Economistas defendem, em carta, a investigação conduzida pela relatora especial da ONU, Francesca Albanese, denunciando como grandes multinacionais estão envolvidas na ofensiva militar e na própria ocupação israelense dos territórios palestinos
Um grupo internacional de economistas divulgou uma carta aberta em apoio à relatora especial da ONU, Francesca Albanese, elogiando seu relatório intitulado “Da economia de ocupação à economia de genocídio”, divulgado em 2 de julho, que denuncia a cumplicidade de corporações multinacionais, especialmente do setor de tecnologia, com as ações de Israel não só em Gaza, mas em todo o território palestino ocupado.
Para os economistas, o documento de Albanese “constitui uma contribuição fundamental para a compreensão da economia política do Estado de Apartheid de Israel, da limpeza étnica dos palestinos e, agora, do seu genocídio”.
Os signatários criticam a tentativa dos governos dos Estados Unidos e de Israel de deslegitimar o trabalho da relatora e pressionar pela sua demissão, classificando essa reação como parte de uma “estratégia de intimidação que historicamente acompanha os crimes coloniais”. Eles denunciam ainda o silêncio ou a conivência da maioria dos governos europeus.
“Seguindo um caminho bem trilhado de negação do genocídio, exigem que a comunidade internacional feche os olhos para o papel fundamental que as corporações multinacionais e nacionais estão desempenhando na manutenção do regime de apartheid e permitindo o genocídio subsequente.”
Envolvimento das big techs
Um dos focos centrais da carta está na denúncia do envolvimento direto das big techs na ofensiva militar israelense. “Os territórios palestinos ocupados por Israel têm funcionado como o laboratório e campo de testes ideal para as Big Techs – uma função que a transição da ocupação para o genocídio apenas intensificou”, afirma o texto.
Os economistas acusam empresas como Microsoft, Amazon, Alphabet (Google) e Palantir de expandirem seus serviços em nuvem e testarem em Gaza tecnologias como reconhecimento facial, algoritmos de seleção de alvos e execução automatizada com menos restrições éticas do que em testes com animais.
Além disso, o grupo aponta que nenhum país concedeu tanto acesso aos dados biométricos de uma população quanto Israel à IBM, e que essas ferramentas digitais estão sendo aplicadas “em tempo real” contra os palestinos. “As Big Techs não poderiam estar mais felizes!”, ironizam os economistas, sugerindo que essas empresas lucram com a militarização e com a violência sistemática promovida pelo governo israelense.
Tecnologia como 'arma em todos os sentidos'
O relatório de Albanese detalha a ação das multinacionais de tecnologia junto ao governo israelense. "A Microsoft está ativa em Israel desde 1991, desenvolvendo seu maior centro fora dos EUA. Suas tecnologias estão incorporadas no serviço prisional, na polícia, nas universidades e nas escolas – inclusive nas colônias. Desde 2003, a Microsoft integrou seus sistemas e tecnologia civil nas forças armadas israelenses, ao mesmo tempo em que adquiriu startups israelenses de segurança cibernética e vigilância", pontua o documento.
"À medida que os sistemas de apartheid, militares e de controle populacional de Israel geram volumes crescentes de dados, sua dependência de armazenamento em nuvem e computação cresceu. Em 2021, Israel concedeu à Alphabet Inc. (Google) e à Amazon.com Inc. um contrato de US$ 1,2 bilhão (Projeto Nimbus) – financiado em grande parte por meio de despesas do Ministério da Defesa [99] – para fornecer infraestrutura tecnológica essencial", diz ainda o relatório.
Segundo a apuração da ONU, a Microsoft, a Alphabet e a Amazon concedem a Israel acesso praticamente a todo o governo às suas tecnologias de nuvem e IA, melhorando o processamento de dados, a tomada de decisões e as capacidades de vigilância/análise.
"Em outubro de 2023, quando a nuvem militar interna de Israel ficou sobrecarregada, a Microsoft Azure e o Project Nimbus Consortium intervieram com infraestrutura crítica de nuvem e IA. Seus servidores localizados em Israel garantem a soberania dos dados e um escudo contra a responsabilização, sob contratos favoráveis ??que oferecem restrições ou supervisão mínimas. Em julho de 2024, um coronel israelense descreveu a tecnologia de nuvem como 'uma arma em todos os sentidos da palavra', citando essas empresas."
Cumplicidade da academia
Em sua carta, os economistas alertam também sobre a cumplicidade de universidades ocidentais, especialmente dos EUA e Europa, com o financiamento da ocupação.
O relatório de Albanese destaca que instituições como o MIT, Universidade Técnica de Munique e Universidade de Edimburgo estariam financeiramente dependentes de seu vínculo com a economia política do conflito. "No MIT, os laboratórios conduzem pesquisas sobre armas e vigilância financiadas pelo Ministério da Defesa de Israel (IMOD) – o único exército estrangeiro que financia pesquisas do MIT", pontua o relatório de Albanese. "Projetos notáveis ??do IMOD incluem controle de enxames de drones – uma característica distinta do ataque israelense a Gaza desde outubro de 2023 – algoritmos de perseguição [299] e vigilância subaquática."
"Muitas universidades mantiveram laços com Israel, apesar da escalada pós-outubro de 2023. Um dos muitos exemplos britânicos, a Universidade de Edimburgo detém quase £ 25,5 milhões (US$ 31,72 milhões) (2,5% de sua dotação) em quatro gigantes da tecnologia – Alphabet, Amazon, Microsoft e IBM – centrais para o aparato de vigilância de Israel e a destruição contínua de Gaza. om investimentos diretos e indexados, ela está entre as instituições mais envolvidas financeiramente no Reino Unido", diz ainda a investigação da ONU.
“Os povos da Europa e da América têm o direito de saber que algumas de suas instituições acadêmicas mais queridas dependem financeiramente de ajudar Israel a reproduzir sua economia política de ocupação e genocídio”, afirmam os economistas. E concluem: “É agora que as pessoas de boa consciência precisam se posicionar”.
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