A PUC-Campinas, universidade do interior de São Paulo, suspendeu na sexta-feira (19) um docente acusado de fazer em sala de aula um comentário em que banaliza o estupro. Geraldo Gonçalves Júnior, professor de administração da instituição, teria dito aos estudantes em uma aula do dia 12 de maio que, durante um eventual ato de violência sexual, se "inevitável", a vítima deveria "relaxar e gozar".
"Se o estupro é inevitável, relaxa e goza", teria dito o docente, de forma comparativa, enquanto debatia com os alunos compromissos que os universitários são obrigados a cumprir, de acordo com o relato de estudantes ouvidos pelo Estadão. Na ocasião, ele estava ministrando uma aula da disciplina de administração estratégica para turma do 2.º ano do curso de relações internacionais.
"Os alunos estavam conversando com o docente sobre um projeto educacional, [e ele] comparou a obrigatoriedade do projeto ao estupro [inevitável]. E aí proferiu a fala", disse uma estudante que estava presente na sala e não quis se identificar. Ainda segundo ela, o comentário "causou um choque em todos", porque foi dito sem relação direta com o assunto que estava sendo discutido.
A fala causou indignação entre os discentes, que chegaram a se levantar e se retirar da sala. O caso foi levado para o centro acadêmico do curso, o Cari XXVI de Setembro, que se manifestou com uma carta de repúdio pública e um pedido de sindicância investigativa sobre o docente. A Atlética do Centro de Administração, Ciências Econômicas, Contábeis e Relações Internacionais (Faceca) da universidade também repudiou a frase do professor.
Durante a semana, a PUC-Campinas já tinha se manifestado sobre o episódio e dito que repudiava "qualquer tipo de alusão ao estupro". Nesta sexta (19), em novo comunicado, a universidade informou o afastamento do docente e abriu uma sindicância para investigar o episódio.
"A PUC-Campinas informa que afastou o docente responsável por comentários alusivos ao estupro. A instituição também abriu uma sindicância para apurar os fatos e tomar as medidas cabíveis. A universidade ressalta que repudia qualquer tipo de alusão ao estupro que possa amenizar ou incentivar esse tipo de crime", escreveu a universidade.
A reportagem não conseguiu localizar Geraldo Gonçalves Júnior. Mas, de acordo com relatos dos estudantes, ele teria pedido desculpas à turma na última quinta-feira (18) e dito, ao lado da diretora do curso, que não tinha a intenção de ofender os alunos e que se arrependia da fala.
O professor é acusado também de ter dito a mesma frase anos atrás, em uma aula online dada durante a pandemia de Covid-19. Em um vídeo obtido pelo Estadão, Gonçalves Júnior faz o mesmo comentário: "Se o estupro é inevitável, relaxa e goza". Após a fala, Geraldo riu por alguns segundos.
No site da PUC-Campinas, Gonçalves Júnior ainda consta na lista de docentes do curso de relações internacionais. Nas informações do portal, ele é professor da entidade há oito anos e sete meses. E é professor do curso de administração, mas ministra algumas aulas de relações internacionais por serem cursos do mesmo polo.
Neste sábado (20), o Centro Acadêmico de Relações Internacionais anunciou a criação de uma comissão para acompanhar o caso. "Depois que nós divulgamos a nota, também estamos mantendo essa comissão de forma permanente para acompanhar o caso e continuar a pressão para demonstrar que, como alunos, achamos injustificável deixar passar impune que uma pessoa assim possa estar lecionando", disse Pedro Afonso, presidente do centro acadêmico.
MSN
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