Professora foi obrigada a assistir aula do Formadores em Ação enquanto consolava a família após velório do tio

 Exigência de 100% de presença feita pelo governo Ratinho Jr. causa constrangimentos aos(às) professores(as) da rede pública estadual

                    Professora foi obrigada a assistir aula do Formadores em Ação enquanto  consolava a família após velório do tio 

Após ter viralizado na internet a situação de um professor que foi obrigado a participar do Curso Formadores em Ação da cama de um hospital, a APP-Sindicato recebeu novas denúncias dessa forma de tratamento desumano do governo Ratinho Jr. em relação aos(às) educadores(as) da rede pública estadual. Um dos novos casos é o de uma professora de Maringá, que teve que assistir às aulas on-line enquanto se dedicava a consolar familiares após o sepultamento de um tio dela.

Patrícia Alves de Oliveira leciona Redação, Literatura e Língua Portuguesa no Instituto de Educação Estadual de Maringá. Depois de passar a madrugada anterior e o dia da primeira aula do curso Formadores em Ação providenciando o sepultamento do tio, ela teve que participar do encontro virtual mesmo estando esgotada e sem condições físicas e psicológicas, apenas para atender a exigência de 100% de presença. 

“Considero desrespeitosa a exigência de 100% de presença, pois assim como eu passei pela situação do luto, outros também podem passar por outros contextos complexos”, afirma Patrícia.

“Após o enterro, a família continuou reunida, na casa da minha a vó. Nesse dia trabalhei normalmente de manhã e à tarde fui a uma consulta médica. Depois que saí do médico, me dediquei a cozinhar e receber os familiares. Eu estava bem cansada, não tive pausa. À noite, no momento do curso, estava bem esgotada”, relata Patrícia.

Mesmo assim, ela foi obrigada a participar da aula. “Eu estava exausta e ainda tive que acompanhar a reunião, para evitar sofrer as sanções estabelecidas no novo formato do Formadores. Ela manifestou essa insatisfação durante a aula e recebeu a solidariedade dos(as) colegas.

Patrícia ainda tem esperança de que a exigência seja revista. “Todos os cursos têm a possibilidade de faltas. Ficamos sem entender e sem aceitar a imposição desta jornada de Formação. Espero que ainda seja alterada a situação, pois a vida é imprevisível”, diz.

Indignação

A situação de Patrícia indignou a professora Jane Fátima de Almeida, presidenta do Núcleo Sindical da APP em Guarapuava, que faz parte da mesma turma da colega que perdeu o tio na semana passada. “Eu acho o cúmulo da falta de respeito e de humanização para com os(as) professores(as). É uma prática abusiva, uma vez que somos obrigados a participar dos cursos, pois dependemos dele para a classificação na escolha de aulas no ano seguinte”, afirma a dirigente.

O “clima” na sala de aula on-line não foi dos melhores, segundo Jane, com alguém sendo obrigado a participar numa situação pessoal e familiar tão difícil. “Ficamos chocados. Eu, particularmente, achei muita falta de respeito com a dor do outro”, diz.

O problema é que o governo Ratinho Jr. exige 100% de presença nas aulas do Curso Formadores em Ação, necessário para que os professores possam avançar na carreira e também para a classificação na escola de aulas em 2026. Não são aceitos nem atestados médicos por doença, que têm amparo legal e devem ser respeitados.

“Não é apenas sobre o direito ao atestado, é sobre o respeito à dor do outro”, resume a dirigente. 

Jane contesta também a falta de opções para os cursos que os(as) professores(as) são obrigados(as) a fazer. Professora de Português, ela não conseguiu vaga em cursos de sua área. Acabou escolhendo o curso “Clima Escolar”, o único que se adequa aos horários disponíveis. “Somos obrigados a fazer um curso que nem na nossa área é, porque os cursos da nossa área ou não tinham mais vagas ou as vagas não batiam com nossas aulas e não podemos nos ausentar da sala pra isso”, explica.

Impossível não se indignar com a ironia de ser obrigada a fazer um curso sobre “Clima Escolar” num ambiente quando não há respeito pelos(as) educadores(as). “Temos um clima que desconsidera que somos seres humanos, cheios de sentimentos”, lamenta Jane. “Qualquer pessoa que está em uma escola da rede estadual sabe bem como anda o clima escolar”, completa.

A dirigente observa que o governo Ratinho Jr. cria o “mau clima” e em seguida oferece oficinas sobre como “melhorar o clima”. “O que precisamos não é de curso ou discurso, precisamos de práticas positivas, de políticas públicas que resolvam esses problemas e não que fiquem apenas nas dinâmicas de convivência, mas ofereça condições, salário digno, liberdade de cátedra”, afirma.

Desumano

A imagem de um professor da rede estadual do Paraná no leito de um hospital participando do curso Formadores em Ação, porque o governo Ratinho Júnior exige frequência de 100% e não aceita atestado médico, viralizou em aplicativos de mensagem nesta quarta-feira (21). O curso, ministrado à distância, é um dos únicos aceitos pelo governo para progressão na carreira e também é utilizado na classificação na distribuição anual de aulas. 

Comunicado distribuído aos(às) docentes destaca punições – Foto: divulgação

No dia 7 de maio, antes das aulas do curso iniciarem, a APP-Sindicato já havia se manifestado sobre a exigência e comunicou ter reivindicado à Secretaria da Educação (Seed) um pedido de alterações imediatas na Resolução 3.659/2024  – GS/SEED, onde constam as regras consideradas arbitrárias e punitivas. 

A primeira é de que conste uma previsão de frequência mínima proporcional à carga horária do curso. Que seja respeitado o atestado médico como justificativa e oferecida a possibilidade de reposição em tempo hábil, ao contrário da imposição de que seja dentro da mesma semana da aula em que houve a falta. Outra reivindicação é de que em caso do(a) professor(a) não poder concluir a turma, independente do motivo, ele(a) não fique proibido(a) de se inscrever na próxima turma.

Após a repercussão negativa, a Seed comunicou informalmente aos(às) professores(as) que estão fazendo o Formadores que está avaliando a alteração na exigência de 100% de presença, mas até o momento não houve mudança anunciada oficialmente.

APP Sindicato 

Postar um comentário

0 Comentários