O Brasil poderia exportar corruptos. Não faltaria oferta. É o produto
nacional que prolifera em todos os níveis. Mas em lugar de exportá-los,
nós ainda importamos gente do mal.
Por: José Renato Nalini
A máfia italiana escolheu o Brasil para se instalar e para prosperar,
renovando a sua experiência bicentenária. É o que se extrai do livro “Os últimos chefões”,
de Alessandra Dino. A autora traça o perfil dos três mais conhecidos
líderes da “Cosa Nostra”. Dois deles estão encarcerados e o terceiro
foragido há dez anos.
No mundo globalizado, a máfia se moderniza. Estreitam-se as relações
com os políticos e os empresários. Os recursos são movimentados na
economia formal e atenuam-se as fronteiras entre crime financeiro e
crime organizado, negócios lícitos e ilícitos.
Os “novos chefões” são sensatos. Não há mais necessidade de matar,
ameaçar, disparar, ser invisível. A truculência, a crueldade e a
precipitação não são mais úteis. A liderança é conquistada hoje pelo
gerenciamento sensato dos instrumentos do Direito e do poder
político-administrativo.
São também versáteis. Precisam evidenciar a capacidade de alternar o
moderno e o arcaico. A sutileza e a simpatia valem mais do que a
demonstração de força. A máfia percebeu que se conquista mais com uma
gota de mel do que com um barril de vinagre. Os agrados, as propinas, a
aproximação cordial abre mais portas do que o uso das armas.
O Brasil é o paraíso dessa nova gente. Aqui há espaço para tudo. O
brasileiro é cordial, tanto na receptividade ao novo, principalmente
quando esse novo oferece vantagens, quanto na superficialidade dos
contatos que se estabelecem de imediato, fazendo de quem sabe nos
agradar, amigos de infância mal nos são apresentados.
Mercado emergente, o Brasil é campo atraente e fértil para mesclar a
quase-honestidade com a falta absoluta de ética a permear atividades
lucrativas, pois o que vale é faturar, exibir-se como vitorioso e até
mesmo transigir com modesta caridade, a merecer reconhecimento público e
oficial pelo “bom mocismo”. Sem falar em outras organizações criminosas
bem sucedidas, nativas e importadas. Pobre Brasil!
Blogue luso-brasileiro: “PAZ”
Por: José Renato Nalini é atual Corregedor Geral e é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br./debatesculturais.com.br
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