Quatro dos seis filhos do professor Adriano Benayon vivem fora do Brasil. Canadá, Dinamarca, Holanda…
Por: Carlos Azenha
Ele diz que isso é sintomático. Jovens recém-formados que pretendem
expressar seu conhecimento de forma criativa não encontram espaço em
terras brasileiras.
Aqui, a dominação estrangeira da economia não prevê a criação de
empregos de alta qualidade, reservados para centros tecnológicos de
além-mar, com raríssimas exceções.
O próprio economista, doutor pela Universidade de Hamburgo, na
Alemanha, às vezes sente o impulso de mudar-se daqui. Argentina, talvez?
Aparentemente o professor se sente isolado.
Não consegue travar o debate que vem propondo faz tempo. Pelo menos não com a repercussão necessária.
Adriano Benayon também foi diplomata. Serviu na Holanda, Paraguai,
Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Além disso foi consultor
parlamentar na Câmara e no Senado Federal.
Hoje morando em Brasília, prepara o lançamento de uma coletânea de seus escritos, Economia Política, pela Fundação João Mangabeira, ligada ao PSB. Seu livro anterior é Globalização versus Desenvolvimento.
O professor acredita que o debate sobre a economia brasileira — subir
ou não os juros, mexer ou não nos reajustes do salário mínimo — foca no
periférico para evitar o principal: a dependência do capital
estrangeiro.
O Brasil, na visão de Benayon, está entregue. Não merece figurar nos
chamados BRICs, ao lado de Rússia, Índia e China, pois não dispõe de
grau de soberania equivalente ao dos outros três.
“O Brasil está amarrado pelos oligopólios”, afirma. Eles formam os
preços praticados no Brasil, dando pouca margem de manobra ao governo de
plantão, inclusive no controle da inflação.
Segundo Benayon, estas corporações fazem maquiagens contábeis para
aumentar a remessa de lucros, obtém concessões tributárias de todo tipo
e, através de prepostos, comandam setores da economia.
O poder oligopólico permite a elas formar os preços do jeito que bem
entendem. É por isso que os brasileiros, por exemplo, pagam três vezes o
valor de um mesmo automóvel vendido no Exterior.
“Tudo está voltado para servir pagamentos no Exterior”, diz ele.
O ex-presidente Lula ensaiou mudanças, em 2002. Por exemplo, quando colocou o economista Carlos Lessa para dirigir o BNDES.
Depois, no segundo mandato, segundo Benayon, Lula recuou.
Indicou Marina Silva para o ministério e Henrique Meirelles para o
Banco Central. Este, notadamente ligado ao Banco de Boston. Aquela, hoje
possível candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, do PSB, ligada ao
capital financeiro britânico que controla, entre outros, o banco
Santander.
Dilma Rousseff, na visão de Benayon, retomou a agenda que vem de
Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, segundo o professor, o Brasil
vive sob governos mais ou menos entreguistas desde o golpe da UDN contra
Getúlio Vargas, em 1954. No início de 1955 foram tomadas medidas
econômicas que deram grandes vantagens às montadoras de veículos, dentre
as quais a Volkswagen.
Juscelino Kubistchek seria, portanto, um falso desenvolvimentista. As
vantagens ao capital estrangeiro foram aprofundadas durante a ditadura
militar. Collor, Itamar, Sarney, FHC. O tucano, na visão de Benayon, foi
o grande entreguista. Vendeu a Vale. Promoveu as privatizações. Criou
as agências reguladoras que são biombos das empresas que deveriam
vigiar.
Numa delas, a Agência Nacional do Petróleo, hoje em dia está
instalada Magda Chambriard, denunciada como “entreguista” por
nacionalistas que militam no setor do petróleo, com os quais Benayon se
identifica.
FHC passou a lei complementar 87, conhecida como Lei Kandir, em 13 de
setembro de 1996. Com isso, ficaram isentos de ICMS os produtos
primários destinados à exportação. Ponto para as mineradoras controladas
pelo capital internacional, dentre as quais a Vale — e para os
capitalistas brasileiros associados a ele.
FHC também passou a lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, que acabou com
o monopólio da Petrobras em todas as atividades relativas ao setor do
petróleo e abriu espaço para concessões a empresas estrangeiras. FHC
colocou à venda parte das ações da empresa na bolsa de Nova York. Queria
mudar o nome da estatal para Petrobrax.
Dilma Rousseff, com as concessões de estradas e aeroportos e o leilão
de Libra, na opinião de Benayon segue a mesma trilha: a tentativa de
atrair capital estrangeiro para fechar as contas.
Este é, na avaliação do professor, o verdadeiro problema da economia
brasileira. Um fluxo permanente de recursos para o Exterior. Enfrentado
com medidas para atrair mais dinheiro de fora. Por exemplo, com a
elevação das taxas de juros. O dinheiro vem, mas remunerado nas alturas.
E o trabalho do povo brasileiro, em vez de financiar investimentos no
próprio Brasil, é desviado para remunerar o capital estrangeiro. Cada
vez mais.
A dívida interna, resultado da dívida externa, já bateu em R$ 3
trilhões. Os juros e amortizações comem mais de 40% do Orçamento. Falta
dinheiro para fazer os hospitais, as escolas e as creches que os jovens
reclamaram nas ruas em 2013.
Adriano Benayon compara a situação à dependência química. O
dependente, no caso o Brasil, combate a crise de abstinência com mais da
droga que está na origem do problema.
Sendo assim, na avaliação dele uma crise nas contas externas é apenas
questão de tempo. Como, aliás, tem sido: de forma cíclica. O arrocho,
na forma de desemprego, inflação e deterioração da qualidade de vida,
seria o resultado inevitável — como se dá, aliás, hoje em dia, na
periferia da Europa. Arrocho para garantir o dinheiro que remunera o
capital investido no Brasil.
[Talvez de olho no futuro, O Globo já prega a mudança na fórmula de reajuste do salário mínimo]
Provoquei o professor Benayon: mas, se a situação é assim tão grave,
por que não sai na mídia comercial? Ele riu. Entendi a resposta: a mídia
patronal é aquela que ajuda a sustentar o modelo, é patrocinada pelos
grandes oligopólios que controlam setores completos da economia
brasileira e não tem interesse no debate que, modestamente, esperamos
ajudar a travar.
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