O que exatamente nós comemoramos na Quinta-feira Santa?
Na Quinta-feira Santa, primeiro dia de nosso Tríduo Pascal, já tendo encerrado o Tempo da Quaresma nas vésperas deste dia, a Igreja celebra a solene liturgia da Ceia do Senhor (in Cena Domini). Nesta noite, Cristo Jesus, reunido com seus Apóstolos, celebra a Páscoa judaica e inaugura a Nova e Eterna Páscoa, através da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio.
Essa liturgia já aparece consolidada pelo século V, em Jerusalém, como uma memória da ação do Senhor antes da ceia figurada no lava-pés, realizado até hoje. Na verdade, o rito de lava-pés iniciou-se como uma liturgia separada da Santa Missa, mas foi incorporada a ela aos poucos.
Entenda o que é o Tríduo Pascal em sua totalidade.
Narrativa Bíblica da Quinta-feira Santa
São João narra, de modo poético e teológico, a ação litúrgica que ocorre na Ceia do Senhor. Do capítulo 13 ao 17 há uma unidade, com discursos de despedida de Jesus, além da ação solene do lava-pés, que Cristo realiza nesta noite. Após a entrada de Jesus em Jerusalém, montado em um jumentinho e sendo aclamado com ramos e hosanas, Jesus, antes da festa da Páscoa, sabendo que chegava hora de passar deste mundo ao Pai, “depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o fim.” 1
Antes de mais nada, Jesus levanta-se e lava os pés de cada um dos discípulos, e ordena:
“Se eu, que sou o mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Eu vos dei o exemplo para que façais o que eu fiz” 2.
Jesus, como modelo de entrega, pede para que os discípulos façam como Ele fez. Bem sabemos que essa entrega não se dá somente no lavar os pés, no serviço da caridade e humildade — características essenciais da Igreja — mas na própria dimensão da oferta de vida do Apóstolos, até o sacrifício de si mesmos.
João prossegue com um discurso longo e cheio de significado, a fim de dar bases teológicas tanto para a Eucaristia e o Sacerdócio, bem como para a oferta na Cruz. O complemento desta noite é narrado nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), onde é descrito, detalhadamente, a instituição da Eucaristia.
“Enquanto ceavam, Jesus tomou o pão, pronunciou a bênção, o partiu e o deu a seus discípulos dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Tomando a taça, pronunciou a ação de graças e deu-a, dizendo: bebei todos dela, porque este é o meu sangue da aliança, que se derrama por todos para o perdão dos pecados.” 3
Os paralelos desta cena são descritos, de modo semelhante, em todos os Evangelhos 4. Além disso, esta noite está testemunhada, ainda, por São Paulo em sua carta aos Coríntios, datada de 56 d.C , tendo chegado até Ele, certamente, através da Tradição oral.
“Pois eu recebi do Senhor o que vos transmiti: O Senhor, na noite em que era entregue, tomou o pão, dando graças o partiu, e disse: Isto é o meu corpo que se entrega por vós. Fazei isto em memória de mim. Da mesma forma, depois de cear, tomou a taça e disse: Essa taça é a nova aliança selada com o meu sangue. Fazei isto cada vez que a bebeis, em memória de mim.” 5
Aprofunde-se no mistério da Eucaristia, o pulsar do coração de Cristo.
A liturgia da Quinta-feira Santa
A liturgia da Quinta-feira Santa possui a particularidade de, depois de toda Quaresma (com raríssimas exceções), trazer certa solenidade na ação litúrgica, pelo caráter que esta celebração possui. A liturgia inicia-se, de certa forma, solene e vibrante e vai, aos poucos, assumindo um tom mais introspectivo e sóbrio até o fim deste primeiro dia do Tríduo Pascal.
Cor litúrgica da Quinta-feira Santa
A cor litúrgica deste dia é o dourado/branco. Mesmo que estejamos dentro do Tríduo Pascal, na iminência da morte de Cristo, na Quinta-feira Santa celebra-se, solenemente, a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. Por isso, a Igreja se reveste de cores festivas e solenes. Neste dia, há flores, sinos; há solenidade e júbilo, com cantos mais festivos (até o momento do glória).
Canta-se o glória na Quinta-feira Santa?
Se tratando de um dia solene e festivo, por ocasião da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, canta-se o Glória (ordinariamente ausente em todo o tempo da Quaresma). Neste canto, tocam-se os sinos e sinetas, que ficarão silenciados até o canto do Glória da Vigília Pascal, no sábado à noite. Até o canto do Glória da Quinta-feira Santa, canta-se as músicas de forma jubilar e solene. A partir de então, deve-se buscar entoar os cantos de modo mais sóbrio, com os instrumentos sendo usados somente para sustentar o canto.
0 Comentários