Prosa da boa

Resultado de imagem para farelo de pão de mesa fotosO desgosto do pão que foi esquecido numa mesa

Por Maciel Melo*

"Todo pedaço de pão carrega em seu miolo a triste história de um trigo que poderia ter sido uma cerveja". Foi assim que eu vi aquele farelo dormido posto à mesa, esperando o retorno deste viajante que vos fala. Viajar é preciso, às vezes enfada, mas o que me seduz  em viver sobre quatro rodas, são os adágios das lameiras dos caminhões. Me divirto, rio à beça, gargalho, fico zoró, assobio, canto, converso só, e tome estrada, e tome terra, e tome pó, poeira e cansaço. 

Viajo porque deliro, volto porque te amo. Quem não viaja fica, disse-me uma vez um filósofo de porta de banheiro de botequim, e pra não ficar eu vou. Comigo é assim: só gosto de coisa boa, porque tudo que é bom presta, vi isto em alguma coisa relacionada aos filhos de Zé de Cazuza, um apologista famoso lá pras bandas da Prata, na Paraiba. 
Só enxergo o que vejo e assim vou vivendo, vendo e revivendo a vida, rompendo as rampas que Deus me deu para escalar. Desde menino sempre tive uma atração pelo que é longe, hoje cheguei a conclusão que quem inventou a distância nunca sentiu saudades de nada, nunca amou na vida. O amor não se conjuga no passado, tem que ser no agora, o presente indicativo é o termômetro, saio do gerúndio e deixo o verbo me conjugar. Sempre fui sonhador, "não sou de desistir de meus sonhos, quando não encontro numa padaria, vou procurar em outra". 
Falo muito, mas às vezes é melhor ficar calado e deixar que pensem que sou idiota, do que abrir a boca e não deixar dúvidas. Não, não desisto dos meus sonhos. "Água mole em pedra dura tanto bate até que molha tudo". Às vezes acelero o mundo, às vezes estaciono, às vezes fico mais perdido que minhoca em galinheiro, mas depois me acho. O mundo está medonho, me deixa cabreiro, arisco, acabrunhado. 
Às vezes sou palhaço, às vezes malabarista, às vezes dono do circo, às vezes "acanhado que só galinha que caiu numa lata de lavagem", como bem descreveu o poeta Manoel Filó. Não tenho porteiras, meu coração é uma janela aberta, "não é a  cerca que segura o boi no pasto, mas sim o capim que ele come", já dizia meu avô. Eu adoro esses ditos populares. Já deu pra perceber, né? 


Tá bom, por hoje chega, vou dar uma paradinha, aproveitar pra arriar o óleo que eu também sou fii de Deus.

*Cantor e compositor

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