Uma trilogia que ousou questionar as boas intenções dos heróis de
ficha limpa, que deu aos vilões nuances permeáveis que por instantes nos
encostavam, que cutucou o maniqueísmo com cavada impiedade. O
diretor Christopher Nolan se utilizou de muita genialidade ao abordar o
super herói de um jeito novo, ambivalente, mais humano, menos Sandy.
Não é mais um mascarado de mamilos acesos que nas horas vagas brinca de
ser humano , é um homem falho, mal resolvido, aflito ,mas que apesar
disso é o Batman.
Sempre tive preguiça de filmes adaptados dos quadrinhos, me sentia
deslocado, achava que só os Geeks tinham capacidade de viver esse
universo e comecei a acompanhar essa trilogia atraído pelo sucesso
arrebatador do novo Coringa, e de repente de “analfabatman”
virei um grande entusiasta do legado Nolan e sua capacidade de embutir
em seus filmes um clima apocalíptico e ao mesmo tempo conspiratório. O
Coringa atormentado, feito de forma magistral pelo ator Heath Ledger
estampa uma liberdade exagerada e divertida: brinca, questiona,
manipula, lagarteia, explode, pinta, borda e ainda leva Oscar póstumo de
coadjuvante. Um verdadeiro sociopata que por estar condenado a falha,
se alimenta de uma vilania inconsequente, é o vazio da moralidade
querendo vingança, é um boneco anárquico sedento por quebrar sistemas.
No filme de conclusão, vivemos uma sensação de contagem regressiva a
todo tempo, não queremos que acabe. A sequência inicial tem peso de
epílogo, é chocante, grandiosa e é delicioso quando um diretor arrisca
uma explosão climática logo de cara e o nosso “login” acontece
precocemente. Anne Hathaway está deslumbrante e sedutora em sua versão
triunfal não anunciada de mulher-gato, Tom Hardy defende o vilão Bane
com dignidade (e faz com que a gente sinta menos falta do Coringa) e
Christian Bale justifica sua escolha como Batman começando por sua
aparência não estereotipada; há nele um shape de homem comum, sem cara
de capa da “Capricho”, o ator não se esconde atrás de traços estéticos
de galã nem força um tipo, e com maior destaque nessa parte final gera
mais empatia e esbanja qualidades de interpretação. A trilha é
empolgante, os loopings de roteiro surpreendem, e as surpresas finais
são um saboroso licor.
Preparem os pulmões, aproveitem cada segundo, percam o fôlego como se
o mundo fosse acabar a qualquer instante, Batman nos salvará.
Terra
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