O Ministério da Educação (MEC) pretende anunciar em breve um conjunto de medidas para valorizar a carreira de professor da rede pública de ensino básico. É uma iniciativa acertada. Outrora profissão valorizada, o magistério foi se tornando atividade pouco atraente para os melhores alunos. Com isso, faltam profissionais em salas de aula com formação adequada — licenciatura ou bacharelado na área em que lecionam, com complementação pedagógica. Em São Paulo, professores sem essa qualificação ministram 63% das aulas em Física e 52% em Sociologia, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira ( Inep), do MEC. No Rio, 45% e 49%, respectivamente. Na média do país, 22% dos professores de Português, 30% de Matemática e 46% de Física não têm formação específica.
Norte e Nordeste são as regiões em que a falta de professores formados é mais grave. No artigo “Carências de professores na educação básica: risco de apagão?", os pesquisadores Alvana Bof, Luiz Caseiro e Fabiano Mundim, do Inep, revelam que no Acre mais da metade das aulas são dadas por professores sem formação em 12 de 14 disciplinas analisadas. No Maranhão, isso ocorre em dez disciplinas. No Tocantins e Amazonas, em sete. “Não é exagero dizer que já estamos vivenciando um apagão de professores com formação adequada em vários componentes curriculares”, diz estudo do Inep sobre tema.
A intenção do MEC é atrair para o magistério os mais bem colocados no exame do Enem. Não será fácil. O ministro Camilo Santana deseja criar na Educação uma espécie de programa Mais Médicos, com oferta de vantagens para despertar o interesse pela profissão de professor. “Vamos dar uma bolsa a mais para aqueles que queiram ir para determinada região onde há menos profissionais”, diz. O MEC não poderá esquecer os grandes centros, em que também foi constatada escassez de professores formados.
O baixo poder de atração da profissão também faz com que haja vagas ociosas em faculdades voltadas à formação de professores. Apenas 30% dos que cursam licenciatura dão aulas depois de formados. Entre as medidas formuladas no MEC há um programa para que o aspirante a professor, além da bolsa de estudos, consiga formar poupança. Para quem trabalha em sala de aula, haverá facilidades para compra de imóveis, livros e computadores.
Hoje, apenas 3% das questões das provas de concursos públicos para contratar professores avaliam a capacidade dos candidatos de ensinar, de acordo com levantamento do Todos pela Educação em 23 estados e 19 capitais. E apenas quatro redes estaduais e cinco municipais aplicam provas práticas na seleção. O pacote de medidas em estudo inclui a criação de uma prova nacional para aspirantes a professor. Faz mais sentido criar um exame de qualidade do que aperfeiçoar a seleção em mais de 5 mil municípios e 27 estados. O governo federal precisará do apoio deles para o projeto ter sucesso.
O Globo
0 Comentários