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algumas dĂ©cadas o “macho” se vingava da rejeição com violĂȘncia fĂsica; hoje,
reage com violĂȘncia simbĂłlica ao expor as cenas da mulher ao pĂșblico
Por: Pedro Estevam Serrano
O noticiĂĄrio tem
divulgado com muita intensidade nos Ășltimos dias a questĂŁo de divulgação de
vĂdeos com intimidades sexuais na internet. Duas adolescentes se suicidaram
recentemente por conta de divulgação de vĂdeos dessa natureza por seus
ex-parceiros.
Um projeto de lei
jĂĄ foi apresentado no Congresso para tipificar como crime a conduta de divulgar
vĂdeos com terceiros.
As notĂcias e os
comentĂĄrios a respeito sempre destacam a questĂŁo como um problema da juventude,
inerente ao devassamento de intimidade que a nova geração experimenta de forma
singular por conta da presença da internet em nosso cotidiano.
O que ninguém
comenta, e que os fatos gritam, Ă© que tal fenĂŽmeno, na maioria dos casos,
caracteriza-se como uma nova forma de violĂȘncia contra a mulher.
Por maiores que
tenham sido os avanços no sentido de um trato igualitĂĄrio entre os gĂȘneros, nĂŁo
é segredo a ninguém que a sexualidade feminina ainda sofre formas especificas
de repressão, para além da repressão sexual geral.
A mulher exposta
em uma cena sexual ou de nudismo sofre rejeição social e afetiva
maior do que o
homem pego na mesma situação.
NĂŁo Ă toa, o que
mais se vĂȘ no tema sĂŁo casos de ex-namorados ou parceiros usando da divulgação
da intimidade, em vulneração a confiança que lhe foi emprestada, para se
“vingar” de alguma rejeição oposta pela parceira.
Hå algumas décadas
o “macho” se vingava da rejeição sofrida com violĂȘncia fĂsica; hoje tem a
alternativa de reagir com violĂȘncia simbĂłlica, que opĂ”e intenso sofrimento
emocional Ă vitima ao expor cenas e imagens de sua intimidade ao pĂșblico.
O machismo e o
preconceito ocorrem na situação em dupla mão. Na conduta psicopåtica daquele
que divulga as cenas intimas de sua ex-parceira e na sociedade que assiste e
pune com maior rejeição a sexualidade feminina exposta do que a masculina
quando colocada na mesma situação.
Mecanismos
jurĂdicos de proteção Ă mulher ofendida sĂŁo sempre bem vindos. Punição a seus
algozes também: além de punir o erro, inibe novas pråticas semelhantes por
outros.
Mas, além disso, o
tema exige uma reflexĂŁo pĂșblica mais profunda. ApĂłs dĂ©cadas de lutas
feministas, após a mulher alcançar espaços significativos no mercado de
trabalho, nos postos de poder e de influĂȘncia sociocultural e econĂŽmica, ainda
assim a sexualidade feminina ainda Ă© vista como uma falta moral, a ponto de sua
exposição pĂșblica ser tida como forma de agressĂŁo especifica de gĂȘnero .
NĂŁo Ă© comum casos
de mulheres expondo imagens Ăntimas de seu ex-parceiros como forma de revanche
afetiva. Certamente porque sabe-se que a intensidade da angĂșstia causada pela
exposição do homem não é comparåvel à da mulher
Este fato revela a
forma distinta de olhar e recriminar a sexualidade feminina ainda existente em
nossa vida social. Temos de refletir como mudarmos essa situação.
Certamente a
criação de mecanismos jurĂdicos de proteção Ă mulher vĂtima deste tipo de
violĂȘncia e a punição de seus algozes sĂŁo um começo. Ainda assim, sĂł um começo.
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