A ganância

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Os gênios da literatura conhecem bastante a alma humana. Sabem que o ser racional é ganancioso e narcisista e que tem enorme apego pela matéria. Páginas eloquentes a respeito dessa característica tipicamente nossa, privativa da espécie considerada a primícias dentre os viventes.
Lembro-me de um conto de Eça de Queiroz, narrando que três irmãos, ávidos por fortuna, encontram um viajante que carrega um tesouro e cai na desgraça de contar a eles o que leva consigo. Arquitetam matar o afortunado e melhor o fazem. Enquanto dividem o resultado do latrocínio, encarregam o irmão mais novo de buscar comida e bebida.
Ausente o caçula responsável pela aquisição, deliberam matá-lo para que o dinheiro se reparta pela metade, em lugar de três porções. Quando o irmão retorna, é morto pelos outros dois. Entregam-se, então, ao consumo do farnel. E percebem que o vinho comprado pelo morto fora envenenado. Perecem os três, diante da cupidez.
Também li que um casal de milionários viajava pela Cote D’Azur, numa potente Ferrari, a toda a velocidade, pelas estradas sinuosas ladeadas por precipícios. Acidentam-se, conseguem salvar-se, mas o carro foi arremessado ao mar. O marido, desesperado, passa a berrar: – Minha Ferrari! Minha Ferrari!. E a mulher : – Você lamenta pela Ferrari e não percebe que perdeu o braço? Ele então: – Meu Rollex! Meu Rollex!
São situações muito expressivas, como a do moribundo que, ao receber a unção extrema, diante do crucifixo do sacerdote, impressiona-se com a peça e balbucia: – Ouro! Ouro! Ouro do melhor quilate… Tudo isso me vem à mente quando verifico a dificuldade com que pessoas abonadas argumentam com a impossibilidade de colaborar com a causa nobilíssima e urgente de aprimorar a educação pública.
Como é difícil assumir responsabilidades, enxergar como verdadeiro privilégio a possibilidade material de atender ao chamado constitucional que erige como dever de todos – Estado, família e sociedade – de propiciar a todas as criaturas, mas principalmente as mais vulneráveis, o direito inalienável de merecer educação de qualidade. O tempo se encarregará de mostrar que as fortunas se dissipam, são transitórias e não trazem a felicidade. Só resta a cada qual contar com a tranquilidade de consciência e a satisfação de ter melhorado a vida de um semelhante.
*José Renato Nalini é desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, secretário da Educação do Estado de São Paulo, imortal da Academia Paulista de Letras e membro da Academia Brasileira da Educação. Blog do Renato Nalini.

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