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“A
guerrilha na internet virou uma sucessão de bombas que explodem antes de
atingir o alvo. Porque cada grupo só consegue mesmo falar para si mesmo. É um
diálogo de surdos”
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Por: Rudolfo Lago
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Quando eu digo que
não falo de política, refiro-me à política eleitoral. Porque, dentro das atuais
regras não escritas das redes sociais, essa tornou-se a única política
possível. As redes sociais tornaram-se um campo de guerrilha
político-eleitoral. E, como já se disse, para vencer, na guerra vale tudo. Então, de cada trincheira,
o guerrilheiro de plantão distorce, omite, cria, inventa ou, simplesmente, mente
descaradamente.
De política, todos
nós falamos. Política, todos nós fazemos. É uma atividade intrínseca à vida em sociedade. Mas nem
toda política precisa necessariamente ter propósito eleitoral. Disso, não sabem
os guerrilheiros das redes sociais.
No caso do
jornalismo, mais do que direito , é dever se engajar a favor de
determinados temas, como a liberdade de expressão, a democracia, o respeito ao
próximo e o combate ao preconceito. Mas conferir ao exercício do jornalismo
qualquer propósito eleitoral é uma total desonestidade. Não existe jornalismo a
favor. Jornalismo a favor é propaganda. Mas também não existe jornalismo
contra. Jornalismo contra é jornalismo a favor de algo ou de alguém. Então,
igualmente é propaganda.
Jornalistas
governistas e oposicionistas são coisas tão inúteis quanto uma nota de três
reais. Tão desnecessários quanto uma Cibalena vencida. Nada acrescentam. São
totalmente dispensáveis, porque já se sabe de antemão o que eles escreverão
antes mesmo de começar a lê-los.
No campo da
guerrilha virtual nas redes sociais, porém, jornalistas que se comportam como
jornalistas tornam-se seres profundamente incômodos. Nenhum dos lados pode
atribuir credibilidade a eles – “e se amanhã ele critica um dos nossos, se
elogia um deles? Temos que pintá-lo como partidário também”. Pouco importa que
num momento você seja atacado por um dos lados e, no momento seguinte, seja
atacado pelo outro. Na internet, a leitura é eventual, compartilhada por
alguém, ali não há o hábito da leitura frequente que possa ajudar a consolidar
a impressão de equilíbrio de determinado escriba. É, assim, o campo ideal para
a desqualificação.
No atual momento, não
é com a atividade jornalística em si nem com a análise política que eu ganho a
vida. Escrevo eventualmente sobre política somente por achar que a experiência
de quase trinta anos nesse campo poderia ser de alguma serventia para outros. E
porque, para mim, esse tipo de observação das coisas tornou-se tão natural
quanto andar para frente. Forjei em mim ao longo do tempo essa condição de
procurar olhas as coisas com certa distância, desapaixonadamente. Uso a mesma
lente para tentar compreender até mesmo as ações das pessoas próximas. Para
entender as razões que as levam a determinados atos de egoísmo, de compaixão,
de maldade, de bondade, etc.
É uma postura que
serve também para entender que juízes podem até ter capa, mas não super-heróis.
Também não são super-vilões. Que cruzadas heroicas e redentoras só existem nos
livros de capa-e-espada. Que todo guerreiro do povo é, antes de mais nada,
guerreiro de si mesmo. E muitas vezes não é mais nada além disso. Que não há
nobreza absoluta, assim como não há maldade absoluta.
Se a intenção do
guerrilheiro é cooptar o outro, o jornalista que se comporta como jornalista
não cabe, se a sua intenção não é cooptar ninguém. Na prática, no entanto, a
guerrilha na internet virou uma sucessão de bombas que explodem antes de atingir
o alvo. Porque cada grupo só consegue mesmo falar para si mesmo. É um diálogo
de surdos. E, num diálogo de surdos, falar com bom senso acaba tendo a mesma
ineficácia que qualquer gritaria. Todos são surdos: ninguém vai escutar. Como
não tenho obrigação, como não ganho nada com isso, não falo mais de política
nas redes sociais.
Fonte:
Congresso em Foco
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