O jogo do pão e o circo


Por: Carlo Kleefft
O fim do Carnaval traz uma realidade que não é nova, mas certamente é um choque para a maioria dos brasileiros. O cidadão, que se esbaldou pelas ruas em todo o país, perseguindo blocos e trios elétricos, volta ao trabalho com menos dinheiro no bolso e muitas perguntas na cabeça.

Nos jornais, além do impasse na Ucrânia, país de que muitos brasileiros nunca ouviram falar e jamais pretendem visitar, estão estampadas notícias sobre o impasse na base governista, sujeira nas ruas, risco de racionamento de energia, e mortes no trânsito. E aí é o momento de se perguntar o que é mesmo que estava sendo comemorado, nos últimos cinco dias.

Há sempre os otimistas, que vão dizer que o país não está mal e que faz parte da tradição brasileira o intervalo para a folia. Na visão desses, o Carnaval é um momento para reduzir o estresse e ganhar fôlego para o ano que segue. Mas há também os pessimistas, os que acreditam que o feriado prejudica a produção do país, paralisa as atividades econômicas e ainda provoca prejuízo para o poder público que sempre investe na festa.


Para além de qualquer entendimento – seja ele conservador ou progressista – é preciso entender que o Carnaval é a festa que mostra a alma do brasileiro. Um povo que tem a alegria em sua essência e que não tem receio nenhum de passar cinco dias nas ruas, cantando, dançando e bebendo porque sabe que a vida vai continuar a partir de quinta-feira com todo o peso e a dor que já lhe são conhecidos.

ÓCIO “VERGONHOSO”

O mundo do trabalho, a cada dia que passa, consome mais tempo e atenção do homem moderno. O ócio se transformou em motivo de vergonha em uma sociedade que não consegue parar nem mesmo para se alimentar, que dorme com o celular debaixo do travesseiro e aproveita os três minutos do sinal vermelho para responder a e-mails.

É nesse contexto que o brasileiro vai entrar em um período de processo eleitoral, atravessado por uma Copa do Mundo. Ou seja, o ano vai ser menor e coisas importantes vão acontecer no país. Uma eleição não é coisa simples ou, pelo menos, não deveria ser.

A eleição de outubro, especialmente, terá um caráter diferente porque vai colocar no jogo da disputa pelo poder alternativas diferentes das que já estavam postas. A possibilidade de renovação cresce, embora tenha resistências fortes. Em resumo, o brasileiro está precisando de tempo para conhecer sua política e escolher com serenidade seus caminhos. E tempo é algo que deve faltar muito em 2014.

Talvez fosse o momento de fazer um Carnaval em outubro. Resgatar a coragem e a disposição que marcaram a folia e decidir se encontrar com as urnas de verdade. Votar com a certeza de quem conhece todos os candidatos e suas propostas. Votar sem risco de estar elegendo uma fantasia.

Fonte: Tribuna da Internet

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