Acabaram sim com o
ensino no Brasil. E não foi ao acaso ou fruto apenas de incompetência de nossos
gestores públicos, foi proposital. Não há político que não saiba que um povo
ignorante não reclama de receber Bolsa-Família ou qualquer outra forma de esmola
político-populista, que acaba revertendo em votos. E tudo isto foi feito com o silêncio
conivente da sociedade brasileira, que têm sido, ao longo de nossa história,
irritantemente comodista e até corrupta, se vendendo por qualquer trocado.
Vejamos como era
antigamente o ensino público. Para começar, os alunos faziam uma prova chamada
“Admissão” para ingressar na escola pública. Cursavam o Primário, o Ginásio e
depois teriam a opção ente o curso Científico (com ênfase em Matemática,
Química, Física e Biologia) ou o Clássico (com ênfase em Latim, Francês,
Espanhol, Inglês, História e Geografia). No decorrer do processo educacional,
ainda aprendia-se Canto Orfeônico, Língua Portuguesa, Literatura, Filosofia,
Educação Física e Artes. Os alunos, que se levantavam em respeito aos
professores quando estes entravam em sala de aula trajando seus jalecos,
precisavam se esforçar para tirar boas notas, já que havia repetência. Se
houvesse indisciplina os pais eram chamados à escola, sem se sentirem “agredidos”
por achar que iriam perder tempo com bobagens, como acontece hoje em dia. O ensino era
respeitado de fato. Para quem não sabe, o ex-presidente Getúlio Vargas, por
intermédio de seu ministro da Educação, Gustavo Capanema (que oi o ministro que
mais tempo ficou no cargo em toda a história do Brasil, atuando por 11 anos à
frente do ministério e implantou ampla reforma educacional ao país),
acompanhava muito de perto o ensino, chegando a visitar escolas públicas. Dom
Pedro II também costumava fazer o mesmo durante seu reinado, fundando até o
Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.
As reformas
implantadas por Gustavo Capanema em 09 de abril de 1942, conhecidas como
“Reforma Capanema” (oficialmente denominada Lei Orgânica do Ensino Secundário)
permaneceram em vigor até 1961 com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, e visavam modernizar o ensino no país, adequando nossos
jovens estudantes às realidades do mundo de então.
Após 1961,
flexibilizou-se de tal forma o ensino, que todos os tipos de absurdos passaram
a ser possíveis e a importância do professor, no contexto político, diminuiu
dia-a-dia. Hoje, ser professor é profissão que apenas jovens de famílias pobres
optam, devido a todas as limitações financeiras que a profissão acarreta.
O fato é que hoje
a sociedade não vê o professor com o respeito e até idolatria dos tempos de
outra. Ninguém mais sonha e ter um filho ou uma filha professores. Sonha-se em
ter filhos médicos, advogados, jogadores de futebol ou até “piriguetes”, mas
professor não! A sociedade acostumou que o ensino seja de péssima qualidade,
que o país não consiga ter profissionais de qualidade e que os professores
sejam tratados como meros serviçais. Ninguém reclama que a maioria de nossos
universitários recém formados seja, na prática, analfabetos funcionais! Do
jeito que está, até para se formar novos professores fica difícil.
Quando afirmo que
a sociedade ficou passiva enquanto a qualidade de nosso ensino era desmantelada
não estou exagerando. Nunca vi a sociedade (descontando-se alunos e
professores) sair às ruas em protesto pela baixa qualidade do ensino ou por não
haver escolas públicas de qualidade em número suficiente para todos. Na
verdade, a população não sai às ruas nem pelo ensino, nem pela saúde pública.
Todos debatem sobre a escalação da seleção brasileira de futebol ou de seus
times, mas ninguém conversa sobre como as escolas estão ruins. Quando por acaso
estão diante de algum político, assumem uma posição submissa, chamando qualquer
vereadorzinho de mer** de “sua excelência”. Só quem fala sobre educação são os
professores, que, indignados, lutam sozinhos por esta causa nacional.
O modelo de ensino
de hoje em dia é baseado em respostas de múltipla escolha, para que a correção
seja mais rápida (como uma linha de produção), perdendo-se a condição de
argumentação em detrimento da rapidez. Não é assim que se ensina. Ensinar é dar
condição de pensar além do já estabelecido. Quem é adestrado só repete, não
cria.
Hoje, a ignorância
de nossos alunos virou motivo de piada, coisa que eu lamento profundamente.
Circula pela internet frases absurdas supostamente escritas por alunos ao
responder o ENEM de 2013, por exemplo. Algumas dessas frases até têm “boa
intenção”, mas são discordantes com as mínimas normas do bem escrever. Vejam
alguns exemplos:
“O sero mano
tem uma missão.”
“O Euninho já
provocou secas e enchentes calamitosas.”
“O problema
ainda é maior se tratando da camada Diozanio.”
“A situação
tende a piorar: o madeireiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.”
“O grande
problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes.”
“É um problema
de muita gravidez.”
“A AIDS é
transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO.”
“Já está muito
de difíciu de achar os pandas na Amazônia.”"
“A natureza
brasileira tem 500 anos e já esta quase acabando.”
“O cerumano no
mesmo tempo que constrói, também destroi, pois nos temos que nos unir para
realizarmos parcerias juntos.”
“Na verdade,
nem todo desmatamento é tão ruim. Por exemplo, o do Aeds Egipte seria um bom
beneficácio para o Brasil.”
“Menos
desmatamentos, mais florestas arborizadas.”
“Isso tudo é
devido ao raios ultra-violentos que recebemos todo dia.”
“Tudo isso
colaborou com a estinção do micro-leão dourado.”
“Imaginem a
bandeira do Brasil. O azul representa o céu, o verde representa as matas, e o
amarelo o ouro. O ouro já foi roubado e as matas estão quase se indo. No dia em
que roubarem nosso céu, ficaremos sem bandeira.”
“São formados
pelas bacias esferográficas.”
“Eu concordo em
gênero e número igual.”
“Precisa-se
começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem
celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio.”
“O serigueiro
tira borracha das árvores, mas não nunca derrubam as seringas.”
Se estas frases
acima foram realmente escritas pelos estudante que fizeram o ENEM de 2013 eu
não tenho como confirmar, mas eu mesmo já testemunhei alguns absurdos da mesma
proporção ditas até por universitários. Se estas frases tiverem sido realmente
escritas pelos estudantes no ENEM devemos chorar, porque elas serão o alicerce
de nossa sociedade para o futuro. Se forem apenas uma piada, devemos lamentar
pela mente doentia de quem está brincando com coisa séria e não está nem aí
para isto!
Nosso ensino só
mudará quando todos nós exigirmos isto de fato. Não adianta reclamar e depois
trocar o voto por um churrasco ou um uniforme para o time de futebol oferecidos
por algum político. Entendo que o primeiro passo seja não reelegermos nenhum
deputado estadual, federal, senador, governador e presidente. Porque, estes que
estão aí, tiveram, no mínimo, um mandato para fazer alguma coisa e nada
fizeram.
Por: Alessandro
Lyra Braga é carioca,
por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e
jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos,
filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.
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