Antes de sair do Brasil em 1979 eu achava que uma mentirinha aqui e
outra ali era a coisa mais normal do mundo. Me habituei a ouvir mentiras
sem criticar e falar mentiras sem ter um pingo de vergonha, porque eu
achava (como muitos brasileiros) que mentir tinha justificativa. Agora,
de volta ao Brasil depois de tantos anos vividos na Europa e Estados
Unidos me pergunto constantemente porque, tantos de nós mentimos e as
pessoas perdoam deixando isso pra lá… como a maioria diz depois de
descobrir a mentira na embromação que a mentira nos envolve normalmente.
Por: Lygya Maya
Aprendi a mentir em casa quando eu ouvia minha mãe dizer coisas como: “Filha, se fulano perguntar isso…”, “Não diz que foi isso não viu?”…
Assim a gente evita problema. Tá bom… eu pensava, se é pra evitar
problema então tudo bem. Ao mesmo tempo meu falecido pai carnal, que era
muito rígido na minha educação, dizia. Fala a verdade Lygya, quem fala a
verdade não merece castigo… Dai eu acreditava naquela voz forte e cheia
de certeza que me enchia de medo e de admiração ao mesmo tempo. Um belo
dia eu tomei coragem e falei a verdade, e apanhei tanto no bumbum que
depois do choque psicológico, da dor no corpo e no coração por ter sido
enganada, prometi a mim mesma que nunca mais ia me enroscar em problema
dizendo a verdade.
Vivi a maior parte da minha vida assim… mentindo um pouquinho ali, um
pouquinho acolá… só pra dar um “jeitinho” de não entrar em problema
afinal de contas não era mentiras grandes como nossos políticos famosos
fazem, era só uma bobagenzinha pra “evitar problema” entende?
Existem mentiras de vários tipos: tem as cotidianas, que são
automáticas que muitos de nós falamos só pra não contrariar alguém, a
mentira que criamos por causa do medo de sermos julgados, aquela da
insegurança para nos sentirmos por cima da carne seca, e por ai vai…
Aqui estão alguns exemplos para que haja conscientização de causa: “Pode deixar que eu vou te ligar sem falta!” E nunca liga, até esquece que disse isso, ou… “Ah… você vai lá na festa da Maria? Vou também sim… te vejo lá!” E nunca aparece. E tem também a famosa; “você tem um dinheiro pra me emprestar? Depois eu te dou”… é nunca dá. Alias essa ultima é bem popular.
Não que lá na Europa ou Estados Unidos não se minta, lá também se
mente com certeza, mais não é tanto como aqui, tem muito mais gente
honrando a verdade lá do que aqui. Aprendi a me sentir mais honrada e
dizer a verdade lá por que me senti a vontade para fazê-lo sem muito
problema, entende? No começo doía quando uma americana me dizia na cara e
sem subterfúgios, que ela não tinha gostado de uma coisa que eu fiz, só
não gostava da maneira grosseira que se referiam às vezes, mas como eu
sempre admirei mais a verdade do que a mentira, pensei… e se eu falasse a
verdade com diplomacia e com a intenção de ajudar em vez de criticar?
Tenho certeza que eu vou conseguir unir o útil ao agradável.
E nesse meu exercício nobre, aprendi que minha palavra era uma das
coisas mais valiosas que eu tinha para dar ao mundo e a mim mesma. Sem
palavra eu só tinha vergonha, desilusão, abandono, solidão, desrespeito,
estresse e falsidade, e com a palavra eu tinha, alem de honra,
respeito, valorização, admiração, confiança e credito (até de dinheiro
mesmo). Escolhi o orgulho da integridade e me senti tão bem que nunca
mais pensei em regredir.
Resolvi dar mais valor ao que dizia nos mínimos detalhes… passei a
falar mais atenta as palavras que saiam de mim, respeitando tudo que
vinha de mim por menor que fosse, ate quando a minha mãe dizia… Isso
minha filha se Deus quiser vai dar tudo certo… dai eu revidava na hora….
Se Deus quiser não mãe, Deus QUER sim! E vai dar tudo certo!!!. Ela
sorria e dizia surpresa, “nossa Lygya isso é só uma maneira de falar, você exagera com esse negócio de verdade!”
Pode me chamar de exagerada mais se acredito que tudo que
concentramos nossa mente a gente tem o poder de manifestar como é que eu
vou pensar automaticamente que SE Deus quiser…eu vou conseguir isso e
aquilo? Quem foi que inventou essa frase? O padre? O padeiro? Comigo
não! Eu acredito que Deus QUER, e a gente tem que fazer nossa parte
ajudando a manifestar as coisas que queremos, dai sim o negocio anda, é
um trabalho de equipe entende? Nós mesmos, o Universo/Deus, os anjos, os
amigos, e os conhecidos, aliás, até os desconhecidos às vezes fazem
mais pela gente do que os conhecidos, não é verdade? Todo mundo quer que
as coisas acontecem para melhor, o negócio é acreditar, confiar e lavar
o barco com determinação.
Pois é… ai vai minha sugestão para quem esta lendo esse artigo, se
você se der ao luxo de se honrar você ira definitivamente honrar sua
palavra e sua palavra vai lhe honrar, você saberá quando dizer sim ou
não com certeza, você irá ser um tesouro de confiança para si mesma/o e
para os outros também. Depois de muitos anos usando minha palavra de
honra, lhe afirmo que guardo dentro de mim um dos sentimentos mais
nobres que um ser humano possa sentir… o sentimento de um imenso amor
próprio preenchido por minha certeza de que estou em harmonia com o que
penso, com o que sinto, com o que faço assim como o que digo.
Me amo muito mais assim, falando a verdade custe o que custar, dê no que der e vier.
Com a verdade das minhas palavras já salvei e mudei vidas pra melhor,
já injetei esperanças em corações partidos, já salvei casamentos e já
ajudei a suplantar problemas que pareciam irremediáveis, valeu a pena
mudar pra melhor, não resta duvida de que é preciso ter coragem para se
falar com integridade total, principalmente na cultura que vivemos… mais
depois que a gente se habitua a ser íntegro com diplomacia, duvido
muito que se queira regredir e limitar a capacidade de contribuir,
honrar e melhorar, para voltar a viver na mediocridade de mentir para se
sentir amado/a e evitar conflitos, como eu fazia.
E você? Já mentiu alguma vez conscientemente ou inconscientemente ou
das duas maneiras? Você sabe de alguma mentirinha daquelas que só rindo
pra não chorar? Se souber, manda pra gente dividir, eu gosto de rir…
Sua na liberdade da verdade.
*Lygya Maya é coach, escritora e palestrante. Desenvolveu sua carreira nos Estados Unidos, onde atuou na companhia do mestre em motivação Anthony Robbins. É autora do e-book Ame as Emoções que Você Odeia (2008), disponível em www.lygyamaya.com.br.
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