Consulta pública será utilizada para a produção de um guia oficial com orientações sobre o uso de tecnologias digitais por crianças e adolescentes
Diversos estudos têm alertado sobre os perigos do uso excessivo e inadequado de dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes, inclusive no ambiente escolar. Com evidências apontando para uma piora da saúde mental e de outros aspectos de desenvolvimento, a situação já tem sido tratada como uma preocupação de saúde pública.
Diante dessas e outras questões, uma iniciativa envolvendo vários órgãos do governo federal lançou uma consulta pública para a elaboração de um guia oficial com orientações sobre o tema. A intenção do governo é ouvir especialistas, profissionais da educação, mães, pais, organizações da sociedade e todos(as) que se interessam pelo assunto.
As contribuições devem ser enviadas até o dia 23 de novembro por meio da plataforma Participa + Brasil. Para participar, basta se conectar na página e, em seguida, enviar o comentário nas perguntas que deseja opinar.
A consulta apresenta oito perguntas e uma delas é específica sobre o uso das tecnologias eletrônicas no ambiente escolar. O texto questiona “como o uso das telas digitais (como celulares, computadores e tablets) impacta o ambiente de aprendizado em sala de aula, tanto em termos de desafios quanto em benefícios”.
Na mesma questão podem ser apresentadas sugestões em relação a orientações de uso de telas nos processos de ensino e aprendizagem.
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Plataformização
Uma das expectativas do governo é de que a consulta e o guia contribuam para a tomada de decisões das escolas sobre o uso pedagógico dos dispositivos eletrônicos, considerando riscos, benefícios e desafios para a utilização da tecnologia de forma saudável e positiva.
“A gente precisa conseguir nas escolas públicas, em especial, que os professores se sintam capazes de entender qual a melhor forma de uso de tecnologia e passar isso para os alunos para que eles possam ter um uso saudável”, disse a diretora de Apoio à Gestão Educacional do MEC, Anita Stefani, durante o evento de lançamento da iniciativa.
Embora não possua caráter normativo, o instrumento tem o potencial de subsidiar a elaboração de políticas públicas a partir de sugestões, relatos, evidências científicas e dados como os revelados pela pesquisa inédita, Plataformização da Educação, encomendada pela APP-Sindicato.
Segundo o estudo, realizado pelo Instituto IPO, para 83% dos(as) professores(as) da rede estadual do Paraná, as plataformas digitais não melhoraram o aprendizado dos(as) estudantes. Além disso, mais de 70% dos(as) docentes ouvidos(as) relataram adoecimento em decorrência da imposição e pressão da gestão estadual pelo uso dos aplicativos.
A APP defende que o uso das tecnologias não seja uma imposição, mas adotado de forma complementar a uma educação baseada em interação humana. No manifesto “Educação humanizadora em tempos de tecnologias digitais”, o Sindicato critica a centralidade nas plataformas no lugar do ensino-aprendizagem, a violação da privacidade da comunidade escolar, a exclusão de estudantes, a mercantilização da educação e a falta de autonomia de educadores(as) para trabalharem os conteúdos.
Tendência global
O posicionamento da APP se mostra alinhado com os apontamentos recentes da comunidade científica e também com decisões de outros países que registraram resultados negativos, após estratégias de digitalização das salas de aula.
A Suécia, por exemplo, suspendeu seu plano de digitalização do ambiente de ensino e voltou a investir em livros. “Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”, concluiu a ministra da Educação da Suécia, Lotta Edholm.
No Reino Unido, o governo decidiu banir o uso de smartphones nas escolas em todo país, durante o período de aulas, incluindo nos intervalos. A medida pretende reduzir o índice de cyberbullying, além de garantir uma maior atenção dos(as) estudantes durante as aulas.
O relatório da Unesco, “Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, também manifesta preocupação sobre o uso intensivo de plataformas e dispositivos tecnológicos na educação e na aprendizagem dos(as) estudantes.
O documento destaca que “há poucas evidências robustas do valor agregado da tecnologia digital na educação” e que “boa parte das evidências são produzidas pelos que estão tentando vendê-las”.
Urgência
Nos dados elencados pela consulta lançada pelo do governo brasileiro, embora exista o reconhecimento sobre a importância das tecnologias digitais, vários estudos evidenciam que a discussão é urgente.
Artigos científicos, por exemplo, apontam que o uso excessivo de telas e redes sociais por crianças e adolescentes pode estar associado ao aumento das taxas de ansiedade, depressão, suicídio e autolesão não suicida, além de outros problemas como distúrbios de atenção, atrasos no desenvolvimento cognitivo e da linguagem, miopia, sobrepeso e problemas de sono.
Dados da última pesquisa TIC Kids Online, do Comitê Gestor da Internet ] , mostram que em 2022, 92% da população com idade entre 9 e 17 anos era usuária de Internet no país, sendo o celular o dispositivo mais usado por elas. A pesquisa ainda indicou que 86% dos usuários de 9 a 17 anos e 96% para os usuários de 15 a 17 anos possuíam ao menos um perfil em redes sociais.
Segundo pesquisa da Eletronics Hub, o Brasil só perde para as Filipinas em tempo de uso de tela e, de acordo com levantamento DataReportal – Digital 2023: Brazil, os(as) brasileiros passam em média 9h por dia usando a internet.
Com informação appsindicato.org.br
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