Os órgãos da imprensa comemoram os 30 anos do primeiro grande comício
das Diretas Já. Muitos deles fingem celebrar algo que temiam na época e
continuam a temer hoje: as manifestações populares. Mas ganharam a
vergonhosa companhia de muitos dos que foram às ruas em 1984.
Por: Sérgio Domingues
O movimento pelas eleições diretas para presidente iniciou o que o
historiador Lincoln Secco chamou de “Revolução Democrática”. Um período
que foi até 1989, marcado por milhares de lutas e duas grandes greves
gerais. Pelo surgimento e fortalecimento de um polo de oposição
socialista formado por CUT, MST e PT. A classe dominante colocada na
defensiva.
Tudo isso foi canalizado para a uma Constituinte controlada pelo
poder econômico e para eleições fortemente influenciadas pela Rede
Globo. A partir daí, o processo eleitoral passou cada vez mais a
transformar rebeldes em despachantes do Poder. Os sindicatos se
especializaram em fazer de piqueteiros burocratas do Capital.
Trinta anos depois, temos governos cheios de veteranos das Diretas
que se aposentaram das lutas para trabalhar para os poderosos. Sua
última proeza foi aprovar uma lei contra manifestações e greves no
período da Copa do Mundo. Ou seja, trocaram suas bandeiras de luta por
canetas que autorizam a repressão às manifestações populares.
O povo nas ruas pode representar um novo esgotamento popular diante
dos acertos feitos pelo alto para manter uma ordem injusta. As Diretas
foram uma luta por representação democrática. As atuais manifestações
mostram que essa representação jamais se concretizou. Não sabemos se
estamos à beira de outra revolução democrática. Mas já sabemos com quem
não podemos contar se ela vier.
Leia o texto de Lincoln Secco
Leia também: Não aprendemos nada com as manifestações de junho?
Por: Sérgio Domingues é militante social e partidário (PSOL). Membro do coletivo Revolutas. Também tem um blog sobre mídia: Mídia Vigiada. Sociólogo.
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