O prefeito de Mossoró, Francisco José Júnior, reuniu nesta
quinta-feira(29), auxiliares e servidores para prestar contas de seu mandato que
termina neste sábado.
“Entregaremos o governo com a preocupação de um gestor
que deu o sangue por sua gestão”, ressaltou o prefeito.
Abaixo, a íntegra do discurso de despedida:
“Caros amigos e amigas, permitam-me chamá-los assim, pois
esse é o único tratamento que nos define neste momento. Amigos e amigas.
É preciso tratar assim a todos vocês que aceitaram e
cumpriram esta que pode ser a maior missão de nossas vidas. Nós não somos os
únicos no Brasil a enfrentar uma crise nessas proporções.
Todos os municípios do Rio Grande do Norte enfrentam esse
problema, inclusive Natal que vive uma situação muito parecida com a nossa.
A diferença é que, além de ter mais dinheiro, a gestão tem do
seu lado toda a mídia e o interesse dos grupos tradicionais.
Quem diria que estados como Rio de Janeiro, maior receptor de
royalties e turistas do Brasil, vivesse tamanho caos. Minas Gerais, Rio Grande
do Sul e até São Paulo que esconde o problema porque tem a Globo à sua
disposição.
Vocês veem alguma diferença entre a situação do Estado e do
município?
Para a gestão estadual a crise começou muito antes de nós e
só não se agravou mais porque seguramos a barra do governador enquanto pudemos.
Não me arrependo disso porque não fiz por ele, mas pela
população, principalmente pelas futuras mães que ficaram sem ter onde parir
depois do fechamento da APAMIM e das sucessivas crises no Hospital da Mulher.
Como disse, nós não somos os únicos no Brasil a enfrentar
esse caos vivido todos os dias por falta de recursos e apoio, mas estamos entre
os poucos que não têm o apoio da mídia – rádio, televisão, jornais, blogs –
que, em todos os lugares, pertencem aos grupos políticos tradicionais, os
mesmos que não prepararam suas cidades e seus estados para essa crise grave que
enfrentamos agora.
De 2014 para cá, quando estourou no Brasil uma grave crise
política que acabou com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, o País não
é o mesmo.
O Brasil vinha atravessando um período de calmaria desde o
governo Itamar Franco, da criação do Real, da estabilidade econômica iniciada
no governo Fernando Henrique Cardoso, no boom de crescimento econômico e social
dos governos Lula e Dilma.
Sempre houve dificuldades, sempre faltou recursos e sobraram
obrigações, mas os prefeitos que vieram antes de mim tiveram sempre a quem
recorrer.
Cada presidente que entrava tinha como objetivo melhorar o
País para que a sua política econômica marcasse a sua passagem.
O que vivemos agora é atípico e muito grave. As crises
política e econômica – principalmente a crise internacional provocada pela
queda no preço do petróleo e de todas as commodities – tem obrigado o governo
atual a cortar gastos, despesas e até direitos.
E, como sempre, os mais prejudicados são os prefeitos
que perdem receitas, serviços e condições de manter funcionando a máquina como
deveria e gostaria. Pois é nas cidades onde o povo mora.
Não quero assustar ninguém, mas preciso dizer que a situação
tende a ficar mais complicada. Não quero com isso torcer contra ninguém, afinal
não me preocupam as gestões, mas o que elas fazem com o povo, por isso, é
preciso dizer que os próximos anos e enquanto durar essa crise política nacional,
os municípios viverão a pão e água.
Meus amigos e amigas, repeti diversas vezes que governar é
eleger prioridades. Entregarei o governo no dia 1º de janeiro com algumas
dificuldades, nada diferente dos meus colegas prefeitos, mas tenho orgulho em
dizer que entrego todos os equipamentos e serviços abertos.
Preciso que vocês me respondam com sinceridade: Vocês acham
que erramos ao abrir a UPA do BH?
Que erramos ao aumentar o número de médicos nas outras
unidades?
Erramos ao abrir as BICs e instalar uma Secretaria de
Segurança no município? Erramos em tentar resolver o problema dos ambulantes,
de iniciar toda aquela briga para garantir que tenha ônibus de qualidade
circulando em nossa cidade? Erramos em evitar que o Nogueirão fosse leiloado
fazendo o município perder milhões??
Vocês que estavam comigo todos os dias, acham que atrasamos
salários porque quisemos? Que os prefeitos de todo o País estão decretando
calamidade e atravessando situações piores do que a nossa porque eles querem?
Eu sei que vocês sabem que não. Por que amigos e amigas, se
eu fosse um gestor tradicional eu poderia ter feito diferente, mas hoje estaria
muito infeliz por minhas decisões.
É bem provável que as primeiras atitudes do novo governo seja
fechar as Bics, diminuir os médicos das UPAs.
Talvez até fechar uma UPA. Reduzir ao mínimo os investimentos
na Maternidade Almeida Castro, entre outras medidas duras que chamarão de
“impopulares” ou, quem sabe, com uma palavra mais bonita, chamarão de
“austeras”.
É possível que com isso eles economizem mais dinheiro e até
usem a mídia – que agora está do lado deles – para dizer que em um ano ou dois
conseguirão equilibrar as contas. Mas meus amigos, isso não passará de
propaganda.
