Conselhos...

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Se eu fosse você! 
Somos um bando de terapeutas, conselheiros, pastores ou sacerdotes da vida alheia. No bar, no trabalho, na fila de banco, no convívio social. Adoramos o mantra do “se eu fosse você…” Resolvemos com incrível destreza dramas, traumas E infelicidade dos outros que nos rodeiam. Temos soluções tão simples, óbvias, que o choro dos que nos rodeiam parece um exagero, dramalhão tão simples, que não resistimos ao papel de filósofos de mesa de bar.
Perdeu um ente querido? Fica resignado, Deus o acolheu e foi para o Paraíso, afinal, era tão bom. Quer separar do complicado cônjuge? Ah! Se fosse você, eu entrava na Justiça e acabava com o desgraçado. Ou não, se fosse você o perdoava, afinal, homem é assim mesmo. Quem sabe, algum conselheiro te diga que casamento é para sempre, ou é melhor pensar nos filhos. Correndo o risco de escutar: “Chifra ele também!”A tal pimenta no olhos dos outros ser colírio.
Coitado daqueles que adoram partilhar sua intimidade com todo mundo. Ouvirá soluções tão diferentes e radicais, que corre o risco de sair mais indeciso, confuso e infeliz. Talvez buscar no silêncio, na serenidade e dando tempo ao tempo, seria o melhor caminho a seguir. E ouvir o coração, a intuição. Somos ansiosos, tendemos ao passionalismo, precipitação. Não à toa, histórias de amor (na verdade paixões imaturas) terminam em ódios e ressentimentos doentios. Amizades de anos acabam por motivos fúteis e egoístas. Vivemos época de carência, individualismo. Mil vezes que dizemos “sim”, ganhamos status de príncipes. O que não nos isenta que na primeira vez que dissermos “não”, rapidamente viremos sapos. Impressiona o quanto as pessoas andam imaturas, não aceitando seus erros, falhas. Aí de quem frustrar parentes, amigos, colegas de trabalho, discordando de algo, contrariando aqueles que querem ter razão o tempo todo. Então, resta o indefectível “se eu fosse você”.
O grande problema é que ninguém nunca será o outro. Seria necessário fazer uma transfusão genética de temperamento, culturas familiares, histórias pessoais. E, atenção: corre-se o risco do outro seguir sua sugestão, se dar mal e ainda culpá-lo para sempre do conselho que deu errado. Não nos esqueçamos que verdades são multifacetadas, fatos em geral são falsificados por versões de cada lado envolvido. Não há neutralidade. Em geral, somos péssimos juízes de nós mesmos, quanto mais dos outros. Ok! Neste mundo doido, cheio de tribos e discórdia, ódios nas redes, patrulhas ideológicas, extremistas perigosos e radicais, o tal “se eu fosse você” é cada vez menos sábio e banal. Ser um generoso ouvinte é uma forma mais eficiente e compadecida. Mas, se o amigo desesperado o pressionar, sempre há uma saída de temperança: “Escuta, meu caro, eu no seu lugar agiria dessa e dessa forma… Mas cabe a você fazer aquilo que seu coração pedir.” E tome seu chope tranquilo, pois psicologia alcoólica, fofocoterapias e filosofia barata são tão úteis quanto lavar carro em tempo de chuva. Já diria o cientista quântico: “O observador contamina a experiência”. Ou meu avô Zé Cocão: “Se conselho fosse bom, não seria gratuito.”

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