Diante do fechamento de escolas por causa do novo
coronavírus, instituições de ensino e estudantes precisaram se adaptar ao
ensino online. E uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de
Educação a Distância (ABED) sobre as atividades remotas na
educação durante a pandemia mostra que essa adaptação não tem sido fácil. De
acordo com o levantamento, 67% dos alunos se queixam de dificuldades em
estabelecer e organizar uma rotina diária de estudos.
O levantamento, feito entre agosto e setembro
com 5.580 estudantes, professores, pais e/ou
responsáveis e dirigentes de instituições de ensino públicas e privadas do
País, mostra que 60,5% dos estudantes participam de quase todas as atividades
do gênero oferecidas pela escola, mas 72,6% consideram que o estudo remoto é
pior na comparação com as aulas presenciais. A opinião é compartilhada por
parte dos pais e responsáveis, com 51,5% afirmando que essa forma de ensino é
pior.
Os estudantes
também relatam outros problemas no formato, como sobrecarga e saudade da rotina
escolar. Para 82,6% dos alunos, a falta do contato presencial com amigos afeta
os estudos e a aprendizagem. Para 58,3% deles, a escola manda muitos materiais
e eles relatam que não estão dando conta de estudar.
Aluna do ensino médio de rede pública estudual, Izabelly Correia de Oliveira, de 16 anos, participou da pesquisa. Ela disse que teve crises de ansiedade no início de março com o fechamento das escolas. "Recorri aos cursos online e pré-vestibular para manter os estudos,tive apoio da minha família e de professores para não desistir", conta.
Para ela, a maior
dificuldade em relação às aulas remotas está em manter a concentração. "O
mais difícil é entender quando é momento de assistir a aula e não fazer outra
coisa. Tentar organizar minha rotina de estudos e também não dispersar durante
as atividades. Além disso, lamento que muitos colegas não tenham computador.
Alguns conseguiram receber fascículos impressos com conteúdos das aulas para
fazer as atividades. Foi uma adaptação para todos nós", descreveu a
estudante.
Ainda no que se
refere às atividades remotas, 29,2% dos estudantes entrevistados disseram ter
dificuldade em conexão com a internet, por causa do sinal das operadoras. Para
10,8% deles, não ter dispositivo próprio e precisar compartilhá-lo com outros
integrantes da casa afeta o estudo e a aprendizagem durante o período da
pandemia. Já em relação ao acesso à internet, 63,5% responderam ter banda larga
ilimitada e 25,8% utilizam de terceiros.
"Não cabe mais
o estudante não ter acesso à internet, assim como professores. Devemos defender
o acesso de boa qualidade e de preço acessível para todos, principalmente nas
faixas mais vulneráveis", afirma George Catunda, diretor da ABED e
coordenador da pesquisa.
Dos professores que
realizaram atividades remotas com alunos, 57,8% relataram dificuldade em
conexão com a internet, por causa do sinal de operadoras, 32,3% responderam ter
dificuldade em conexão por causa do limite de dados e 39,3% assinalaram falta
de familiaridade com as ferramentas digitais.
Dos dirigentes
entrevistados, 92,1% dizem que as escolas nas quais atuam realizam atividades
remotas regulares. Segundo eles, das instituições que adotaram alguma
estratégia para atender os estudantes sem acesso à internet, 62,1% afirmam que
disponibilizaram materiais impressos a serem retirados pelos estudantes ou
responsáveis, já 19,7% disseram que os alunos que não têm acesso à internet não
receberam material para estudar.
Desafios do ensino remoto
Quando questionados
sobre seu papel, 94,8% dos educadores consideram que é importante interagir
virtualmente com os estudantes a fim de manter o processo de ensino e
aprendizagem.
"O grande
desafio no momento é o engajamento. É preciso desenvolver ações que ampliem o
envolvimento dos estudantes. Mesmo com dificuldades, os professores mostraram
disposição para se reinventar, o que também é algo muito importante",
avaliou o diretor da ABED e coordenador da pesquisa.
Conhecer o dia a
dia dos professores, dos estudantes e de toda comunidade escolar foi essencial
para alinhar ações e desenvolver a educação em tempos de pandemia.
"Lidamos com situações de estudantes que têm bom acesso de internet e
muitos ainda com acesso limitado ou mesmo sem acesso. No começo, fiquei
apreensiva em como atingir e garantir que todos tivessem aprendizado
nivelado", disse a professora de ensino técnico Anna Rayanne Lins de
Moraes, de 30 anos, graduada em Arquitetura e Urbanismo que participou da
pesquisa.
Dentro de cada
realidade, professores foram criando métodos e usando a criatividade para
ensinar de forma remota. "Procurei oferecer vários canais de redes sociais
para me comunicar com meus estudantes. Disponibilizamos tablets da escola para
alunos que tinham acesso à internet. Até fiz memes para chamar a atenção para
as aulas", contou Anna.
Anna conta que
também desenhava para os alunos durante lives da aula de Design de Interiores
nas rede sociais. "Espero ainda que até o fim do ano, os alunos mais
distantes também demonstrem interesse", disse a professora, que por fazer
parte do grupo de risco da covid-19, manterá aulas remotas mesmo quando o
ensino presencial for retomado.
Retomada das aulas presenciais
O estudo mostra
ainda que 68,1% dos alunos só querem retomar às aulas presenciais quando tiver
uma vacina disponível, avaliação semelhante a de pais/responsáveis (66%) e
professores (68,11%). Dos estudantes entrevistados, 33% disseram ainda que
moram com pessoas do grupo de risco.
Apesar de admitir
não estar segura por causa da covid-19, a estudante Isabelly disse que está
ansiosa para o retorno às aulas presenciais. "Sinto muita falta dos meus
amigos, não tenho nem palavras para descrever. Não é fácil ter aulas apenas
online. Já é difícil entender algo em sala de aula, imagina virtualmente",
diz.
"Não
cabe mais o estudante não ter acesso à internet, assim como professores.
Devemos defender o acesso de boa qualidade e de preço acessível para todos,
principalmente nas faixas mais vulneráveis", afirma George Catunda, diretor
da ABED e coordenador da pesquisa.
Dos professores que
realizaram atividades remotas com alunos, 57,8% relataram dificuldade em
conexão com a internet, por causa do sinal de operadoras, 32,3% responderam ter
dificuldade em conexão por causa do limite de dados e 39,3% assinalaram falta
de familiaridade com as ferramentas digitais.
Dos dirigentes
entrevistados, 92,1% dizem que as escolas nas quais atuam realizam atividades
remotas regulares. Segundo eles, das instituições que adotaram alguma estratégia
para atender os estudantes sem acesso à internet, 62,1% afirmam que
disponibilizaram materiais impressos a serem retirados pelos estudantes ou
responsáveis, já 19,7% disseram que os alunos que não têm acesso à internet não
receberam material para estudar.
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