Se os repasses federais não melhorarem, se o município não
arrecadar mais e se os royalties do petróleo não voltarem a crescer, eles
viverão a mesma crise que nós.
Talvez pior.
A diferença é que a população terá menos acesso aos serviços
essenciais como saúde e segurança. Eles até podem tentar maquiar isso usando a
imprensa, mas com as redes sociais não terão como calar o povo.
Toda economia é necessária e nós fizemos muitas, vocês são
testemunhas que cortamos na própria carne e colocamos em risco todo o nosso
governo, mas nenhuma economia pública vale os serviços essenciais.
Nenhuma economia vale tirar do pobre o pouco que ele tem. É
por isso que enfrentei com vocês toda essa crise para não deixar fechar os
equipamentos na esperança que o mês seguinte seria melhor.
Porque como disse o filósofo Aristóteles: ‘A esperança é o
sonho do homem acordado’.
E eu pergunto: de que adianta um gestor sem esperança?
Durante um breve período nós vimos esse país sair do
ostracismo para se tornar um gigante porque “A esperança venceu o medo”.
E eu, meus amigos, que sou um homem de extrema fé, não perdi
a esperança um só dia e paguei para ver. Foi caro o preço que paguei? O tempo
dirá.
Não me arrependo de ter tentado e espero que vocês também
não. Nós poderíamos ter feito diferente? Claro, sempre é possível fazer
diferente, até para quem só acerta.
Mas e se tivéssemos as mesmas condições econômicas dos
nossos antecessores, precisávamos fazer diferente ou teríamos feito uma grande
revolução em Mossoró?
Quando o próximo governo assumir, não pegará um município com
dificuldades, pegará um País com dificuldades.
Nós, possivelmente, seremos por algum tempo, a desculpa para
eles.
Dirão que não fizemos isso ou não fizemos aquilo, mas logo o
povo entenderá que essa conversa está furada. Veremos isso pelas redes sociais,
não pela imprensa.
Se as notícias forem fieis, o próximo governo começará em
crise porque pretende começar fazendo arrochos sérios demais para o tipo de
estrutura que estão acostumados.
E os cortes nos serviços mostrarão a diferença entre a
vontade de cuidar do povo e a necessidade – que eles têm – de se manterem no
poder.
Então, amigos e amigas, o que posso dizer hoje a cada um de
vocês, que atravessam essa tempestade e que chegaram até aqui comigo, é MUITO
OBRIGADO.
Eu sem vocês não seria nada.
Se não fosse a confiança, a inteligência e disposição de
vocês. Se não fosse a esperança que vocês ajudaram a alimentar junto comigo, eu
não teria dado nenhum passo.
E posso afirmar ainda, com convicção e consciência tranquila,
que se não fosse esta equipe, a situação em Mossoró seria de caos total.
Se com dinheiro, grandes empréstimos e apoio da Petrobras
eles precisaram pedir socorro aos municípios de Russas, Alexandria e a Natal,
imagina nesta situação atual.
Portanto, amigos e amigas, entregaremos o governo com a
preocupação de um gestor que deu o sangue por sua gestão, mas também com a
tranquilidade dos que fizeram tudo, talvez mais, do que poderia ser feito.
Mossoró cresceu muito através de nossas mãos.
Ampliamos os equipamentos de saúde, colocamos ônibus de
qualidade para rodar, entregamos centenas de casas, convocamos centenas de
novos servidores, ampliamos a estrutura de segurança da cidade, demos uma
segunda chance para o esporte local, construímos acessos, melhoramos ruas,
criamos o primeiro parque municipal da região e deixamos uma série de ações e
projetos para serem executadas no futuro.
Cuidamos da Mossoró de hoje, sempre pensando na Mossoró
de amanhã. Fizemos isso com nossa equipe, mas também conversando com toda a
população através dos nossos Fóruns e projetos sociais como o Meu Bairro
Melhor.
Depois do primeiro mandato do governo Dix-Huit Rosado, sou o
único prefeito que assumiu de fato a Prefeitura.
Não deixei meu filho ou minha esposa governarem por mim.
Nunca me escondi em Tibau e nunca, dia ou noite, me esquivei
de conversar com a imprensa.
Sempre estive presente, nos dias bons e nos dias ruins.
E nunca, desafio qualquer um aqui a dizer o contrário, tratei mal um colega de
trabalho, não importa sua função.
Como também nunca fui negativo, nunca disse uma frase
pessimista, muito pelo contrário: pedi que mantivessem a fé, que tivessem força
e esperança em seus corações.
É por isso que, com muito orgulho, sei que se lembrarão
de mim também pela humildade e que estarão comigo novamente nos nossos próximos
projetos. Porque a luta continua.
Muito obrigado a todos e a todas por esta caminhada de luta,
força e ensinamentos. Sigamos firmes no propósito de fazer sempre o nosso
melhor com convicção, amor e, principalmente, fé e coragem.
Desejo a todos e todas não um feliz ano novo, mas uma vida
sempre plena de conquistas e sabedoria.
Que Deus nos abençoe”.
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