“A
guerrilha na internet virou uma sucessão de bombas que explodem antes de
atingir o alvo. Porque cada grupo só consegue mesmo falar para si mesmo. É um
diálogo de surdos”
|
Por: Rudolfo Lago
|
Há
pouco mais de uma semana, avisei aos meus mais de mil amigos no Facebook que,
ali, eu não iria mais falar de política. É uma provocação que venho mantendo desde
então. Falo de telenovela, falo de história em quadrinhos, falo de desenho
animado. Mas de política, não falo, não. Alguns me apoiaram, outros me
criticaram, outros pediram meu retorno ao tema, outros entenderam qual era a
provocação.
Quando eu digo que
não falo de política, refiro-me à política eleitoral. Porque, dentro das atuais
regras não escritas das redes sociais, essa tornou-se a única política
possível. As redes sociais tornaram-se um campo de guerrilha
político-eleitoral. E, como já se disse, para vencer, na guerra vale tudo. Então, de cada trincheira,
o guerrilheiro de plantão distorce, omite, cria, inventa ou, simplesmente, mente
descaradamente.
De política, todos
nós falamos. Política, todos nós fazemos. É uma atividade intrínseca à vida em sociedade. Mas nem
toda política precisa necessariamente ter propósito eleitoral. Disso, não sabem
os guerrilheiros das redes sociais.
No caso do
jornalismo, mais do que direito , é dever se engajar a favor de
determinados temas, como a liberdade de expressão, a democracia, o respeito ao
próximo e o combate ao preconceito. Mas conferir ao exercício do jornalismo
qualquer propósito eleitoral é uma total desonestidade. Não existe jornalismo a
favor. Jornalismo a favor é propaganda. Mas também não existe jornalismo
contra. Jornalismo contra é jornalismo a favor de algo ou de alguém. Então,
igualmente é propaganda.
Jornalistas
governistas e oposicionistas são coisas tão inúteis quanto uma nota de três
reais. Tão desnecessários quanto uma Cibalena vencida. Nada acrescentam. São
totalmente dispensáveis, porque já se sabe de antemão o que eles escreverão
antes mesmo de começar a lê-los.
No campo da
guerrilha virtual nas redes sociais, porém, jornalistas que se comportam como
jornalistas tornam-se seres profundamente incômodos. Nenhum dos lados pode
atribuir credibilidade a eles – “e se amanhã ele critica um dos nossos, se
elogia um deles? Temos que pintá-lo como partidário também”. Pouco importa que
num momento você seja atacado por um dos lados e, no momento seguinte, seja
atacado pelo outro. Na internet, a leitura é eventual, compartilhada por
alguém, ali não há o hábito da leitura frequente que possa ajudar a consolidar
a impressão de equilíbrio de determinado escriba. É, assim, o campo ideal para
a desqualificação.
No atual momento, não
é com a atividade jornalística em si nem com a análise política que eu ganho a
vida. Escrevo eventualmente sobre política somente por achar que a experiência
de quase trinta anos nesse campo poderia ser de alguma serventia para outros. E
porque, para mim, esse tipo de observação das coisas tornou-se tão natural
quanto andar para frente. Forjei em mim ao longo do tempo essa condição de
procurar olhas as coisas com certa distância, desapaixonadamente. Uso a mesma
lente para tentar compreender até mesmo as ações das pessoas próximas. Para
entender as razões que as levam a determinados atos de egoísmo, de compaixão,
de maldade, de bondade, etc.
É uma postura que
serve também para entender que juízes podem até ter capa, mas não super-heróis.
Também não são super-vilões. Que cruzadas heroicas e redentoras só existem nos
livros de capa-e-espada. Que todo guerreiro do povo é, antes de mais nada,
guerreiro de si mesmo. E muitas vezes não é mais nada além disso. Que não há
nobreza absoluta, assim como não há maldade absoluta.
Se a intenção do
guerrilheiro é cooptar o outro, o jornalista que se comporta como jornalista
não cabe, se a sua intenção não é cooptar ninguém. Na prática, no entanto, a
guerrilha na internet virou uma sucessão de bombas que explodem antes de atingir
o alvo. Porque cada grupo só consegue mesmo falar para si mesmo. É um diálogo
de surdos. E, num diálogo de surdos, falar com bom senso acaba tendo a mesma
ineficácia que qualquer gritaria. Todos são surdos: ninguém vai escutar. Como
não tenho obrigação, como não ganho nada com isso, não falo mais de política
nas redes sociais.
Fonte:
Congresso em Foco
0 Comentários