De cada 100 concluintes do ensino médio, apenas 7 aprenderam o que seria esperado em matemática, de acordo com os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) me convidaram recentemente
para falar sobre o futuro da universidade no Brasil. Na oportunidade,
comecei dizendo que só vamos alcançar um futuro promissor para o ensino
superior em nosso país quando formos capazes de resolver o problema da
qualidade da nossa educação básica. Isso implica, entre outras coisas,
que as universidades precisarão colocar este nível educacional na sua
apertada agenda de prioridades.
Nossos jovens estão ingressando no ensino superior com muitos déficits de aprendizagens que impactam fortemente a própria qualidade do ensino nas universidades. Basta ver os atuais índices de reprovação e de abandono. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que de cada 100 ingressantes no ensino superior, 59 desistem. Outro dado preocupante desta mesma fonte: dos que ingressam nos cursos de Pedagogia, 50% não alcançam sequer 450 pontos no Enem. O que isso significa? Que esses estudantes não receberiam o certificado de conclusão do ensino médio com tal pontuação, mas mesmo assim estão entrando na universidade. E eles supostamente serão os futuros professores de nossas crianças.
Outro exemplo alarmante: de cada 100 concluintes do ensino médio, apenas 7 aprenderam o que seria esperado em matemática, de acordo com os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021. Um desastre que virou rotina nos últimos 20 anos, já que não se vê uma ação concreta e estruturante para reverter esse quadro.
Mesmo de onde poderíamos extrair algum sopro de
esperança, as chamadas escolas de referência de ensino médio em tempo
integral (EMTI) daqui de nosso estado, tão cantadas em verso e prosa por
todo o Brasil, em várias delas os alunos concluem o ensino médio com
menos de 7% de aprendizado adequado em matemática. E, ainda assim, são
chamadas de escolas de referência. Se você, leitor, tem dúvidas, basta
consultar o Portal QEdu.org.br. Os dados são de 2019, para não dizer que
isso se deve ao efeito da pandemia.
Na semana que passou, em São Paulo, a B3 Social promoveu um encontro para debater esse grave problema da aprendizagem da matemática no Brasil. Na oportunidade, uma pesquisa da Fundação Itaú Social, tomando como referência uma metodologia francesa, revelou o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) da baixa aprendizagem da matemática no Brasil.
Por sua vez, o Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (IEDE) fez uma análise comparada dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2022 do Brasil com os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nas três disciplinas avaliadas: leitura, ciências e matemática. Estamos ruins em todas as três, mas a situação da matemática é ainda pior.
Considerando apenas os alunos de mais alto nível
socioeconômico (NSE), o percentual em países da OCDE de estudantes com
aprendizado adequado em matemática é de 64%, enquanto no Brasil é de
26%. Para os alunos de mais baixo NSE, o percentual da OCDE é de 20%,
mas no Brasil é de apenas 3%.
Fica claro que precisamos fazer algo - e urgentemente -
para reverter esse desastroso quadro da aprendizagem da matemática no
Brasil. O que fazer será objeto do próximo artigo.
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