Estudantes do ensino médio não terão mais livros didáticos exclusivos de cada disciplina a partir do ano que vem, e haverá uma fusão por áreas de conhecimento, seguindo as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular do Novo Ensino Médio.
História, geografia, sociologia e filosofia foram diluídas dentro de um único livro didático, de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a exemplo de química, física e biologia, que agora fazem parte de Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
Português, literatura e matemática foram os que menos sofreram alterações em suas bases curriculares, e são as disciplinas consideradas obrigatórias.
O Novo Ensino Médio, aprovado pelo Congresso no governo Temer, traz a proposta de olhar para o ensino de maneira menos fragmentada. Contudo, no que tange à elaboração dos livros didáticos, a diluição dos conteúdos pode causar, segundo alguns especialistas, prejuízo na formação dos alunos.
“Como é que os alunos vão pensar em conhecer o mundo com apenas duas disciplinas obrigatórias e as demais tão fragilizadas que não são nem mesmo mencionadas como disciplinas?”, questionou Mônica Ribeiro, doutora em educação e coordenadora do Observatório do Ensino Médio.
Segundo Ribeiro, a Lei de Reforma do Ensino Médio enfraqueceu disciplinas de Ciências Humanas e da Natureza, e o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2021 serve como um mecanismo de indução dessa política educacional.
O PNLD de 2021 conta com cinco fases. A primeira escolhe os Projetos Integradores e de Vida, que tem como objetivo firmar a aprendizagem por meio da interdisciplinaridade e da ampliação da capacidade de inovação.
A escolha dos materiais didáticos dessa fase se encerrou na última semana de março e chega às escolas no segundo semestre de 2021.
Na segunda, chamada de Objeto 2, que ocorre em agosto deste ano, as escolas devem escolher os livros didáticos por área de conhecimento.
No PNLD de 2018, a grade curricular do ensino médio contava com, pelo menos, 30 livros para os três anos, um livro de cada disciplina por ano.
Agora, os alunos terão 24 livros para todo o ensino médio.
A cada semestre, os estudantes receberão um material de cada área do conhecimento, totalizando oito livros por ano. Mesmo com a redução dos materiais e com a integração curricular, João Marcelo Borges, pesquisador em educação e ex-diretor de Estratégia Política do Todos Pela Educação, avaliou que os conteúdos não irão desaparecer.
“A tradução das áreas de conhecimento para livros faz com o material didático de cada disciplina deixe de existir, mas isso não significa que os conteúdos não serão ensinados. Eles serão passados para os alunos de maneira interdisciplinar.”
A Lei da Reforma do Ensino Médio e o PNLD 2021 foram aprovados ainda na gestão Temer. Contudo, o Ministério da Educação atual é quem define as políticas pedagógicas, podendo influenciar na compra de obras pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Em março deste ano, foi nomeada para coordenação-geral de Materiais Didáticos, a professora Sandra Ramos, aliada ao movimento Escola Sem Partido e que acumula críticas à base curricular por motivos religiosos.
Metrópoles
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