Todo mundo já sabe
que os professores, em todo o país, ganham muito mal, apesar de serem os
profissionais mais importantes de uma sociedade. Todo mundo sabe que o único
profissional que no Japão não precisa se curvar diante do imperador é o
professor. Todo mundo já sabe que nossas escolas públicas não têm recursos ou
estão, muitas delas, em péssimo estado de conservação. Todo mundo já sabe de
tudo sobre os professores. O mais triste, é que todo mundo já sabe que nossos
políticos detestam os professores e o que eles significam: a lucidez do povo,
mas ninguém faz nada! O povo não luta pelos professores e/ou pelo ensino. O
povo luta contra aumento de passagem, pede o fim da corrupção e até diz que
luta em favor do ensino, mas na prática não faz nada! Provo isto porque nunca
vi alguém sair de sua casa, não sendo aluno ou professor, para ir a uma
manifestação, exigir que os professores tenham salários dignos e plenas
condições de trabalho.
Lamento muito no
que a profissão de professor se transformou. Para boa parte da sociedade,
professor, hoje, é profissão de pobre. Pais de classe média querem que seus
filhos sejam tudo na vida, menos professores, já que desejam um futuro de
conforto, prosperidade e realização para seus filhos, e entendem que isto será
impossível de se atingir sendo professores. Já os políticos, principalmente
prefeitos e governadores, consideram todos os professores “comunistas chatos”
que reclamam o tempo todo. No entanto, esquecem que sua limitada visão da
realidade (por só ficarem em gabinetes) e ilimitada ganância fizeram com que o
ensino não pudesse ser bom. Um povo instruído sabe que é preterido pela classe
política e não acreditaria em praticamente nada do que lhes é prometido em
tempos de eleição. Um povo instruído se negaria a votar em urnas eletrônicas
que só os TREs e o TSE consideram, no mundo inteiro, um processo seguro e
impossível de ser fraudado.
O Brasil vive numa
séria encruzilhada. Sabemos que nossa classe política está destruindo o que
falta do ensino público, já que desejam se perpetuar no poder. Um povo sem
instrução jamais entenderá o que é um embargo infringente e nem que os
principais nomes do Mensalão poderão escapar da cadeia. Já o “pobre miserável”,
quando levado à Justiça, é condenado em primeira instância e apodrece na cadeia
por não saber que têm direito a recorrer, por exemplo. Este pobre, nos tempos
de escola, nunca aprendeu nada sobre cidadania porque não tinha professor que o
ensinasse. Entendendo o que o nosso país precisa, temos a consciência de que
teremos que lutar sozinhos, sem os governos, que se mostram inimigos do povo e
não “pelo povo e para o povo”. A sociedade é que terá que se organizar para se
instruir, com o cuidado de que politiqueiros baratos não tentem se aproveitar
das iniciativas. Que é uma proposta utópica, eu sei. Mas não se idealiza um
país sem propostas utópicas, porque sempre desejamos o máximo, e não o meio
termo daquilo que é possível.
O que aconteceu no
Rio de Janeiro de professores, em legítima manifestação contra ditames insanos
do prefeito, serem espancados por tropas da Polícia Militar a mando de governos
com várias e sérias denúncias de corrupção e má gestão da coisa pública, foi um
exemplo de barbárie política e social sem precedentes em nossa história
recente. É curioso como governadores e prefeitos alegam que não há verba para
equipar escolas ou remunerar dignamente os professores, mas há verbas em
abundância para equipar forças de repressão policial e usar esta verba para
esmagar aqueles que de fato alicerçam uma nação. É assim que os governos
brasileiros entendem o ensino, como digno de ser espancado!
Em alguns estados e
municípios a evasão de professores públicos é imensa. Professores optam por
sobreviver e/ou não mais se frustrarem profissionalmente e ou desistem das
salas de aula ou migram para o ensino privado, que é inviável para a grande
parte da população. Não que o ensino privado seja excelente em seu todo, mas
ainda é uma possibilidade de melhoria de trabalho para aqueles que nele
ingressam. Devemos também entender que a opção de um modelo baseado em apenas
haver ensino de qualidade na rede privada tem consequências absurdamente sérias
para a estrutura social do país. É a perpetuação e a concentração do poder de
análise (e do próprio conhecimento formal) nas mãos de poucos, o que impede
qualquer alteração do status quo político, econômico e social
do país. É como manter uma escravidão camuflada, onde o pobre sem condições de
questionar, assim permanecerá por toda a vida. Assim, não se muda um país.
Eu não quero que
aconteça de ninguém desistir de ser professor. Eu quero é que todos sejam
professores. Uns serão professores de História, Geografia ou Matemática. Outros
serão de civismo ou “amor ao próximo”. Uns estudarão formalmente para exercer
seu ofício, outros viverão plenamente para aprender como exercer sua cidadania.
Todos seremos professores. E quando todos formos professores na vida, aí sim
teremos um grande país. Até lá, só temos uma piada ou um projeto, como queiram
chamar.
É óbvio que quem
deseja e pode alterar alguma coisa e ameaçar todo um projeto de poder, será
visto como uma ameaça. É óbvio que nossos dominantes políticos não querem que
professores atuem com qualidade e eficiência. É obvio que eles querem que todos
desistam. Para nossos governantes, a ordem que deveria ser dada é “Professores,
desistam dessa profissão!”. Para nós, que somos o povo, o pedido que
fazemos é “Professores, não desistam do país!”.
Por: Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De
formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por
necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e
sociológicos. Ama o questionamento.
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