Uma educação antirracista é construída por meio de representatividade, rompimento com o silenciamento sobre o racismo, discriminação racial e preconceito, conhecimento, reflexão e ação. Por sua vez, a escola é compreendida como um espaço de reprodução, mas, ao mesmo tempo, um lugar privilegiado de enfrentamento ao racismo.
Esse conceito ganhou ainda mais evidência na realidade educacional brasileira com a Lei 10.639, que incluiu no currículo oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da temática história e cultura afro-brasileira.
Conhecer autoras e autores negros que abordam a educação e, de forma específica, a perspectiva antirracista, é fundamental para se aprofundar nas nuances do racismo à brasileira. Por meio de escritos e reflexões, esses intelectuais problematizam as raízes e impactos da discriminação racial e, por vezes, apresentam propostas de superação, com vistas à equidade social. Confira, abaixo, alguns nomes e obras para se aprofundar no debate.

Kabengele Munanga
O antropólogo Kabengele Munanga nasceu na República Democrática do Congo, em 1942. Fez doutorado na USP (Universidade de São Paulo) por conta de uma bolsa de estudos. Em virtude da situação política de seu país, estabeleceu residência no Brasil e passou a pesquisar sobre antropologia da África e da população Afro-brasileira, identidade, democracia racial, branqueamento e negritude no país. Por muito tempo, esteve vinculado à USP, mas hoje atua como professor visitante sênior da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia). Entre os mais de 150 textos escritos, o pesquisador dedicou pesquisas à educação antirracista.
Organizada por Kabengele Munanga, a obra “Superando o Racismo na Escola”, de 2005, é um dos destaques de sua bibliografia. O livro reúne vozes de 11 professores e especialistas em educação acerca da ideologia racista, persistência de estereótipos dentro do ambiente escolar e formas de enfrentamento a esse problema.

Petronilha Beatriz Gonçalves
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva ficou conhecida por ter participado do processo de regulamentação da alteração da Lei 9394/96, que culminou na Lei 10.639/03. Na ocasião, ela foi relatora do Parecer Nº 003/2004, que versou sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.
Professora emérita da UFScar (Universidade Federal de São Carlos), a pesquisadora já foi conselheira da Fundação Cultural Palmares, do Conselho Nacional de Políticas de Igualdade Racial, e da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. Também foi congratulada com o Prêmio Luiza Mahin, da Prefeitura Municipal de São Paulo, em reconhecimento por sua atuação em prol das mulheres negras.
Entre os 13 livros escritos e/ou organizados por Petronilha, um dos destaques é “Entre Brasil e África: construindo conhecimento e militância”, de 2011. A obra é marcada por um diálogo de saberes entre vivência em movimentos sociais e a produção acadêmica, e contribui para compreender como se formou a identidade militante-pesquisadora da intelectual.

Nilma Lino Gomes
Pedagoga, mestra e doutora em ciências sociais, na área de concentração de Antropologia Social, Nilma Lino Gomes dedica grande parte de sua carreira acadêmica aos estudos e pesquisas sobre educação antirracista, formação de professores para a diversidade étnico-racial, movimentos sociais, relações raciais, diversidade cultural e de gênero. Além de produções acadêmicas, ela também escreve obras de ficção para o público infanto-juvenil.
Foi a primeira mulher negra a ocupar o cargo de reitora de uma universidade federal no Brasil. Com várias honrarias e premiações, a professora titular emérita da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) também foi ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos.
Entre várias obras de destaque, pode-se mencionar os livros “Práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-raciais na escola na perspectiva da lei 10.639/03”, de 2013 (artigo disponível neste link) e “O Movimento Negro Educador”, de 2017.

Eliane dos Santos Cavalleiro
Formada em letras, mestra e doutora em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Eliane Cavalleiro desenvolveu diferentes estudos sobre educação antirracista. A docente da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília) atuou como coordenadora geral de diversidade e inclusão educacional da Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade) do Ministério da Educação e também foi consultora Unesco, responsável por uma investigação sobre discriminação, pluralismo e diversidade no ambiente escolar.
Uma das principais obras da intelectual é “Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil”, publicada em 2000, reconhecida por abordar o impacto do silenciamento do racismo na escola e, em especial, entre as crianças de até 5 anos e 11 meses, a exemplo das desigualdades na distribuição de carinho de docentes para crianças brancas e pretas.

Cida Bento
Maria Aparecida Silva Bento (Cida Bento) é psicóloga e possui doutorado em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP. Conhecida por suas pesquisas sobre ações afirmativas, identidade étnica, discriminação no trabalho, preconceito e gestão de pessoas, uma das obras mais conhecidas da pesquisadora é “Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil”, de 2002. A obra foi redigida em parceria com Iray Carone e analisou os efeitos psicológicos do branqueamento, da branquitude e do racismo no processo de construção da identidade negra.
Atualmente, Cida é diretora-executiva do CEERT (Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades). A organização defende os direitos da população negra e implementa programas de equidade racial e de gênero em instituições públicas e privadas, além de atuar com ações e estudos sobre educação antirracista.
Obs: devido direitos autorais não conseguimos reproduzir as fotos com perfeição.
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