Pesquisas recentes indicam que a superfície da Lua pode ser menos estéril do que se imaginava. Ao longo de bilhões de anos, partículas minúsculas provenientes da atmosfera da Terra teriam se depositado no solo lunar, criando um reservatório potencial de substâncias essenciais para a permanência humana fora do planeta.
O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Rochester e publicado na revista Communications Earth & Environment. Os cientistas investigaram como íons atmosféricos terrestres conseguem escapar do planeta e alcançar a Lua, impulsionados pela interação entre o vento solar e o campo magnético da Terra.
De acordo com os autores, o campo magnético terrestre não apenas protege o planeta, como também pode atuar como um guia para partículas carregadas. Essas partículas seriam arrancadas da atmosfera superior pelo vento solar e canalizadas ao longo das linhas magnéticas, algumas das quais se estendem até a órbita lunar.
Como o campo magnético da Terra existe há bilhões de anos, esse processo teria ocorrido de forma lenta e contínua, permitindo que pequenas quantidades de material atmosférico se acumulassem no regolito lunar ao longo do tempo. Isso explicaria a presença de certos elementos em níveis superiores aos esperados apenas pela ação do vento solar.
Análises de amostras de solo trazidas pelas missões Apollo, na década de 1970, já haviam identificado substâncias voláteis como água, dióxido de carbono, nitrogênio, hélio e argônio. Parte desses compostos é atribuída ao vento solar, mas a concentração de nitrogênio, em especial, sempre chamou a atenção dos cientistas.
Em 2005, pesquisadores da Universidade de Tóquio sugeriram que parte desses voláteis poderia ter origem terrestre, mas acreditavam que isso só seria possível antes da formação do campo magnético da Terra. O novo estudo, no entanto, aponta que o mecanismo pode ser ainda mais eficiente no cenário atual, com um campo magnético forte e vento solar mais fraco.
Para chegar a essa conclusão, a equipe utilizou simulações computacionais avançadas, comparando uma Terra primitiva sem campo magnético a uma Terra moderna magnetizada. Os resultados mostraram que o transporte de partículas até a Lua ocorre de forma mais eficaz nas condições atuais, graças ao efeito de “funil” criado pelas linhas magnéticas.
Além de registrar a história da atmosfera terrestre, o solo lunar pode ter valor estratégico para o futuro da exploração espacial. A presença de água e nitrogênio, por exemplo, poderia reduzir a dependência de suprimentos enviados da Terra e facilitar a instalação de bases humanas permanentes, tornando a Lua não apenas um arquivo do passado planetário, mas também um apoio concreto para a presença humana no espaço.
MSN
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