Qualidade exige planejamento educacional. Os princípios da administração constituem balizamento suficiente para quem quiser aprender
Suponha
que você quer criar uma escola de qualidade e sabe pouco sobre o tema. Você não
errará muito se contratar um bom diretor – uma pessoa experiente, que já
dirigiu uma ou mais escolas por algum tempo, logrou bons resultados é
respeitado e goza de boa reputação junto aos pais e professores. Por: João batista Araújo e Oliveira
Essa
pessoa saberá o que fazer. Depois de entender a clientela que vai servir, ele
vai estabelecer o programa de ensino, escolher os professores, criar as normas
de funcionamento da escola e acertar a forma de ministrar o currículo. Se já
existe o prédio, ele vai determinar o melhor uso dos espaços. Vai adquirir o
mobiliário e equipamentos essenciais e vai comunicar ao público a que veio,
como a escola funciona, como fazer para se matricular.
Professores,
currículo, normas de funcionamento são ingredientes essenciais. No dia-a-dia,
possivelmente esse diretor vai receber os alunos na porta da escola, vai andar
pelos corredores e pátios, saberá quem faltou no dia ou no dia anterior,
se os professores estão ensinando o que deveriam, qual professor ou aluno está
com problema de desempenho e quem precisa de atenção especial.
Dificilmente ele passará um dia fora da escola, e, se passar, alguém responderá
pela direção na ausência dele. Nada disso é fácil, mas nada disso é segredo. O
DNA da boa escola é conhecido. E ele tem diferenças importantes em relação ao
DNA da escola ruim. Esse DNA está na qualidade do currículo, nas regras para
escolher professores e nas regras de funcionamento da escola.
Montar
uma rede de escolas públicas significa fazer isso em escala, criar regras e
mecanismos que assegurem – ou ao menos permitam – que cada escola, se bem
gerida, tenha a qualidade desejada – o nível de desempenho mínimo estabelecido
pelo currículo e que deve corresponder ao que a sociedade espera dos indivíduos
ao final de cada etapa escolar.
Estabelecer
o currículo não é muito diferente numa escola ou numa rede – os critérios devem
ser os mesmos. Na maioria dos países, isso é estabelecido em nível
nacional.
O primeiro
desafio consiste na escolha do diretor. Nos países desenvolvidos, há um sistema
predominante — o de carreira — e outro que funciona em alguns poucos países — o
da escolha por mérito —, igual ao que se usa na escolha de executivos de
empresas. No Brasil, há seis sistemas diferentes, e as carreiras são exceção.
Contratar
professores de nível adequado é mais difícil, pois depende de uma série de
fatores: nível salarial, carreiras, critérios para elaboração das provas,
existência ou não de estágio probatório. Os países com elevado desempenho em
educação sabem fazer isso muito bem. No Brasil, há algumas carreiras públicas
que conseguem contratar pessoas qualificadas – não há segredo.
Estabelecer
regras e um regimento comum para o funcionamento da escola também é algo que
não apresenta enormes desafios, embora não seja prática corrente nas redes de
ensino: tipos de escola, localização, regras para matrícula ou transporte
escolar, insumos, calendários de aulas, provas e reuniões, obrigações mútuas da
secretaria e das escolas, o que é comum e o que pode ser diferenciado.
As regras
variam muito. Por exemplo, há países em que a escola pública é administrada
pelas igrejas, como no caso da maioria das unidades da Holanda e parte das
existentes na França. Os professores são da rede pública. Em outras nações, há
o sistema de "charter schools", escolas públicas operadas por
provedores privados.
Também
variam as regras de alocação de recuros às escolas. Há sistemas em que os
recursos são idênticos para os alunos e outros em que os recursos variam de
acordo com as características da escola, dos alunos ou de seus resultados.
As regras
têm motivações diferentes – sejam históricas, culturais, ou pragmáticas – para
gerar competição como instrumento de busca de qualidade. O ponto central: as
regras criam o DNA da escola, e a sabedoria na criação e alteração de regras é
fator determinante do resultado das escolas.
E há a
operação – o sistema de gestão, com os variáveis graus de autonomia e controle
que as escolas recebem e as formas como são supervisionadas.
O DNA de
uma rede de ensino é algo complexo e que exige profundo conhecimento de
planejamento educacional e gestão de redes. Não existe um DNA único – uma única
forma de criar redes. Mas existem formas mais ou menos eficazes, mais ou menos
adequadas. Os princípios gerais da administração, os resultados e as melhores
práticas constituem balizamentos suficientes para quem quiser aprender.
Por: João
Batista Araújo e Oliveira, via: Vejaonline
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