Sinceramente, estou chegando à conclusão de que poucos comportamentos
humanos e sociais poderão me surpreender no futuro. Até já escrevi
recentemente que temo que a humanidade esteja trilhando um caminho
inverso, rumo à barbárie.
Por: Cynthia Nunes Vieira da Silva
Fiquei chocada com o resultado de uma pesquisa que
concluiu que mais de 80% dos entrevistados entendia ser justificável que
uma mulher vestida com roupas curtas, apertadas ou de alguma forma
provocantes, fosse atacada e, em último caso, até mesmo estuprada. A
culpa, portanto, da ignorância e da bestialidade de alguns machos, eis
que não vou chamá-los de homens, é da mulher que o induz a tanto…
Honestamente, fico pensando, crendo que a pesquisa foi
séria e representativa, que tipo de pessoas estamos formando, que
espécie de homo sapiens somos nós. Resultados como esses provocam
vergonha alheia, até porque própria parece que não há. Em que mundo o
crime se justifica, dessa forma, pela existência do belo, do sedutor?
Na época da faculdade eu estudei vitimologia e até li um
pouco sobre isso depois, mas embora nem de longe eu possa me sentir uma
especialista no assunto, pondero que as coisas não podem ser levadas aos
extremos. É possível afirmar que uma moça que entra em um trem lotado,
repleto de homens, vestida de micro saia, por exemplo, é capaz de prever
um assédio ou mesmo que está ciente de que provocará olhares, porém
isso em nada legitima atos de violência, física ou moral.
A partirmos para esse tipo de raciocínio, vamos nos
tornando culpados pela maldade alheia. Se alguém me assalta, a culpa é
minha por ter um carro, por ter uma casa? O fato de ter trabalhado para
isso fica em que plano? E a obrigação do Estado de me proteger,
sobretudo diante da confiscatória carga de impostos?
Há no Direito casos nos quais a vítima contribui para o
ato do criminoso, mas nem isso, ao menos no Direito Brasileiro, legitima
a ação que é contrária à lei. Assim, é, ao meu sentir, perigoso e
vergonhoso o fato de sabermos que há quem acredite, em pleno ano de
2014, que as mulheres podem ser agredidas legitima e justificadamente,
pelo simples fato de serem bonitas ou sensuais!
A par disso, é bom que se diga que em muitos casos “essas
mulheres” são apenas meninas, muitas das quais sequer tem consciência
de uma sensualidade que vai aflorando e que não podem sucumbir diante de
tarados, de gente da pior espécie.
Concito, portanto, maridos, namorados, pais, filhos,
irmãos, os homens de bem e de bom senso, que saiam em defesa de suas
mulheres, pelo direito que elas tem de serem belas, de serem livres, de
serem respeitadas e protegidas, assim como qualquer outra pessoa…
Fonte: Blogue luso-brasileiro: “PAZ”
Por: Cinthya Nunes Vieira da Silva é advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora – São Paulo.
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