O medo

Resultado de imagem para como medo fotosO medo como instrumento de alienação política e social

O mal não venceu nada. Só contratou a melhor assessoria de imprensa: o medo.
O medo rebaixa teu raciocínio a uma lógica binária: agredir ou fugir. O medo restringe suas escolhas, embota a mente, elimina a criatividade, cerceia a possibilidade de união, troca e co-criação.
O medo te traz a insegurança sobre o vizinho, o estrangeiro, o diferente, o semelhante, o amigo e o inimigo. O medo faz você optar pelo lucro, pelo líquido, o medo deixa as pessoas em último plano.
Num mundo onde o dinheiro de plástico e o crédito fictício filho da especulação e da corrupção são as bases do fluxo financeiro, o medo conseguiu forçar a imagem absurda de que o dinheiro é o porto seguro e o humano, o mar de lama.
E cada um de nós, e cada governo, opta, em separado, pelo lucro. E a mega corporação não quer ser criminosa, ela quer só “cortar gastos e maximizar lucros” e por isso demite especialistas – muito caros, perceba – e substitui por estagiários bombardeados por palestras motivacionais, desafiados, com jornada dupla, terceirizados, executando dupla ou tripla função e assediados moralmente – mais baratos, perceba.
E a mega empresa não quer ser antiecológica – pega mal para ela, perceba – mas apenas “cortar gastos e maximizar lucros” e por isso compra material de segunda, ignora laudos técnicos que comprometam ou atrasem sua operação – para que possamos cooperar com o lucro, percebam.
E o medo e a mega empresa caminham juntos. Afinal, no afã do lucro líquido imediato – já que o crédito é o único porto seguro do mundo líquido, ainda que nada tenha menos liquidez que o crédito especulativo – escolhe-se outra vez pelo lucro e, na incerteza que move o Mercado do medo, minimiza-se os gastos com indenização ecológica, social, política, humana etc comprando as candidaturas dos políticos que os fiscalizarão quando as escolhas pelo lucro levarem ao inevitável desastre. Não é “se”, mas “quando”. Tanto é que já calculamos os possíveis danos e compramos o silêncio dos que nos julgarão. E a mega empresa não quer ser corrupta, ela apenas quer “minimizar os gastos e maximizar os lucros”, a corrupção é secundária, é um cálculo, percebam.
A mega empresa contrata a melhor assessoria de imprensa do mundo. Aquela que faz o mundo se compadecer dela, afinal ela naturaliza, diariamente, os valores financeiros como superiores aos valores humanos. Como ela faz isso? Instrumentalizando um afeto muito básico do ser humano: o medo.
A palavra mais repetida nos jornais em 2010 era “medo”. A mais repetida hoje em dia é “crise”. Por que será?
Portanto tenha medo. Pense menos. Polarize seu pensamento. Naturalize a banalização da vida e da violência em nome do lucro. E você já sabe com quem estará colaborando.
Você sabe quanto cada banco investiu em políticos e campanhas nas últimas eleições? Você sabe quem são os maiores investidores da indústria bélica no mundo e o quanto eles investiram em políticos nas últimas eleições?
A tragédia de Mariana, com mais de um ano, e a recente ocupação das escolas pelo Brasil são reflexos do mesmo sistema, dos mesmos valores, das mesmas escolhas. Ninguém teve a intenção, sabe? Foram apenas cálculos e escolhas, minimizando as perdas, maximizando os lucros.
*Renato César da Costa Kress é brasileiro, poeta, escritor e nasceu no Rio de Janeiro no ano 82. Concluiu seus estudos secundários no Colégio Cruzeiro – Deutsche Schule. Lançou em 2000, aos 18 anos, o livro Consciência, sobre impactos do neoliberalismo nos países de terceiro mundo, livro este que começara a escrever dois anos antes. É co-fundador e co-editor da revista eletrônica www.consciencia.net.

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