Estudando a “ficção jurídica” denominada Ética nas últimas décadas,
pude constatar que uma das carências do convívio contemporâneo é a
polidez. A indigência vernacular dos que não leem pode suscitar a
indagação: “O que é polidez?”. Não custa, então, fornecer
sinônimos: amabilidade, civilidade, cortesia, delicadeza, diplomacia,
educação de berço, gentileza, lisura, urbanidade.
Por: José Renato Nalini
Um ser “polido” é a criatura afável, amável, atenciosa, ática, áurea,
bem-criada, bem-educada, cerimoniosa, correta, cortês, distinto,
galante, luzidio, urbano.
Dá para entender por que falta polidez na convivência? O que mais se
vê é a grosseria, a indelicadeza, a falta de modos. Mesmo pessoas
escolarizadas – nada a ver com polidez o fato de ostentar diplomas – não
cumprimentam, não se levantam diante de mulher ou de pessoa mais velha.
Ignoram a presença do próximo.
Daí para a rispidez, para a irritação, para a impaciência em grau
crescente, até à violência, é um caminho inevitável. Refletir sobre isto
é fundamental para um Brasil cada vez mais pródigo em ostentar níveis
preocupantes de violência. Aquela escancarada, a resultar em número
absurdo de mortes – somos o 5º país em perdas vitais resultantes da
violência – e aquela disfarçada na insensibilidade, na frialdade do
trato, na indiferença que não deixa de ser uma espécie de crueldade.
O mundo inteiro se apercebeu de que algo há de ser feito para
reverter a tendência egoística. Foi assim que aplaudiu Tony Blair que,
em 2003, declarou guerra à incivilidade. Após sua terceira vitória nas
eleições legislativas, insistiu na urgência de restabelecer a “cultura do respeito”.
Para nós, militantes da arena jurídica, o respeito não é senão
reflexo do princípio norteador da dignidade humana. Ver o outro –
qualquer outro – como finalidade intrínseca, não como meio, é imperativo
categórico kantiano. Mas não precisamos de sofisticação alguma, nem de
singular erudição para sermos polidos. “Sem a polidez”, dizia o ensaísta Alphonse Karr, “não nos reuniríamos senão para combater. É preciso, portanto, ou viver só, ou ser polido”.
É o que pais e mães – ou os que exercerem seu papel – têm obrigação de lembrar a seus filhos.
Blogue luso-brasileiro: “PAZ”
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