O governo federal quer retomar a cobrança do DPVAT, o seguro obrigatório de veículos que deixou de ser pago em 2020. O dinheiro para indenizar brasileiros que sofrem acidentes de trânsito está acabando.
O esforço é dobrado. Nos aparelhos da fisioterapia, o mecânico Helder de Oliveira Filho trabalha para recuperar o movimento da perna que quebrou em um acidente de moto em setembro de 2023. Pelo celular, o mecânico tenta receber o dinheiro do seguro obrigatório, o DPVAT.
“Já entreguei tudo que pedia: ocorrência da polícia, laudos médicos... Já mandei tudo, mesmo assim, não consegue terminar de acessar o aplicativo”, conta.
Helder fez duas cirurgias. Está de licença do trabalho e o dinheiro do seguro ajudaria a pagar algumas contas.
“Ia ajudar a comprar algum medicamento se precisasse, alguma coisa. Ia ajudar sim, com certeza”, afirma.
Um recurso que está se esgotando. A última vez que os donos de veículos pagaram o DPVAT foi em 2020. Depois, o Conselho Nacional de Seguros Privados, vinculado ao Ministério da Fazenda, suspendeu a cobrança e, desde 2021, a gestão do saldo do seguro obrigatório passou da seguradora Líder para a Caixa Econômica Federal.
O banco informou que de 2021 a 2023 pagou 797 mil pedidos de indenização, totalizando pouco mais de R$ 3 bilhões. Restam no fundo quase R$ 790 milhões. Segundo a Caixa Econômica, o suficiente para pagar as indenizações de acidentes ocorridos apenas até 14 de novembro de 2023. Há um mês e meio, as vítimas estão sem cobertura.
O seguro obrigatório era pago por todos os brasileiros donos de um veículo. Existe para indenizar as vítimas de acidentes de trânsito, incluindo pedestres, não importa de quem foi a culpa. O DPVAT paga despesas médicas e indenizações em caso de invalidez permanente e morte. Mas diferentemente de um seguro privado, não cobre bens materiais. Agora, o governo federal quer voltar com a cobrança para garantir a continuidade da cobertura.
Um projeto de lei complementar foi enviado ao Congresso em regime de urgência. O plano é votar o texto que reformula o DPVAT na volta do recesso, em fevereiro. O relator explica que os detalhes serão definidos na regulamentação, mas a proposta é deixar a gestão dos recursos nas mãos da Caixa Econômica Federal e transferir para o SUS parte das despesas com tratamentos médicos que hoje são financiadas pelo DPVAT.
“O fato de você transferir para a Caixa e ao mesmo tempo transferir para o SUS o tratamento isso barateia o DPVAT. Então, o DPVAT futuro, após a aprovação dessa nova cobrança, ele vai ser bem menor do que o que era cobrado antigamente”, diz o deputado Carlos Zarattini, PT-SP.
Carlos Queiroz, diretor da Superintendência de Seguros Privados, órgão responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguros, elogia a gestão dos recursos pela Caixa e defende a volta da cobrança.
“A Caixa Econômica Federal emprestou uma expertise interessante e tem fluido muito bem a sua experiência. O nosso entendimento é de que é necessário que surja um novo modelo para dar continuidade a essa política de amparo às vítimas de acidentes de trânsito, aos seus beneficiários”, afirma Carlos Queiroz, diretor na Susep.
Sobre a dificuldade do Helder em requerer a indenização do DPVAT, a Caixa Econômica Federal declarou que está tentando contato com ele para ajudá-lo, e que ele tem até três anos para concluir o pedido.
G1
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