Emily Hand teve que correr de casa em casa, forçada pelo Hamas enquanto as forças israelenses atacavam Gaza, disse seu pai, Thomas Hand, à CNN.
“Isso é assustador. Sendo puxada, arrastada, empurrada, provavelmente sob tiros”, disse ele na terça-feira (28).
Esses são alguns dos detalhes que a filha vai lentamente compartilhando sobre o que aconteceu depois de ter sido raptada no dia 7 de outubro e levada para Gaza, um lugar que ela agora chama de “a caixa”.
“Ela está se abrindo lentamente, pouco a pouco”, disse Hand. “Só saberemos o que ela realmente passou quando ela se abrir”, disse ele à CNN. “Eu quero saber muitas informações, mas temos que deixá-la, quando estiver pronta, ela dirá”.
Emily, que completou 9 anos em cativeiro, foi mantida presa com sua amiga Hila Rotem-Shoshani e a mãe de Hila, Raaya, antes de as crianças serem libertadas no último sábado (25).
Raaya cuidou de Hila e Emily como se as duas fossem suas filhas, contou o pai da menina. Hila foi separada da mãe duas noites antes das meninas serem libertadas – uma violação dos acordos feitos entre o Hamas e Israel – foi “mais um passo de crueldade”, disse ele.
Da morte ao cativeiro e à esperança
Emily estava dormindo na casa de Hila quando terroristas do Hamas invadiram o kibutz Be’eri. Hand ficou preso na casa por horas, sem conseguir notÃcias da filha, enquanto a comunidade era devastada – cerca de 130 moradores foram mortos e outros capturados.
Cerca de dois dias depois, os lÃderes do kibutz disseram à ele que o corpo de Emily havia sido visto. Ele relembrou o momento à CNN: “Eles apenas disseram: ‘Encontramos Emily. Ela está morta’. E eu disse, ‘Sim!’ Eu disse, ‘Sim!’ e sorri porque essa é a melhor notÃcia das possibilidades que eu conhecia… Então a morte foi uma benção, uma benção absoluta”.
Mas quase um mês depois, o exército israelense disse que era “altamente provável” que Emily estivesse viva e fosse refém do Hamas. Hand explicou que os militares estavam reunindo informações de inteligência. Nenhum dos restos mortais no kibutz Be’eri foi identificado como sendo de Emily. Não havia sangue na casa onde ela dormia. E os celulares pertencentes à famÃlia de Hila foram rastreados até Gaza.
Após sentir que a morte seria uma benção, ele agora tinha todo o medo das condições em que Emily estava presa. “O desconhecido é terrÃvel. A espera é horrÃvel”, disse ele à CNN. Apesar diso, também havia alguma esperança.
Comemoração com vÃdeo da Beyoncé e cachorro da famÃlia
Oito semanas depois de ter visto a filha pela última vez, Hand foi informado de que Emily estava na lista do segundo grupo de reféns a ser libertado sob a trégua temporária entre Israel e o Hamas.
Ele tentou conter a entusiasmo ao chegar à base para onde os reféns libertados estavam sendo levados. Houve um longo atraso e então a notÃcia de que ela estava com a Cruz Vermelha.
“De repente, a porta se abriu e ela simplesmente correu. Foi lindo, exatamente como eu imaginava, corrermos juntos”, recordou Hand. “Provavelmente a apertei com muita força”, acrescentou ele, dando sua visão do agora icônico vÃdeo do reencontro, onde ele cumprimenta sua filha com o apelido “Emush”.
“Foi só quando ela deu um passo para trás que pude ver que seu rosto estava magro, como o meu, enquanto antes era rechonchudo, de garotinha, o rosto de uma criança”.
Assim como os outros reféns, Emily perdeu peso e Hand disse que nunca a tinha visto tão pálida. E ele ficou chocado quando ela falou com ele.
“A parte mais chocante e perturbadora de encontrá-la foi que ela estava apenas sussurrando, você não conseguia ouvi-la. Tive que colocar meu ouvido perto de seus lábios”, disse ele. “Ela foi condicionada a não fazer barulho”.
Uma fotografia de pai e filha divulgada pelas Forças de Defesa de Israel mostra um vislumbre da situação.
“Você podia ver o terror com olhos vidrados”, disse Hand.
Mas ele também viu um sinal da criança que conhecia quando a entregou seu celular na van após o encontro. “A primeira coisa que ela fez foi colocar uma música da Beyoncé”, disse ele, acrescentando que ela também estava sorrindo e começando a rir de novo.
Ele levou o cachorro da famÃlia, Johnsie, para o reencontro para oferecer e receber amor incondicional caso Emily estivesse com raiva dele por não ter ido resgatá-la – um medo que ele mantém desde que soube que ela estava viva. Mas Emily disse ao pai que achava que ele também tinha sido feito refém.
E quando ele perguntou há quanto tempo ela achava que tinha sido sequestrada, ela respondeu “um ano”. “Além dos sussurros, isso foi um soco no estômago. Um ano”.
Privação, mas agora recuperação
Os reféns tinham comida suficiente para sobreviver e muita água para beber, disse Hand. “Eles sempre tomavam café da manhã, à s vezes almoçavam, à s vezes comiam alguma coisa à noite”. Emily estava com tanta fome que aprendeu a gostar de comer pão com azeite.
Ela disse “ninguém bateu na gente” e Hand imagina que só a força das vozes foi suficiente para controlá-la. As crianças não podiam fazer barulho e pouco podiam fazer além de desenhar e brincar com alguns baralhos.
O pai está muito grato por Emily ter ficado com Hila e Raaya a maior parte do tempo, obtendo consolo em saber que Emily tinha alguém para cuidar dela.
Emily perdeu a mãe para o câncer quando tinha apenas 2 anos. E Hand teve que contar a ela que sua “segunda mãe” foi morta em 7 de outubro. Narkis Hand era a ex-esposa de Hand e mãe dos dois meio-irmãos de Emily. “Isso foi muito difÃcil. Nós contamos a ela e seus olhinhos ficaram vidrados e ela respirou fundo”, disse ele.
Junto com sua tristeza, sua pele pálida e rosto encovado, Emily voltou com a cabeça cheia de piolhos, disse Hand. Mas ela está voltando lentamente. Ela tenta esticar os dias com a famÃlia, mas quando finalmente vai para a cama, dorme de verdade.
E ela não desligou. “Ontem à noite ela chorou até ficar com o rosto vermelho e manchado, ela não conseguia parar. Ela não queria nenhum conforto, acho que ela se esqueceu de como é ser consolada”, disse Hand. “Ela foi para debaixo das cobertas da cama, da colcha, se cobriu e chorou baixinho”.
Ela não queria ser tocada, então Hand apenas esperou até que ela estivesse pronta. “Ela é uma menina muito determinada, muito forte, eu sabia que o espÃrito dela a ajudaria a superar isso”.
Emily e Hila agora cuidam uma da outra, disse Hand. Eles celebraram o 13º aniversário de Hila com um bolo no hospital na segunda-feira (27) e um bolo também foi trazido para Emily, no 9º aniversário que ela completou em Gaza.
O foco de Thomas agora está dividido. Ele precisa que Emily fique bem. E ele fará tudo o que puder para trazer Raya de volta para casa e todos os outros reféns também. Ele espera que o apoio que sentiu enquanto Emily estava desaparecida continue forte.
“Temos que trazer Raaya de volta para Hila, de volta para Emily, de volta para justiça”, disse ele. “Não se calem sobre nós agora”, ele implorou ao mundo. “Traga-os para casa, traga-os para casa”.
CNN
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