segundo e último mandato. De acordo com o parlamento, os
líderes podem exercer apenas dois mandatos, mas Maliki está disposto a
ir aos tribunais para ter o direito de se reeleger nas eleições
parlamentares marcadas para 30 de abril do ano que vem. O cargo de
presidente pertence ao curdo Jalal Talabani, que ainda se recupera de um
AVC sofrido no final de 2012.
Violência e pobreza
Apesar do auge da violência no Iraque ter ocorrido entre 2006 e 2007, os
conflitos permanecem e ainda há uma média de 300 mortos por mês,
segundo o Iraq Body Count (IBC), grupo formado por voluntários do Reino
Unido e dos EUA, que registra as mortes violentas de civis no país desde
a invasão em 2003.
Parte disso deve-se à atuação de grupos
terroristas no país. Por isso, este ano, Maliki pediu ajuda ao
presidente dos EUA, Barack Obama para proteger o país de grupos
terroristas, principalmente a Al Qaeda, já que sozinho o país não tem conseguido conter a violência.
A guerra na Síria também preocupa pois o país vem recebendo grandes
levas de refugiados e ainda enfrenta denúncia de que o Exército
Iraquiano está ajudando as forças do presidente sírio Bashar Al Assad.
Segundo organizações não governamentais, a maioria dos 27,7 milhões de
habitantes do Iraque depende da doação de cestas básicas, distribuídas
por várias entidades e também pelo governo. A estimativa é que pelo
menos 500 mil refugiados deixaram o país após a invasão em 2003.
A imprensa também encontra um ambiente hostil. O Iraque foi o 150º
classificado em uma lista com 179 países no Ranking Mundial de Liberdade
de Imprensa publicado este ano pelo Repórteres Sem Fronteiras. Segundo o
Comitê para a Proteção dos Jornalistas, o país também foi considerado o
mais perigoso para os profissionais da imprensa no período 2003-2008,
quando 136 jornalistas foram mortos.
Por outro lado, os
partidários do governo destacam os avanços da liberdade de expressão e
de religião. Hoje, milhões de xiitas peregrinam para as cidades sagradas
para celebrar rituais religiosos, o que era proibido no governo Saddam.
O mesmo acontece com as críticas ao governo, antes vetadas, e que
atualmente são relativamente comuns na imprensa e na internet.
Economicamente, o país registra um crescimento médio de quase 7% ao ano,
e 90% de sua receita vem da produção de petróleo. As reservas de
petróleo do país são a segunda maior do mundo, ficando atrás só das da
Arábia Saudita, mas ainda se recupera das guerras das últimas décadas.
As duas guerras de Saddam
Quando Saddam assumiu a presidência iraquiana em 1979, o mundo vivia no contexto da Guerra Fria (1945-1991). O ditador tinha, então, o apoio do governo dos EUA já que ambos tinham um inimigo em comum: o Irã, que logo após a Revolução Islâmica e com o aiatolá (chefe religioso) Khomeini no comando, rompeu as relações com os norte-americanos.
Entre 1980 e 1988, Iraque e Irã travaram a Guerra Irã-Iraque,
inicialmente motivada por questões religiosas, em que cada país obteve
vitórias. Mas em 1990, quando o exército iraquiano invadiu o Kuwait,
país vizinho, e iniciou a Guerra do Golfo (1990-1991), os EUA retiraram seu apoio ao Iraque.
Com o desgaste da guerra com o Irã e uma crise econômica que se
aprofundou as décadas de 1980 e 1990, o Iraque invadiu o Kuwait alegando
que o país estava vendendo petróleo a preços abaixo do estipulado pela
Opep (Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo). Com
a decisão, o país ficou isolado na guerra.
A invasão dos EUA no Iraque aconteceu em 2003, no primeiro mandato do presidente George W. Bush (2001-2009),
um ano e meio após os ataques ao World Trade Center em 11 de setembro
de 2001. Ao lado do premiê britânico na época, Tony Blair, Bush defendeu
que a invasão era necessária para desarmar o Iraque que, segundo eles,
possuía armas de destruição em massa que podiam chegar nas mãos de
terroristas. As armas nunca foram encontradas.
Depois de fugir
de Bagdá e ser procurado por meses, Saddam Hussein foi capturado pelas
tropas norte-americanas. Ele estava escondido em um buraco com cerca de
dois metros de profundidade, camuflado com tijolos e sujeira e dispunha
de uma entrada de ar para permitir a permanência por longos períodos.
Era o fim de um dos regimes mais longos e violentos do Oriente Médio.
Por: Andréia Martins, jornalista
0 Comentários