Professora transforma educação com método alemão

Um método simples que promete alfabetizar com rapidez: esse é o princípio do IntraAct, desenvolvido na Alemanha em meados dos anos 1990 e trazido ao Brasil por uma professora da rede pública de Altta Floresta, no norte de Mato Grosso, em 2021.

Baseado na neurociência cognitiva, que estuda como o cérebro aprende e processa informações, o sistema organiza as letras em blocos e prioriza a facilidade da pronúncia em vez da ordem alfabética.




Queremos oportunizar um menor tempo de alfabetização, principalmente às crianças que não são o público da educação especial

 

Inicialmente, ele foi criado para auxiliar crianças com dislexia, TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) e autismo.

  

Irene Duarte, 64, é professora há mais de 40 anos e viu no método uma maneira de facilitar a alfabetização em turmas regulares. Decidiu testá-lo numa sala com cerca de 30 alunos, incluindo um indígena que não falava português e outro com deficiência intelectual. Em quatro meses, todos aprenderam a ler.


 notícia correu a cidade e, em 2022, Duarte foi nomeada diretora do programa Alfabetiza Alta Floresta pela Secretaria Municipal de Educação. O material foi adotado em todas as escolas municipais. Naquele momento, apenas 35% das crianças até o final do 2º ano estavam alfabetizadas.

  

Ao fim do ano letivo, 73% dos alunos do 1º ano e 83% dos do 2º ano já liam com fluência, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação. Hoje, a taxa beira os 90% nas turmas.

 

Em setembro de 2024, a cidade recebeu o Selo Ouro de Compromisso Nacional com a Alfabetização, certificação do MEC (Ministério da Educação) concedida a municípios que se destacam no cumprimento das metas do programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que visa a alfabetização de todas as crianças até os 8 anos e a recuperação de aprendizagem das mais velhas.

  

Desde então, o modelo tem sido replicado em outras escolas pelo país. Neste ano, o governo de Santa Catarina anunciou um piloto em 73 escolas públicas do estado, em diferentes municípios. O investimento no projeto é de R$ 875 mil.

 

O estado, que apresenta o menor índice de analfabetismo do Brasil, de acordo com o último Censo (2022), espera ampliar o progresso na educação com a nova metodologia, segundo a secretária adjunta estadual da Educação, Patrícia Lueders.

 

A seleção das escolas considerou os índices de repetência e evasão, além do histórico de alunos com dificuldades de aprendizado.

  

"Queremos oportunizar um menor tempo de alfabetização, principalmente às crianças que não são o público da educação especial, mas enfrentam barreiras para aprender", diz.

 

O método também é aplicado para alfabetizar jovens, adultos e imigrantes. Em Joaçaba, no interior de Santa Catarina, o sistema foi usado para ensinar português a 35 crianças estrangeiras de Haiti, Venezuela, Paraguai e Japão. Já Paranaíta (MT), na região de Alta Floresta, incluiu o método em programas de alfabetização para idosos.

 

O material utiliza fichas com quadros. No início, cada um apresenta uma única letra, acompanhada de cores que se repetem para reforçar a memorização. Para ajudar na concentração durante a leitura, as crianças utilizam um papel com uma abertura no centro, chamado "padrão", que direciona o olhar durante a leitura.

 

Com o avanço do aprendizado, os quadros passam a combinar diferentes letras, formando sílabas e, depois, palavras. Só mais tarde o ensino avança para a interpretação de frases e textos. Esse processo dura, em média, quatro meses.

 

Duarte explica que as crianças dominam o primeiro grupo de letras em menos de um mês. Caso algum aluno apresente dificuldades após esse período, a escola começa a investigar possíveis causas do bloqueio.

 

 "Em Alta Floresta, descobrimos casos de violência doméstica, emocional, estupro, fome, pobreza e outros traumas. O cérebro está pronto para aprender. Se isso não ocorre, é porque tem algo acontecendo. E rapidamente observamos isso", afirma.

 

Ela destaca a importância de criar uma rede de apoio com assistentes sociais, médicos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. "É preciso criar uma política pública de alfabetização. Nenhum método faz milagre se não houver essa preocupação em monitorar e construir estratégias eficazes", conta.


Com informação Mídia News

 


Postar um comentário

0 Comentários