Amar uma pessoa difícil, é possível!

Lógico que eu já vivenciei amar uma pessoa difícil. Para falar a verdade, só amei criaturas de psiquê questionável. Com relação a alguns casos, eu me pergunto se realmente estava amando alguém ou se estava amando amar alguém com tanta complexidade emocional. Já diz o velho ditado que“difícil é mais gostoso”, mas não sei se é bem assim.

Por: Alesandro Lyra Braga
Pessoas difíceis existem aos montes. Parece que estamos vivendo uma epidemia de traumas e bipolaridade, ou outra forma qualquer de maluquice. Acredito piamente que ninguém é uma pessoa difícil por querer. Pessoas que têm a consciência de ser difíceis sofrem com isto. São inseguras e normalmente têm uma auto-estima mais baixa que traseiro de sapo, e acabam sempre se entregando à pessoas erradas, já que não acreditam nas pessoas certas, que por serem certas, são transparentes e não fazem jogos. Neste quesito já presenciei coisas de arrepiar a alma de qualquer defunto! Já ouvi coisas do tipo “Por favor não me traia. Se sentir atração por outra pessoa me avise antes. Eu irei sofrer, mas não perderei a confiança em você!”. O que é isto? É o cúmulo da auto-negação como pessoa. É aceitar a traição, partindo do princípio de que há pessoas melhores por aí. E detalhe, o cretino ou cretina que avisar que vai trair deveria ir para uma cadeira elétrica por calhordice, pois além de desprezar a pessoa com quem supostamente estará tendo um relacionamento, apenas por um mero desejo carnal, não estará se preocupando com o sofrimento que lhe causará. É o absurdo elevado à enésima potência!

Quando amamos alguém de temperamento difícil ou de característica dita bipolar, não raramente deixamos de ser quem somos e tentamos nos moldar em quem a outra pessoa quer que sejamos, na vã ilusão de que assim conseguiremos a conquista. Normalmente isto ocorre quando no início de um relacionamento não há um equilíbrio nos interesses sentimentais de um pelo outro. É fato que não podemos racionalizar amor para pesar se amamos na mesma medida ou não, mas temos como perceber quando só um corre atrás ou quando só um tem de fato o interesse em estabelecer uma relação. Nestas situações, a pessoa cortejada tem a seu favor uma zona de conforto, que com licença do trocadilho, é realmente bastante confortável! Também não podemos deixar de perceber quando o que há é o famoso “jogo duro” da parte que parece estar sendo conqusitada, mas que agindo assim conquista o declarado conquistador ainda mais, acabando por ter pleno domínio da situação.

Conquistar uma pessoa nos dias de hoje não é mais tarefa fácil. Com muito pouca idade as pessoas já estão tendo experiências tão absurdamente traumáticas que fariam Freud chorar de desespero! Hoje, despreza-se o valor pessoal de alguém por qualquer motivo. As pessoas se usam apenas em suas realizações pessoais ou mesmo sexuais e nada mais. Não há mais o respeito pelo sentimento alheio e nem a preocupação do que seguidos atos de desrespeito podem causar na psiquê de alguém. Temos que ter responsabilidade quando dizemos “eu te amo”, para não banalizarmos ainda mais esta frase! Dessa forma, muitas pessoas que outrora foram doces e românticas, acabam se tornando amargas e inseguras, rejeitando pessoas excelentes quando estas aparecem, sempre achando que não vale a pena viver o sonho, já que ele certamente virará pesadelo em algum momento. Felizmente, eu tive a honra de conhecer casais que viveram sonhos de amor a vida inteira. Jorge Amado e Zélia Gattai são um belo exemplo disso.

Fico impressionado quando encontro pessoas que dizem que não conseguem mais amar ninguém ou que não querem rotular seus relacionamento como “namoro”, por exemplo, por mero medo de decepções. Então, por medo de se decepcionar, muitas pessoas sabotam suas relações, sendo que algumas tanto fazem sabotagens até que a outra pessoa desista e aí o sabotador possa dizer“eu não disse que você não me amava, que não me aguentaria?”. Agora eu pergunto, o sabotador (que seria o conquistado) saiu ganhando ou apenas gerou mais um possível trauma numa pessoa que só queria o seu bem? Que culpa tem o conquistador se o conquistado (e sabotador) já sofreu horrores com seus relacionamentos passados? Superar esta fase da sabotagem, quando ela ocorre, é de lascar e requer mesmo muito amor. Poucos resistem!

Também temos que tentar entender aquela pessoa que ama a pessoa difícil. Esta infeliz 
criatura, por amor, exagerado ou não, normalmente ouve as mais bizonhas críticas e toma broncas diluvianas, mas não desiste. Tem apaixonados por pessoas difíceis que hoje poderiam facilmente conseguir a paz no Oriente Médio em poucos minutos! Eu mesmo já ouvi frases do tipo “meu coração hoje tem uma armadura”, aí eu disse “e eu tenho um abridor de latas”. O que mais eu poderia dizer ou fazer? Gerar outro trauma brigando, tentando provar que eu não merecia ser visto como o causador dos traumas conseguidos em relações anteriores? O que fiz foi me valer do humor para dizer que não desistiria.
Tenho convicção que a verdadeira arte de amar uma pessoa difícil está em ter paciência! Quando a pessoa que amamos, mesmo que de gênio difícil, nos completa e, dadas as devidas proporções, demonstram retribuir o sentimento, eu entendo que vale a pena perseverar. Eu persevero.

*Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.

Postar um comentário

0 Comentários