A volta dos carros populares está na mira do governo Lula. No entanto, esta não será uma tarefa fácil. O setor automotivo se recupera dos impactos causados pela pandemia, com desafios em relação à produção, peças e queda na demanda por automóveis, que chegou a provocar a paralisação de montadoras.
Atualmente, os carros 0 km mais baratos no mercado ficam entre R$ 70 e R$ 80 mil. Dois veículos disputam o posto de mais em conta, sendo eles o Fiat Mobi Like e o Renault Kwid, ambos com preços sugeridos, pelas respectivas montadoras, de R$ 68.990.
Em abril, a pauta do retorno do carro popular foi levada ao Ministério do Desenvolvimento (Mdic) pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e, nas últimas semanas, vem sendo citada pelo presidente Lula.
Neste cenário, em discurso em Brasília, o presidente afirmou que irá “fazer carros a preços mais compatíveis e aumentar as prestações”.
Ao longo de seu segundo mandato, entre 2007 e 2010, Lula reduziu impostos para carros e, com inflação e juros favoráveis, muitos brasileiros tiveram acesso ao primeiro carro zero pagando prestações ao longo de seis anos.
Metalúrgicos recorrem à Lula
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMBAC) e a subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) entregaram ao presidente Lula um estudo que aponta as possíveis soluções para viabilizar opções por cerca de R$ 50 mil.
“O estudo detalha o setor automotivo e traz diretrizes e propostas do nosso Sindicato que, na nossa avaliação, melhoram substancialmente o setor, preservando e gerando empregos”, explicou o presidente do Sindicato, Moisés Selerges.
“Agora é necessário que a taxa básica de juros baixe para que haja acesso a financiamentos mais baratos. O Banco Central tem que ter responsabilidade com os empregos e os trabalhadores, essa é uma de suas finalidades. É abusivo e inaceitável o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manter a taxa em 13,75% ao ano”, afirmou.
Os sindicalistas englobam no estudo caminhões, ônibus e automóveis. Confira algumas das propostas voltadas para os carros:
- Promover o lançamento imediato de modelos “populares”, com linhas de crédito de longo prazo;
- Incentivar a produção de veículos que considerem grau de nacionalização e quantidade mínima de etapas do processo de fabricação no país;
- Ampliar o programa de estímulo à renovação das frotas de táxis;
- Constituir programa especial de estímulo à renovação dos automóveis operando em aplicativos de transporte;
- Transição do mix de veículos rumo à descarbonização ao longo dos próximos 12 anos;
- Revisar alíquotas de importação de veículos elétricos alinhada à existência de projetos de fabricação nacional.
O que está previsto para a volta do carro popular
O retorno do carro popular pode não ser como muitos imaginam, visto que se fala sobre a criação de um “carro verde”, focado em sustentabilidade.
Sendo assim, está em discussão o lançamento de carros com preços entre R$ 50 e R$ 60 mil, movidos apenas a etanol e com os mesmos motores 1.0 utilizados atualmente, contudo, com maior desempenho e melhoria no consumo.
Além disso, com maior apelo ambiental, há como costurar uma forma de tributação exclusiva, que atenda as demanda do novo arcabouço fiscal.
Indústria automotiva
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou o seu relatório mensal sobre a indústria automotiva brasileira.
E os números apontam para quedas de dois dígitos na produção e nas vendas de automóveis em abril na comparação com março.
A produção de carros, picapes, utilitários esportivos, vans comerciais, caminhões e ônibus despencou 19,4% entre março e abril. Na mesma toada, vendas de veículos novos tombaram 19,2%, segundo os dados da associação.
Na comparação anual, a produção também apresentou queda — esta de 4%. As vendas, enquanto isso, subiram 9,2%; os emplacamentos somaram 160,7 mil no mês.
Para os fabricantes, o desempenho fraco do setor tem um culpado: o ambiente de juros elevados que pressiona a demanda por carros novos. Além disso, a antecipação de compra de caminhões e ônibus no final do ano passado e fornecimento de componentes ainda não foi estabilizado.
Com a demanda custando a tracionar, diversas montadoras optaram por paralisar os pátios de produção, a fim de controlar custos e restabelecer o equilíbrio de mercado.
Para o consumidor, essa estratégia significa lidar com preços mais elevados até mesmo em veículos de entrada.
* Com Jorge Fofano
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